Querer não é poder. Bom, essa máxima não se aplica de forma unânime. Pelo menos para algumas pessoas, querer é o que basta para conquistar qualquer feito. Graças a uma característica rara que nem todos possuem, mas quem tem não poupa esforços para carregá-la até o fim. Até porque, essa é a principal propriedade de quem é obstinado. Determinação, teimosia, garra, tenacidade, persistência, birra… Diversas são as denominações para essa vontade incomensurável de alcançar um objetivo a qualquer custo.
A força de vontade é capaz de nos levar a qualquer lugar. Em alguns casos, tamanha é a obstinação, que ultrapassa fronteiras e se estende a outro país, como aconteceu com a estudante Maria Joana Fragoso. “Meus pais eram terminantemente contra eu morar em outro país, tinham muito medo de me deixar viajar sozinha para uma cidade no meio do nada. Eu venci pelo cansaço”, conta a estudante. É, mas em pouco tempo, aquela disposição que enchia a mala não foi suficiente. “Eu parti cheia de expectativas e, quando cheguei, vi um estilo de vida oposto ao que eu levava aqui, com uma família totalmente desestruturada em qualquer aspecto. Só que não podia dar pra trás depois de tanto esforço”, conta a estudante. Querendo provar que poderia, sim, resistir a todos os contras, Alice levou adiante. “É horrível ficar em um lugar sem ninguém, e, ainda por cima, em uma situação nada agradável. Mas eu não desisti: mudei de família e agüentei a barra por seis longos meses”, relembra Joana, que pensava em voltar todos os dias da sua estada no exterior. “Não sei como eu encontrei forças, acho que qualquer um teria ido embora. Fui teimosa, obstinada e fiquei”, diz a estudante.
Foi a obstinação que fez a advogada Viviane Soares vencer a gula e mudar a sua vida. “Eu sempre fui gordinha, mas por mais insatisfeita que eu me sentisse, porque isso sempre me incomodou muito, faltava força de vontade. Quando meu pai me garantiu que pagaria uma cirurgia de redução mamária, senti que era agora ou nunca”, conta a advogada, que perdeu 20 quilos até a cirurgia. Haja boca fechada e garra para resistir à tentação. O alimento? Muita força de vontade. “O começo foi difícil, porém eu só pensava na cirurgia e imaginava como seria mais feliz quando chegasse lá. Eu ia ao médico me pesar de dez em dez dias e cada vez me empolgava mais, via que estava emagrecendo”, relembra Viviane, que lutou bravamente contra a pressão externa. “Ninguém me poupou de nada. Eu saía com os meus amigos para rodízios de pizza e não punha um pedacinho que fosse na boca, sentava na mesa com os meus irmãos e comia salada de fruta vendo eles devorarem lasanha e brigadeiro. Mas toda vez que resistia, me sentia mais forte, determinada”, confessa a advogada. No saldo final da balança, valeu a pena.
Determinação implica em lutar, mesmo quando tudo parece conspirar contra você. É ver que a tacada deu errado e, mesmo assim, não perder o ânimo para tentar quantas vezes forem necessárias, sobretudo se não houver outra alternativa. O então estudante, e agora médico, Pedro Antonio Chaves sabe bem o que é isso. Sem condições de pagar uma faculdade de medicina particular, ele teve a obstinação como único combustível para concretizar o sonho de ser médico. “Ou eu entrava para uma universidade pública ou podia esquecer a idéia. Só que eu nunca estudei em bons colégios e, assim como eu, existiam inúmeros outros. Eu comecei a estudar por conta própria, pedia livros emprestados, ajuda aos professores, mas sabia que não seria o suficiente”, conta Pedro Antonio que, pela falta de preparo, acabou reprovado no primeiro ano de tentativa. E no segundo, no terceiro, no quarto… Até que, depois de muitas noites em claro em cima dos livros, na quinta vez, ele finalmente passou. “Eu arriscaria o tempo que fosse. Se eu tivesse desistido, não estaria aqui, hoje, formado e iniciando a minha carreira”, reconhece ele.
Para a psicanalista Priscila Faria Gaspar, a obstinação tem limites internos e externos que precisam ser respeitados para não se tornar negativa. “Muitas vezes, a pessoa que se foca em um objetivo está evitando olhar para outras questões. Ela se concentra em uma necessidade para fugir daquilo que incomoda, como acontece com quem trabalha demais ou vê o excesso de peso como causador de todos os problemas”, analisa a psicanalista. No entanto, sabendo dosar, essa determinação só traz realizações positivas. “Se a pessoa tem o pé no chão e a noção de até onde tentar sem passar por cima de si mesma e das demais limitações, não há porque não lutar”, conclui Priscila Gaspar.