“Não palite os dentes à mesa, menina, é feio!”. “Tire essa mão do nariz, garota!”. “Cumprimente direito sua tia!”. “Nem pense em soltar esse cabelo antes de o casamento terminar!”. Desde pequenas, somos brindadas por diversos conselhos maternos, paternos, fraternos e de quem mais tiver algo de finesse a somar, relativos às boas maneiras. Quando ficamos mais velhas, além das antigas regras, outras mais são acrescentadas no caderninho. Agora, não basta que sejamos educadas, temos a obrigação de sermos chiques. O conceito tradicional é amplo. Engloba desde roupas de grife a um porte ereto e um cabelo impecável, alheio a agruras como vento e chuva. O que não está no manual da sociedade, porém, é que nem toda mulher fica bem naquele corselete da moda e que nem toda mortal tem dinheiro para investir em um Chanel. O corte do cabelo desestruturado, o must das passarelas, pasmem, também não fica bem em todo mundo. O risco, no final das contas, é comprar um estilo que não tem nada a ver com a personalidade e, em vez de in, ficar totalmente out.
A combinação festa de arromba + ex-namorado-ainda-irresistível foi o pontapé inicial para a mudança de estilo da estudante Joana Santos. A menina, que faz o estilo “Sou esportiva sim, e daí?” decidiu que queria ser chique. E isso, para ela, era sinônimo de roupa cara, de grife. “Tinha na cabeça a imagem daquelas atrizes de Hollywood, com seus vestidos esvoaçantes, exclusivos e carésimos. Fui em uma dessas multimarcas e gastei o que tinha e o que não tinha em um vestido de um estilista. Cheguei na festa, poderosa, e, surpresa, dei de cara com uma menina com uma roupa igual à minha! É muito azar, reconheço, mas aconteceu”, lamenta Joana, que saiu da festa correndo, sem ex-namorado e com muitos reais a menos na conta bancária.
Uma atriz famosa também foi o estopim da crise quero-ser-chique da professora Bianca Souza. Depois de ver o corte novo da estrela Cameron Diaz – curtíssimo e com uma franjinha –, Bianca não sossegou até ir ao salão e pedir um igual. Com um pequeno detalhe: seu cabelo é crespíssimo e preto, enquanto o da atriz é liso, leve e louro. “Por mais que minhas amigas e até o cabeleireiro tentassem me convencer a não cortar daquela maneira, eu estava decidida. Se ela ficava chique com aquele cabelo, por que eu não ficaria? Não pensei em nenhum momento que o corte não combinava com meu estilo”, reconhece Bianca, que amargou vários meses sendo carinhosamente chamada de Poodle pelos familiares.
Algumas acham que o segredo para ser chique reside em marcas famosas, outras, no corte de cabelo. Já a estudante de Direito Renata Soares achava que ser chique era uma mistura de tudo. “Eu era um outdoor ambulante. Andava só com roupas e acessórios de grife. O salão que eu freqüentava semanalmente era o mais caro do shopping. Gastava tubos de dinheiro comprando perfumes de marcas famosas. E achava que era chique. Só acordei do devaneio quando meu namorado terminou comigo, falando que não agüentava mais disputar espaço na agenda com tantas futilidades”, conta Renata, que hoje se define como uma patricinha light.
Aquela história de que chique é ser você mesma é mais do que verdadeira, segundo a consultora de etiqueta Maria Aparecida Araújo. Segundo ela, tentar passar uma imagem diferente da personalidade raramente dá certo. “Fica artificial. E isso, definitivamente, não é nada chique. Uma mulher tímida e recatada não tem mesma atitude e nem se veste da mesma maneira que uma exuberante, por exemplo. Todo mundo deve respeitar seu estilo”, diz Maria Aparecida. Como mamãe já dizia em priscas eras, ser chique e educada é, antes de tudo, uma questão de bom senso.