Síndrome de Adônis

O nome é pomposo e bonito, mas esconde uma patologia séria que vem crescendo muito no mundo moderno. A Síndrome de Adônis, também chamada de vigorexia, caracteriza-se pela prática esportiva e de exercícios físicos exagerada, de forma contínua, com uma valorização exacerbada da forma física. Essas pessoas agem com fanatismo e submetem seus corpos a esforços grandes, sem se importarem com eventuais contra-indicações, ainda que expostos a perigos.

A vigorexia é o típico transtorno determinado culturalmente, associado a uma época específica e a seus valores. Está nascendo nas sociedades predominantemente consumistas, competitivas, onde o culto à imagem ultrapassa muito o limite do razoável. Os vigoréxicos têm uma preocupação e determinação em ficarem fortes. Muito fortes. Muito musculosos, passam horas na academia malhando e continuam se sentindo fracos e magros, independentemente da hipertrofia muscular acentuada que apresentam. Costumam ter vergonha do próprio corpo, enaltecem os defeitos e parecem dispostos a qualquer sacrifício para se transformarem em ícones de perfeição e beleza. Não raramente, além de grande carga de atividade física, usam “fórmulas mágicas” para acelerarem o fortalecimento, como asteróides anabolizantes.

Sempre que, por diferentes razões e de diferentes formas, julgamos que precisamos ser diferentes do que somos para sermos aceitos e amados, estamos na rota errada. Pura ilusão

Este transtorno acomete principalmente os homens. Num primeiro momento, são vistos como saudáveis, adeptos dos esportes. Com pouco tempo de convivência, fica fácil perceber o traço obsessivo e patológico. Embora exista um grande número de pessoas preocupadas com a aparência, para ser considerado um vigoréxico é preciso que haja sofrimento agudo e uma reiterada obsessão que compromete a vida normal.

Comumente essas pessoas têm em suas histórias de vida episódios significativos de constrangimento social, principalmente durante o início da adolescência, provocados por algum “defeito físico”. Nesse período da vida, a aceitação e validação social são fundamentais na estruturação da auto-estima. O sentimento de inferioridade pode se manter e marcar as pessoas de tal forma, levando-as à busca desesperada da perfeição física. Esse processo não tem fim. Por causa da distorção perceptiva que acompanha o quadro, nunca se dá o momento de ter atingido o objetivo. A satisfação nunca vem e o quadro de ansiedade e fixação vai se intensificando ao longo do tempo.

No fundo, bem lá no fundo, estamos todos buscando a aceitação e o amor. Sempre que, por diferentes razões e de diferentes formas, julgamos que precisamos ser diferentes do que somos para sermos aceitos e amados, estamos na rota errada. Pura ilusão. A autenticidade e espontaneidade típicas dos que se aceitam e se sentem confortáveis atraem, sem dúvida alguma, a admiração e o afeto das pessoas. Não é preciso esforço para isso.

Se você conhece alguém que se enquadra nesta descrição, vale tentar dar um toque. Não é muito fácil, porque essas pessoas desenvolvem reatividade e costumam ter argumentos muito convincentes e despistadores dos exageros patológicos. Seja firme, e amorosamente tente demonstrar que o tamanho do seu amor não está relacionado ao tamanho dos bíceps ou tríceps.

Atenção com os adolescentes que estão começando a despertar para a possibilidade de alterarem seus corpos, antecipando uma forma adulta. Olho vivo! Ao perceber qualquer exagero, tome logo providências eficazes.

Até a próxima!