Orgasmo anal

Ah, o orgasmo! Para algumas mulheres, um completo desconhecido. Para outras, um visitante de presenças bissextas. Mas há também aquelas para as quais o dito-cujo é um amigo tão íntimo que pode chegar a qualquer hora, até mesmo pela porta do fundos. “Sim, por quê não?”, impõem-se elas. Desprendidas de todo e qualquer medo, essas mulheres garantem que, para experimentar o poder de inundação de algo chamado por elas mesmas de orgasmo anal, o segredo é simples: relaxar e gozar.

“Simples da boca pra fora!”, chega já em contra-ataque a dentista Karla Nascimento. Para ela, como acontece com uma parte expressiva das mulheres, o sexo anal é ainda um grande e doloroso mistério. “Comigo, não é possível. Aquilo não foi feito para receber nada, só expelir. Todas as vezes em que tentei doeu, aí fico tensa e perco logo todo o tesão na brincadeira”, afirma ela. No entanto, Karla reconhece que a região é mesmo altamente sensível e que o tal termo “orgasmo anal” é pra lá de instigante. “Nossa, mas como será isso?”, questiona-se. A estudante Luísa Rego Monteiro, que se diz craque no assunto, responde: “Gozar por vias normais, só que a partir do sexo anal. É completamente diferente porque não há nenhum estímulo físico na região da vagina, no clitóris. É simplesmente gozar de prazer e de relaxamento, sem olhar para trás, como se não houvesse amanhã”, define.

Entretanto, para o sucesso dessa empreitada é mesmo necessário algo um pouco além do “mero” relaxamento. Um outro ingrediente, às vezes raro, é de importância fundamental nesse processo: um homem competente. “Não são todos os que sabem fazer. Aliás, acho que a maioria não tem muito gabarito. Eles não têm delicadeza e nem paciência para levar a mulher ao orgasmo por essas vias”, denuncia a cabeleireira Sandra Moutinho. Não é pra menos, como se defende o técnico de som Mário Agrizi. “A maioria das mulheres também não gosta do sexo anal. Geralmente, quando um homem consegue fazer, é uma deferência dela. Então, fica uma coisa feita com pressa, sem carinho. Vira uma bola de neve: ela não sente prazer, só faz porque ele gosta. Não está preocupada em gozar”, acredita ele. Aqueles que conseguiram, no entanto, reafirmam a crença no poder do clima relax. O artista plástico Ian Fonda, que garante já ter levado duas mulheres ao clímax com sua performance, diz que a receita de bolo está mesmo na sensibilidade. “As duas gostavam que eu fizesse de maneiras diferentes. O segredo está em deixá-las à vontade para que mostrem como preferem”, ensina ele, lembrando, porém, que o sexo anal, por melhor que seja, está longe de ser uma garantia de orgasmo feminino. “Comigo, pelo menos, foram duas vezes em duzentas”, puxa da ponta do lápis.

A sexóloga Margareth Labate endossa a opinião do rapaz. Ela afirma que o que se chama de orgasmo anal é mesmo um acontecimento raro na vida sexual de uma mulher. “É preciso estar bastante solta, com a cabeça voltada apenas para o envolvimento daquele momento. Além disso, há mulheres que não conseguem chegar ao orgasmo sem uma estimulação clitoriana. Mas todo esse mistério também pode fazer orgasmo pelo sexo anal mais prazeroso, surpreendente, mais especial”, diz ela. Margareth acrescenta ainda um ingrediente a mais em nossa receita, igualmente importante aos demais. “Um lubrificante à base d’água pode ser fundamental. Há alguns bons produtos no mercado, inclusive com pequenas doses de anestésico para aliviar os eventuais incômodos. Na hora de comprar, é importante verificar se o produto é hipoalergênico e à base d’água”, recomenda. Para finalizar, ela lembra que, na verdade, a senha para todos os orgasmos é uma só: estar satisfeita. “Nunca é demais dizer que ninguém é obrigado a fazer nada entre quatro paredes. Apenas, o que dá prazer”, conclui Margareth.