MDNAH

por | jun 30, 2016 | Comportamento

G.B., 27 anos, que prefere não se identificar, loira, dos cabelos dignos de comercial de shampoo, lembra como se fosse hoje o que aconteceu no dia 26 de novembro do ano passado. Era uma manhã chuvosa em que o despertador não tocou. Atrasada para uma reunião de trabalho, levantou ligeiro e nem se deu conta de que sua cabeça estava mais leve. Cambaleou até o banheiro, onde o espelho, sem rodeios, revelou que ela havia ficado careca. Todos os fios dourados haviam misteriosamente desaparecido do couro, assim como suas sobrancelhas sumiram da margem da testa e até seu buço não estava mais lá – desta parte até que ela gostou. Procurou as madeixas no travesseiro, mas nem sinal. Procurou então cabeleireiros, dermatologistas, médicos pós-graduados em calvície, curandeiros de famosos e não obteve explicação razoável para o que tinha acontecido.

Amiga de uma amiga, G.B. narrou em detalhes todos seus passos no dia 25 de novembro de 2006, para encontrarmos uma pista do que havia provocado a queda dos cabelos. Era um sábado em que ela havia permanecido em casa, fazendo, comendo e bebendo o de sempre. A única atividade do dia: montar uma árvore de natal de 1,60m na sala de estar, enfeitando-a em seguida com bolas vermelhas e laços verdes.

Para eles, a maldição foi tal que o FBI abafou os casos e não se tem registro do que aconteceu

Isso me fez lembrar do caso de J. da S., que havia sido divulgado na internet. J. da S. pendurou mais de mil lâmpadas coloridas em pisca-pisca na varanda do seu apartamento quase dois meses antes do Natal. As lâmpadas piscaram em sete ritmos diferentes por mais de 45 noites e, logo na primeira, aconteceu o inusitado: J. começou a espirrar e não mais parou. Espirros inadiáveis, em uma velocidade superior a dez por minuto, que não davam trégua nem na hora da sesta. Como G.B., a neo-careca, J. procurou profissionais renomados para ajudá-lo, que, após exames de última geração, afirmaram em uníssono que os espirros não eram fruto de gripe, resfriado ou alergia e que a ciência não podia explicá-los.

Além de G.B. e J. da S., vários episódios inusitados pipocaram no país e, conforme noticiado, em todo o mundo: a chilena cujos olhos ficaram cor de abóbora, o australiano que passou a ter chulé no corpo inteiro e o caso do americano que encolheu três centímetros por dia. Inúmeros congressos reuniram profissionais da área de saúde, investigadores e chefes de Estado a fim de descobrir a causa dessas reações improváveis. Após longa análise, percebeu-se um único ponto comum entre as vítimas: a decoração de Natal, feita no dia anterior ao primeiro episódio de seus males.

Trata-se da Maldição da Decoração de Natal Antes da Hora (MDNAH), mais branda entre os que decoram para consumo próprio e devastadora nos casos de donos de salão de beleza, vitrinistas e administradores de shopping centers, que nos enfiam árvores de Natal goela abaixo com antecedência que ultrapassa os limites do razoável. Para eles, a maldição foi tal que o FBI abafou os casos e não se tem registro do que aconteceu. Por causa deles, a árvore de Natal da Lagoa só é inaugurada no dia primeiro de dezembro.

Repare bem: em dezembro, pelo menos por enquanto, os enfeites estão liberados. O problema fica para os ansiosos que acreditam que já é Natal em novembro ou ainda no final de outubro.

A boa notícia é que a maldição tem prazo de validade: dia 6 de janeiro do ano seguinte, Dia de Reis, quando a tradição manda que sejam desarmadas as árvores de Natal e guardados todos os sinos, gorros, guirlandas de pano, meias felpudas e outras cafonices. G.B. viu seu cabelo reaparecer, longo e dourado, no despertar do dia 7, assim como J. parou de espirrar imediatamente depois de guardar a última minilâmpada na caixa de papelão.

Envie essas palavras para todos os amigos, listas de discussão, imprima folhetos e distribua nas esquinas, deixe sobre mesas de bar e bancos de missa. E, por favor, de jeito nenhum, em hipótese alguma arme sua árvore antes de dezembro chegar. Depois reclamam que o ano passa depressa demais.