Nós e o pênis

Quando somos crianças e passamos a perceber que as diferenças entre meninos e meninas não se restringem apenas ao uso de roupas azuis ou rosas, a curiosidade sobre o corpo do sexo oposto começa a dar seus primeiros passos. E quem acredita que, com a puberdade, o início e o amadurecimento da vida sexual, o poder de surpresa da anatomia íntima se esgota está redondamente enganado. Afinal de contas, parafraseando o ditado, quem vê cara, não vê aquilo que está guardado sobre calças e cuecas. E esse tal “aquilo” não se cansa de intrigar as mulheres com suas tão variadas formas, modelos, cores, texturas e tamanhos.

Sigmund Freud teorizou sobre a formação de setores da personalidade feminina a partir de uma suposta inveja do pênis. O pai da psicanálise pode até ter lá as suas razões, como exemplifica a vendedora Camile Santana. “Até que eu queria ter um pra poder fazer xixi de pé. Mas já vi tanto pau esquisito por aí, que eu não queria pra mim, não”, brinca. Ela, por exemplo, não se esquece do instrumento de um namorado que muito a impressionou pela forma. “Já vi alguns meio virados para o lado, mas esse era inclinado pra baixo, parecia um gancho. Ficava duro, subia, mas sempre apontando pra o chão. Um dia, não me agüentei de curiosidade e perguntei como era aquilo. Ele alegou que, quando era garoto e tinha ereções, colocava o bicho pra baixo na cueca, para ninguém perceber. E, por isso, ganhou aquela forma”, conta ela, lembrando, como é de se supor, que em função disso a performance do Capitão Gancho não era das melhores. “Imagina você fazer sexo oral com um cabo de guarda-chuva. Era isso”, revela.

Tradição em algumas culturas ou simples opção higiênica, a circuncisão é outra intervenção que altera a forma de apresentação do pênis. Aliás, não só ela, como também a sensibilidade e, digamos, o aroma. “Eu não gosto muito de homem circuncidado. Primeiro porque complica a masturbação, não tem aquela pelinha que é fundamental. Segundo porque eles perdem a sensibilidade da glande e não tem delicadeza no uso da coisa”, opina a secretária Beth Tolentino. Já a estudante Eliana Proença defende os “descabeçados”. “São mais limpinhos. Os que têm prepúcio, às vezes você puxa aquilo e sai um cheiro ruim, de fechado. Fora aquela ricotazinha branca meio nojenta que dá também”, reclama ela, referindo-se ao esmegma, substância de aspecto e odor desagradáveis produzida por glândulas do pênis para lubrificar o prepúcio.

Mas nenhuma das variações desse assunto é tão intrigante e polêmica quanto o próprio tamanho da peça. Quesito que atinge em cheio a auto-estima e as noções masculinas de virilidade, para que se faça justiça é preciso dizer que há gosto para tudo, como comprova a programadora visual Cristiana Espírito Santo. “Eu gosto de pau pequeno, não me importo com isso. Claro que para tudo tem um limite, não estou falando daqueles que parecem botão de campainha. Mas basta caber na mão que estou satisfeita. É muito mais fácil você encontrar um cara menos favorecido que saiba usar o pouco que tem do que um homem bem-dotado que faça direito. A maioria desses não tem noção do que tem entre as pernas”, diz ela. Também do mesmo time, a estudante Maria de Holanda enumera outra desvantagem dos avantajados. “Quando passa de um certo tamanho, não fica duro direito. E aí, não tem tamanho: pequeno ou grande, pau frapê é a morte”, acrescenta.

Entretanto, é claro que as armas de grande calibre também têm as suas admiradoras. E elas também surpreendem. “Meu primeiro namorado praticamente não tinha pênis, era só a glande. A base era pequena e em cima, bem grande, o famoso curto e grosso. Eu achava que aquilo era o normal e, quando terminei com ele e comecei a sair com outros caras, todos me impressionavam muito porque achava tudo muito comprido. Acho que hoje em dia, se o reencontrasse, não ia conseguir me adaptar àquele estilo”, relembra a advogada Adriana Soares.

Como conclusão, tentamos traçar com nossas “fontes” um modelo ideal de pênis. O primeiro item reivindicado foi a assepsia. Em seguida, tamanho e forma. “Nem menos de quinze, nem mais que dezenove. E, de preferência reto, levemente inclinado para cima”, projeta Cristiana Espírito Santo. Para finalizar, sem intervenção cirúrgica. “Com pele, que é mais gostoso de manusear”, acrescenta Beth Tolentino. No entanto, como boa idealização, o órgão sexual do príncipe encantado vive mesmo é na imaginação. “Na hora H, se souber usar, faz-se um concerto de câmara com uma mera flauta doce”, encerra Maria de Holanda.