Motorista da vez

Antes, a discussão era o horário em que ele devia buscá-la. Depois, a conversa avançou para definir com o carro de quem iriam a determinado evento. E agora, com a Lei Seca, uma nova discussão de relacionamento, a famosa DR, se configurou: quem vai dirigir dessa vez? Além de aumentar a responsabilidade dos condutores, a nova regulamentação impôs uma nova tarefa para os casais administrarem. Os homens, que estão acostumados a se apresentar primeiro ao volante, passaram a ter que abdicar do comando em prol de um chopinho com os amigos.

A cena se torna cada vez mais corriqueira, principalmente nas madrugadas. Ela, de motorista, e ele no carona. E, como a maioria dos homens não gosta de ser co-piloto, eles não conseguem ficar sem dar um pitaco na direção. “Ele quase sempre morre do coração quando eu volto dirigindo”, diverte-se Maria Clara Azevedo ao contar que o namorado, Rafael Carneiro, não consegue confiar nela. “A gente só briga por causa disso. Sempre que eu dirijo rola um atrito. Ele nem liga muito para futebol, mas é muito ciumento com o carro.”

Casada com um motorista executivo profissional, Zaíra Portugal seria uma séria candidata a vítima de perturbação por parte do marido não fosse sua destreza. “Ele fala para todo mundo que eu dirijo muito bem, não poupa elogios. Mas, quando estamos juntos, e comigo ao volante, ele sempre dá alguns pitacos”, confidencia. Para ela, não passa de uma questão de experiência. “Ele fica sete dias por semana dirigindo, conhece sempre algumas vias alternativas e sabe se movimentar melhor pela cidade. Apesar de eu ter mais tempo de CNH que ele”, provoca.

Apesar dos atritos iniciais, a relação de confiança entre os casais tem se consolidado. “Ele prefere não beber para ir dirigindo, mas tem deixado que eu conduza em várias oportunidades. Quando é algum evento entre os amigos dele, já sou eu que dirijo, às vezes até dou carona aos outros amigos”, observa Maria Clara. Tudo é uma questão de combinar e se programar para ambos conseguirem curtir o programa sem pensar na hora de voltar. “Se ele decidiu beber, já me entrega a chave do carro. Mas, quando nenhum dos dois bebe, ainda é ele quem está ao volante. Sinto que fico mais à vontade no carona”, admite Zaíra.

A situação inversa vive Carla Lourenço. O marido, Márcio Gomes, é quem se sente mais à vontade do lado direito do câmbio. “Para ele era um pré-requisito encontrar alguém que dirigisse”, brinca. Com a Lei Seca, o casal já chegou a um consenso na hora de assumir o comando. “Quem dirige sou eu. Ele não gosta, fica muito nervoso, sua frio. É preferível sempre deixar que eu dirija”, revela. “A Lei Seca só o deixou mais confortável para não dirigir.”

Muitas soluções já foram pensadas. Alguns resolvem montar uma espécie de escala para definir quem leva o carro. Para outros, saber de quem é o evento pesa na decisão. “Quando é um evento dos amigos dele, eu sempre volto dirigindo e vice-versa”, diz Sabrina Borges. Ainda existem os que preferem definir de acordo com o estilo do compromisso. “A gente combina conforme o que nos parece melhor no dia. Depende do bairro, do estilo de festa. Quando tem churrasco ou aniversário, eu sempre prefiro não beber”, diz Maria Clara.

O importante é deixar tudo claramente organizado antes de sair de casa. “Ele costumava conduzir sempre. Quando percebia que já tinha passado o limite, fingia estar com sono só para não admitir que era melhor eu dirigir”, recorda-se Zaíra. “Hoje, com a Lei Seca, a gente já sai com tudo programado”, completa Maria Clara.