“Se você não fizer sexo, outra vai fazer”: por que falas como de Deborah matam o prazer

Afinal, as mulheres realmente sentem menos necessidade de sexo do que os homens? Ou será essa uma questão culturalmente imposta? O assunto é complexo, mas uma declaração simplista do tema foi feita pela atriz Deborah Secco e gerou muita repercussão negativa.

Em um vídeo no canal do YouTube da blogueira Julia Faria, a global participou da brincadeira “Quem é mais provável que…”. Em uma das perguntas, ela teve de responder: quem teria mais chances de simular uma dor de cabeça para não transar, o homem ou a mulher?

Declaração polêmica sobre sexo

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Primeiro, Deborah Secco respondeu que ela não toma essa atitude de jeito algum. “Você pode até estar sem vontade, mas quando começa, é um pouco só que fica sem vontade. Começou, já fica bom”, disse. “Então, não pensa no desânimo, pensa na animação que vem”, aconselhou a atriz.

Em seguida, a mãe de Maria Flor demonstrou ter um pensamento bem atrasado em relação a questões sexuais. “Outra coisa importantíssima: se você não faz sexo com seu homem, outra pessoa vai fazer. Homem não fica sem sexo. Tá com preguiça? Começa. A parte chata é só a de começar mesmo. Depois, fica delícia”, declarou.

A repercussão negativa foi tamanha que o vídeo foi deletado do YouTube, mas salvo por alguns internautas.

Sexo para agradar o parceiro

A sexóloga Jussania Oliveira explica que, mesmo com a nova onda de liberdade sexual feminina, muitas mulheres ainda acreditam que seu papel dentro do sexo é o de apenas promover prazer e não o de também senti-lo. 

Há anos, a sexualidade da mulher é reprimida e pouco discutida desde a infância. O resultado disso são mulheres que têm vergonha de tocar e conhecer o próprio corpo. Ou até mesmo de se entregar ao prazer – o que também é um direito delas – dentro da relação. 

“As mulheres não são educadas para priorizar o sexo em suas vidas, ao contrário do homem. Isso é uma questão cultural e educacional da formação da mulher na sociedade”, diz a especialista. “Portanto, ela não aprendeu a se tocar, a conhecer suas zonas erógenas. Ainda não vive sua sexualidade da melhor forma possível”, conta.

Prazer feminino é deixado de lado

Por cima disso está a obrigatoriedade com que a mulher enxerga o sexo dentro da relação. A fala de Deborah Secco reflete, na verdade, um pensamento feminino muito comum, de que é preciso “comparecer” para manter o parceiro satisfeito.

“Nada que é feito por obrigação é prazeroso. O sexo precisa ser bom para ambos”, fala Jussania. O efeito, na verdade, é oposto: quanto mais o sexo é feito contra a própria vontade, mais ele se torna um fardo e dificilmente esta mulher conseguirá encontrar prazer genuíno na prática.

“A mulher não precisa se submeter aos desejos do outro para provar nada. E mais, acreditar que fazer sexo vai impedir uma traição é, no mínimo, ilusão”, opina a especialista.

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“Homem não fica sem sexo”

A declaração da atriz ainda se torna perigosa ao usar um argumento utilizado há muito tempo para justificar não só traições masculinas como abusos sexuais. A ideia de que homens têm maior necessidade fisiológica de sexo foi tomada há muito tempo como verdade, apesar de não ser bem assim.

“A maior parte das mulheres que atendo no consultório apresentam baixa libido por questões psicológicas e emocionais”, conta Oliveira, ressaltando que a própria questão cultural leva o homem a ter mais liberdade sexual em comparação à mulher.

Além disso, reduzir a traição masculina a um mero impulso sexual é considerar que o homem possui menos racionalidade do que a mulher e por isso não consegue conter seus desejos, o que também é uma inverdade.

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