A vida prega peças a todo momento e isso não é uma novidade. Quando está tudo às mil maravilhas, é até de se estranhar… O quesito amor, então, talvez seja o campeão em tirar a gente do sério, abalar as estruturas e, principalmente, monopolizar o pensamento. Muitas vezes, tudo o que a pessoa está precisando é, “simplesmente”, esquecer. Trava-se uma batalha consigo mesmo para conseguir tirar a pessoa amada da cabeça. Já não bastasse o sofrimento natural que o fim de um relacionamento proporciona, continuar se sentindo aprisionada por um amor que já passou – ou deveria ter passado – pode chegar a ser desesperador. O que fazer para enterrar de vez um sentimento que continua vivo?
Não se contentando em ocupar nossas mentes durante o dia, a chama de antigos relacionamentos – que cisma em permanecer acesa – acaba invadindo nossos sonhos. A estudante Daniela Souto, de 22 anos, morre de raiva por sempre sonhar com o ex-namorado. “Já faz mais de dois anos que terminamos, estou super-apaixonada por outra pessoa, mas sonho com ele sempre! Acordo mal”, diz Daniela. Também, não era para menos: “Ele anda me ligando até hoje, mas não fala nada. Liga de madrugada, escuta a minha voz por um tempo e desliga”, conta ela. Na tentativa de encontrar a razão pela qual não consegue tirar o ex da cabeça, Daniela reflete: “Talvez seja karma, um karma psicológico, com certeza, muita coisa não foi resolvida e, sim, deixada para depois. Nós dois somos estourados, brigávamos demais e nunca conseguíamos conversar sobre nada. O que mais me prende é saber que, na verdade, ele gosta de mim e eu, dele, só que não conseguimos ficar juntos”, conclui ela.
Como é possível estar apaixonada por alguém e mesmo assim ter que continuar lutando para esquecer uma relação antiga? “A paixão tem suas armas e armadilhas, portanto, estar apaixonada por uma pessoa não representa abandonar os sentimentos que ainda restam de um antigo relacionamento”, frisa o psicanalista e sexólogo Cássio dos Reis, lembrando que essa situação é bastante comum. Não se culpe. “Por que deveria se culpar? Afinal de contas, imaginar que a pessoa vai ter o comando pleno de todos os sentimentos passados é, no mínimo, ingenuidade”, explica Cássio.
Dar um ponto final à relação é doloroso e pode parecer cruel, mas é um detalhe importante para que os dois lados se reestruturem mais rapidamente. Na rede da jornalista Patrícia M. Silva, choveu pretendentes de alta categoria depois que ela terminou o namoro. Só que não adiantava. Ela até saiu com um bocado deles, pegou um cinema, foi jantar, andou de mãos dadas no shopping, pegou um cinema, foi jantar… Contudo, ela tinha vontade de estar com o ex, que há meses havia terminado o namoro, porque, dizia ele, não era o momento certo. “O que mais me dificultou em esquecê-lo foi ele nunca ter dado o ponto final. Nunca falou que não queria mais nada comigo ou que não gostava mais. Sempre deu a entender que sente saudades e que o sentimento de querer ficar comigo vai continuar. É obvio que essas coisas dão esperanças de um dia o outro estar novamente pronto para encarar o relacionamento”, diz.
Lembrar com carinho de uma antiga relação e dos momentos que foram compartilhados é até saudável. No entanto, viver do passado pode ser perigoso.”Trazer a relação passada para o presente é complicado, pois o passado é mais propício a fantasias. Nossa mente tem o dom de encarar as situações colocando-as a nosso favor. É por isso que, no término de qualquer relacionamento, é importante esclarecer tudo, por mais tolo que possa parecer, doa a quem doer. O que parece tolo hoje pode se tornar de suma importância amanhã”, frisa a psicóloga Vera Soumar.
Se você não consegue arrancar aquela pessoa da cabeça – e já está a ponto de arrancar os cabelos, isso sim! –, vale a pena conhecer a história do amigo da publicitária Roberta Nasser, Bruno C. “Ele foi pro Equador fazer um estágio de um ano e lá conheceu uma namorada equatoriana. Estava tudo ótimo até que o estágio acabou e o Bruno teve que voltar. Ele não conseguiu esquecê-la e foi pro Equador, sem grana, nem emprego. Deu certo: arrumou um trabalho e o namoro continuou. Passaram a morar juntos. Só que aí ela deu um pé na bunda do Bruno e, durante um ano, ele ficou lá mendigando o amor dela. Até que resolveu voltar para o Rio. Isso já faz mais de ano e ele ainda não esqueceu a mulher!”, exclama. O maior problema, segundo Roberta, é que Bruno não consegue cortar os laços. “Ele fica ligando, troca e-mails. E aí não consegue se envolver com mais ninguém, fica sozinho, diz que não existe mulher como a equatoriana. Isso me dá raiva! Tem que lutar contra seus sentimentos, se policiar. Ficar sozinho pensando na ex, cultivando um amor que não vai levar a nada? Pra mim, isso é burrice”, opina a amiga.
A luta para se desgarrar de um sentimento que está sendo prejudicial pode durar mais ou menos. Realmente existem casos em que esse processo parece não ter fim. Procurar terapia pode ser muito útil, encurtando a duração do sofrimento. “Quando a pessoa faz de tudo, ou pensa que faz, e não consegue esquecer, ela está entrando num quadro do tipo mania. Pensa sem parar, não monitora seu pensamento. Isso não é saudável. Nós devemos ser a base de nossas decisões, sejam elas quais forem. No entanto, a pessoa pode estar tão fragilizada, que esta luta a deixa ainda mais exausta. Neste caso, eu aconselho que se procure a ajuda de um profissional. Com esse auxílio, a pessoa poderá sair desse redemoinho, retomando a vida com menos sofrimento”, recomenda Vera Soumar.