Manias, cada um com a sua

Em se tratando de mania, cada louco tem a sua. E de médico e louco, todo mundo tem um pouco.  A partir dessas duas afirmações do senso comum, é impossível não fazer um silogismo: de acordo com os ditos, se mania é característica de louco, e todas as pessoas possuem uma pontada de insanidade, então todo mundo tem mania. Entende-se por mania todas as cismas e gostos esquisitos que possuímos sem algum motivo aparente e que nos levam – ou melhor, nos obrigam – a agir de maneira excêntrica. Decerto, nós todos temos idiossincrasias. Aquele hábito de que não consegue se livrar ou o costume de que se orgulha de ter. Algumas manias são ocultas, impossíveis de serem mostradas. Outras viram a nossa marca registrada. Mas a verdade é que, por mais que tentemos, não conseguimos evitá-las!

É difícil definir mania, porém, bem fácil de identificá-la. Elas chegam sem ser anunciadas. Quando nos damos conta, já se instalaram na mente e no corpo sem que tenhamos controle. E abrangem diversos tipos, desde um vício de linguagem, como uma pergunta no final de quase toda frase (o conhecido sabe?, né?, você tá me entendendo?), até hábitos irritantes, como a obrigação de consertar todos os quadros tortos de um ambiente, entre outras. Antes de prosseguirmos, atenção! Não se trata de transtorno obsessivo compulsivo (TOC), assunto, aliás, já abordado pelo Bolsa anteriormente. São apenas manias.

Em alguns casos, de tão absurdas, elas chegam a ser engraçadas. Para os outros, claro! O dono da mania, por sua vez, não vê nada de cômico nisso. Pelo contrário, a considera elemento integrante da sua personalidade. O problema é que há risco de a excentricidade virar motivo de piada ou mesmo de discussão, como no caso do estudante de direito Alessandro Guiné. Ele sustenta o estranho hábito de cheirar a comida antes de colocá-la na boca, não importando onde e com quem está. No entanto, em determinadas situações, tal gesto, sem a menor pretensão de ofender, pode ser mal-interpretado. “Fui jantar pela primeira vez na casa de uma namorada, a mãe dela tinha cozinhado especialmente pra mim e lá ia eu, cheirando a comida a cada garfada. Lógico que ela pensou que eu não estava gostando do aroma e ficou me olhando feio. Depois eu expliquei a situação e ficou tudo bem, mas não deixei de passar por louco”, relembra Alessandro, que não sabe como a mania começou, nem por que continua. Ele apenas não consegue viver sem.

Muitas pessoas vêem suas manias como atos ridículos, que executam sem ao menos perceberem. No entanto, como tudo em excesso é crítico, algumas delas precisam ser contidas. Até mesmo para zelar pela manutenção da vida social de seus portadores. A mania da jornalista Renata Prado apareceu em decorrência de um complexo com as melenas rebeldes, e se transformou em um costume incontrolável. “Eu tenho mania de arrancar cabelos. Fico passando a mão, mexendo e quando acho um daqueles mais “sarará”, eu arranco. Faço isso automaticamente, sem pensar. Quando me dou conta, já arranquei vários. Minha mãe e irmã vivem batendo na minha mão, porque isso não faz bem pro coro cabeludo, só que eu não consigo!”, protesta Renata.

Como ela, outros, apesar de não gostarem de sustentar a mania, simplesmente não conseguem se desvencilhar. Gente, como a estudante de direito Fernanda Maia, que sabe do teor insano de suas cismas e, ainda assim, encontram extrema dificuldade em se livrar delas. “Eu tenho uma mania ridícula. Toda vez que eu esbarro com a mão direita em alguém, tenho que fazer o mesmo com a outra, porque senão me dá agonia. Com o pé é a mesma coisa”, revela a estudante. Lendo assim, parece que a menina realmente não usufrui das suas faculdades mentais. Pelo contrário, o resto de suas manias, como as de muitos, é bem saudável. “Eu tenho mania de azul. Tudo o que vou comprar, pergunto se tem nessa cor. Não é por acaso que agora estou de tênis, calça jeans, blusa, celular e brinco, todos azuis”, conta Fernanda.

A publicitária Helena Cantoneira também está no clube das maníacas cotidianas leves. Inclusive, a dela, pode ser considerada como um excelente exercício de raciocínio. “Eu tenho mania de fazer combinações numéricas com placas de veículos na rua. Faço operações matemáticas com os ônibus que eu ando também. Inclusive, já entrei em um ônibus e lembrei que tinha andado nele por causa dos números”, comenta Helena. Vai entender…

Felizmente, há os vitoriosos. Aqueles que percebem a proporção – ou falta de cabimento – das suas manias e fazem um enorme esforço para superá-las. Maníaca de plantão, como ela mesma se denominou, a estudante de publicidade Luisa Araújo se empenhou em abolir pelo menos a mais esquisita, e ainda está em processo de extermínio de outras mais brandas. “Eu só conseguia entrar na cama por um lado. Isso quer dizer que, se estava deitada e via que meu computador tinha ficado ligado, saía da cama e desligava. A questão é que ele fica do lado oposto de onde eu tenho que entrar, então eu contornava a cama para deitar”, descreve Luisa, declarando-se curada. O segredo? Segundo ela, policiamento e reeducação.

Na maioria das vezes, é difícil entender de onde elas vêm e porque não se vão. Mania de dormir na mesma posição, de cantarolar enquanto dirige, de contar os passos na rua… Elas estão em toda parte! Podem até ser contagiosas ou se estenderem a outras pessoas. Talvez a senhora do Rock, Rita Lee, de tanto imaginar loucuras, tenha se inspirado nisso para compor a célebre melodia “Mania de você”. Acontece, como já deve ter ocorrido com a maioria de vocês, leitoras. A psicanalista Elizabeth Amaral acredita que muitas manias existem para dar sustentação a um certo desamparo. De acordo com ela, são redes que a gente cria inconscientemente para tapar os furos ou carências que temos. “Uma pessoa que dorme todos os dias do mesmo lado quer segurança. São formas de você se estruturar, tentativas de sustentar medos, vazios tédios. Tudo o que foge ao controle deve ser contido. Se for detectada, livre-se dela enquanto é tempo, assim que perceber”, recomenda a psicanalista. Como dizem por aí, se a mania pega…