Entrar em um ônibus e ver uma mulher na direção vem se tornando cada vez mais comum nas grandes cidades. Se antes o banco do motorista era quase exclusivamente masculino, hoje vem ganhando o charme de mulheres como a paulistana Aline Clapis, de 28 anos.
“Eu comecei em 2011 porque é algo que eu acho bonito desde pequena. Via meu pai e irmão dirigindo e achava aquilo o máximo”, explica. “Fiquei quatro meses como cobradora e logo tirei a habilitação específica. Fiz o curso para dirigir transporte coletivo e não parei mais”, diz.
Aline já atuou em diversas linhas da cidade (em algumas, chegava a pegar cinco horas de congestionamento) e em todos os horários, inclusive na madrugada. De acordo com ela, trabalhar em um meio culturalmente masculino ainda significa lidar com bastante preconceito.
“Já ouvi muita gente dizer que volante é coisa de homem, que eu deveria estar em casa. No começo, ficava bastante chateada, mas já não me incomodo mais. Hoje eu finjo que não ouço e, quanto mais eles reclamam, mais bem-feito eu faço o meu trabalho”, ressalta.
Há alguns meses, Aline era a única mulher trabalhando na linha noturna, que contava com mais de 50 homens. Hoje, uma portaria da administração municipal determina que 30% do efetivo das prestadoras de serviço de ônibus de São Paulo deve ser feminino. “Agora eu também ajudo as mulheres que estão chegando e as que querem entrar na profissão. É gratificante”, diz Aline.

Estresse no trânsito
A motorista admite que o trânsito da cidade é caótico e capaz de tirar qualquer um do sério, no entanto, ela dificilmente perde o bom humor. “A direção é o meu maior prazer, então eu não costumo me estressar muito, só quando está calor. O ônibus abafado deixa tudo mais complicado”, pondera.
Para manter o controle, Aline revela que criou uma técnica bem simples e quase intuitiva. “Quando você trabalha em uma linha direta, acaba conhecendo todos os passageiros e cria certa amizade. Aí as pessoas encostam do seu lado, contam os problemas, as alegrias. Você passa o caminho todo ouvindo histórias e dividindo as suas também. Quando vê, o trânsito já acabou”.
Hoje, grávida de cinco meses, Aline deixou o volante temporariamente e está trabalhando na parte interna, a garagem, como eles dizem. “Mas assim que ganhar meu bebê e terminar a licença, eu volto a dirigir”, finaliza.