Bolsa de Mulher – Como surgiu a idéia de um personagem com as características da Radical Chic e por que ela tem esse nome?
Miguel Paiva – Radical Chic é um termo americano dos anos 60. Indicava a pessoa que tinha, ao mesmo tempo, bem-estar econômico e preocupações sociais. Adaptei a idéia para um personagem que se preocupa com os outros e com a própria felicidade ao mesmo tempo. Nasceu da idéia de fazer uma mulher ainda jovem, mas com alguma experiência, numa fase de grande transformação que é o período dos 30 anos.
BM – Você acha que a mulher brasileira se identifica com ela? Em quais aspectos?
MP – A mulher não só se identifica, como admira, mais no aspecto do que gostaria de ser do que realmente é, apesar de haver uma grande identificação do universo de problemas.
BM – A Radical Chic é o seu lado feminino? Você se inspirou em alguém para faze-la?
MP – Não me inspirei em ninguém especificamente, mas as mulheres que fazem parte da minha vida, intimamente ou não, influenciam muito. Não é meu lado feminino, e sim meu modo feminino de ver as coisas.
BM – Como é para um homem criar um personagem feminino? Dá pra sentir TPM?
MP – Homem também tem TPM, só que diluída e, principalmente, quando a mulher tem. Criar um personagem feminino é o resultado de respeito, admiração e vontade real de entender o mundo e a língua feminina.
BM – A rotina da Radical Chic reflete o dia-a-dia da mulher moderna ?
MP – Tento refletir o universo da mulher de 30 e poucos anos. Ser moderna ou não é uma questão relativa, principalmente hoje em dia.
BM – De onde veio a idéia de fazer o Gatão de Meia Idade?
MP – Depois de anos fazendo a Radical, achei que estava na hora de entrar no universo masculino, o meu universo.
BM – O Gatão é um personagem autobiográfico? Você tinha que idade quando o criou?
MP – Não é autobiográfico, apesar de passar pelo meu filtro e pelas minhas experiências, é claro. Tinha quarenta e poucos anos quando o criei.
BM – Você acha que o Gatão de Meia Idade e a Radical Chic fariam um bom par? Daria casamento?
MP – Jamais. Um é o inferno do outro.
BM – Seu último lançamento chama-se “Sentimento Masculino – Manual de Sobrevivência na Selva”. De onde partiu a idéia de escrever este livro?
MP – Partiu de uma necessidade pessoal de tentar entender minha própria alma masculina. Não estamos habituados a freqüentar esta selva, à primeira vista tão sombria e assustadora, que são nossos próprios sentimentos.
BM – É tão difícil ser homem a ponto de se precisar de um manual?
MP – Talvez seja difícil ser um homem diferente do padrão que herdamos como o convencional, o normal, o correto.
BM – O sentimento masculino é igual ao feminino? Quais as diferenças?
MP – A mulher encontra referências fortes internas, está mais habituada a viajar para dentro de si. As referências masculinas são todas externas. O poder, as conquistas, as realizações, os outros. Sentimentos estão sempre relacionados à performance.
BM – Sua última separação influenciou o livro de alguma forma?
MP – Como qualquer outro fato do tipo influenciaria. É mais um momento intenso na vida da gente.





