Mulheres de bronze

As mulheres brasileiras conhecem muito pouco de sua história e com isto perdem a oportunidade de perceber que na conquista da autonomia do ser feminino, muitas mulheres ousaram ser originais e criativas diante dos obstáculos de sua época. Perceber a importância destas vidas femininas, é uma maneira de estimular na nossa imaginação e a criatividade na arte de estar viva e presente neste mundo.

Em Janeiro conheceremos as Mulheres de Bronze, mulheres que tiveram uma existência real, e que formam um conjunto composto por dez obras de arte, sete bustos e três estátuas, que revelam através de sua impassível existência monumental, o sentido da vida de cada uma destas mulheres. As Mulheres de Bronze compõem uma poética que articula a memória ao feminino, na medida em que se entrelaça à história do tecido urbano. Ao serem colocadas no espaço público elas se tornaram seres exemplares e cada vida bronzificada é um espírito fundador de uma ordem pública. Ao contrário das estátuas de deusas gregas, ou das virtudes públicas, que atribuem papéis socais nem sempre fáceis de cumprir para as mulheres; as mulheres de bronze tiveram uma existência real e revelam o reconhecimento dessas mulheres como indivíduos. Este reconhecimento só foi possível, de fato, no século XX. Se considerarmos todas as grandes cidades do mundo, veremos que as estátuas de mulheres são em número infinitamente menor do que as dos homens.

Ana Amélia – praça Ana Amélia no Castelo, onde foi construída sob sua direção a Casa do Estudante do Brasil. Ana Nery – praça Ana Nery, em frente ao Hospital da Cruz Vermelha, na Lapa, que a tomou como símbolo em suas campanhas assistenciais. Carmen Gomes e Vera Janacopoulos, cantoras líricas que se encontram na Praça Paris, cujo traçado é tributo à cultura erudita européia. Julia Lopes de Almeida e Chiquinha Gonzaga reinantes no Passeio Público, primeiro espaço no Rio de Janeiro, destinado aos vultos artísticos. Clarisse Índio do Brasil, primeiramente nos jardins da Glória e depois no Largo dos Leões, no bairro onde vivia a aristocracia carioca da belle époque, da qual foi uma estrela. Carmen Miranda, inicialmente no Largo da Carioca num local chamado o Tabuleiro da baiana, porque havia ali um terminal de bonde cuja forma lembrava o tabuleiro imortalizado numa canção interpretada pela cantora. Mais tarde o busto foi removido para engraçar a rua com o nome Carmen Miranda na Ilha do Governador. Imperatriz Leopoldina – Quinta da Boa Vista, em frente ao palácio onde morou com a sua família e incentivou a cultura imperial e Zuzu Angel em São Conrado, onde perdeu a vida em um acidente de caráter duvidoso, representada de maneira mais abstrata, confirmando esteticamente sua vocação para o mundo contemporâneo.

Destinadas ao tempo eterno, elas estarão para sempre observando o nosso passear pela cidade, dando solidez às transformações urbanas, habitando na diferença do tempo passado. No próximo artigo, conheceremos a primeira mulher de bronze do Rio de Janeiro, Clarisse Índio do Brasil, personalidade que fala de sua época e de uma certa busca de emancipação, mais feminina e familiar, uma memória um pouco desvalorizada nos dias de hoje.