Durante a adolescência, a vendedora Carolina Heras aprendeu uma lição valiosa sobre dinheiro com seus pais. O que ela não imaginava era que esse aprendizado seria a solução para conseguir pagar o tratamento do filho com Síndrome de Down.
Descoberta da Síndrome de Down
A gravidez de Carolina foi tranquila até o terceiro mês de gestação, quando durante uma exame de rotina chamado translucência nucal ela descobriu que seu bebê poderia ter down e problemas no coração. Foi só no parto que veio a confirmação. Henri nasceu com a síndrome e uma doença cardíaca.
Por conta disso, ele ficou internado por 20 dias. “A parte mais difícil foi sair com a bolsa do meu filho com todas as roupinhas, mas sem ele nos braços. Foi horrível”, lamentou a mãe de Henri.
Eles foram para casa vinte dias depois, mas Carolina não ficou nem um mês com seu bebê em casa e já teve que interná-lo novamente por conta de uma pneumonia. “Ele demorava uma hora e meia para mamar 40 ml de leite. Como não conseguia sugar e respirar direito por causa da cardiopatia, ele acabou aspirando leite para o pulmão e daí veio a doença”, explicou.
Tratamentos caros
Dessa vez Henri ficou 90 dias no hospital. Além de três pneumonias, ele passou por duas cirurgias no coração. Mas para ir para casa ele precisava passar por um tratamento com fonoaudiólogo para aprender a sugar o leite.
“Enviei os documentos ao convênio para solicitar um fono. Se passaram mais de 20 dias e nada de me responderem”, contou a mãe de Henri. “A médica me alertou que ele precisava do tratamento o mais rápido possível, pois precisava ir para casa, caso contrário, poderia contrair uma infecção no hospital”.
Carolina foi obrigada a contratar uma fono particular. “Ela avaliou o Henri e disse que ele precisaria de no mínimo 15 sessões de fono para aprender a mamar e ir para casa. Cada uma custava R$ 100. Eu estava desempregada e sem dinheiro”.
Ela pediu demissão logo depois que o filho nasceu, pois a empresa onde ela trabalhava não foi flexível nem compreensiva quando ela precisava sair para ver o filho na UTI.
Foi aí que Carolina se lembrou do que fazia em sua adolescência. “Quando eu queria fazer um passeio da escola, comprar uma roupa ou ir ao shopping com as minhas amigas, fazia brigadeiro e vendia no meu condomínio”, recordou. “Se eu conseguia vender para me divertir, poderia vender para pagar o tratamento do meu bebê”.
Venda de brigadeiro para pagar tratamento
Ela já participava de um grupo de mães no Facebook que tinham filhos com Síndrome de Down e decidiu divulgar de uma forma muito bonita a venda dos doces.
Ela fez um texto como se Henri estivesse narrando a própria história: “Mamãe e papai não tem esse dinheiro agora, por isso mamãe teve a ideia de fazer pra vender o que ela mais gosta de comer: BRI-GA-DEI-RO!”.
“Acho que o texto tocou tanto as pessoas, que em 12 horas eu arrecadei os R$ 1500 para as 15 sessões de fono do Henri”, contou Carol, que deu o nome ao negócio de “Brigadeiro do Bem”.
No dia seguinte, ela agradeceu e avisou às pessoas que já tinha conseguido o valor que precisava. Mas a publicação se espalhou tanto, que os pedidos não paravam de chegar. “Fiz brigadeiro de setembro de 2016 a fevereiro de 2017 sem parar e foi assim que consegui pagar o tratamento do Henri”.
Só de leite, ela gastava R$ 500 por mês. Somando a fisioterapeuta, a fonoaudióloga e o plano de saúde. ela tinha um gasto mensal de R$ 1.200.
“Agora a prefeitura fornece o leite para a gente e o gasto mensal caiu para R$ 700. A venda do brigadeiro continua cobrindo tudo”, contou a vendedora.
A forma como ela encontrou para pagar o tratamento do filho acabou sensibilizando as pessoas. “Nunca passou pela minha cabeça pedir dinheiro. Eu sabia que conseguiria porque todo mundo gosta de brigadeiro. Tinha certeza que meu doce ia tocar mais o coração dos outros do que se eu pedisse”.
Além de conquistar os clientes, o brigadeiro já tem um lugar especial no coração de Henri. “Eu não dou muito porque ele só tem dois anos, mas ele já experimentou e amou. Com certeza será seu doce preferido. Se hoje ele está bem, é porque meu brigadeiro fez sucesso e salvou a vida do meu filho”, finalizou.