Mas quando o melodrama não cola, o chilique é a saída mais estratégica. “A ‘vítima’ acaba sempre tendo a pessoa sob seu domínio. Quando acontece de sua manipulação não funcionar ou ela se sentir confrontada, fica muito irritada”, assegura a psicóloga, completando que a insegurança, o egocentrismo e a falta de consideração com os desejos dos outros são outras características dos portadores da tal síndrome.
A empresária Ana Luiza Mota conta que viveu uma história digna de um folhetim com sua ex-sócia. “Ela tinha mania de perseguição. Nunca admitia estar errada e, quando eu não concordava com suas idéias, ela simplesmente dava ataques histéricos”, conta. Ana lembra ainda das chantagens emocionais que tinha que escutar – verdadeiras ladainhas. “Sua cabeça doentia devia pensar que ela era a mocinha e eu a vilã. Ela era ridícula! Nossa sociedade ficou impraticável, eu era sua sócia, não sua mãe para administrar seu ego”, conclui.
Para alguns, o primeiro contato com o universo dramático da vítima é quase umbilical, quando, logo no início da vida, se deparam com mães que defendem a idéia de padecer no paraíso com unhas e dentes. A chantagem emocional protagonizada por elas talvez seja a cena mais comum nos lares das melhores famílias. As falas, o elenco, sempre é tudo igual, só muda o endereço. A dona-de-casa e mãe de três filhos Lígia Lemos acredita que as mães usem o recurso para manter um certo domínio sobre os filhos já crescidos. “Chega um momento em que você não pode mais mandar, então o jeito muitas vezes é apelar para ver se comove”, afirma ela.
Na opinião da terapeuta familiar Vera Risi, muitas mães usam esse artifício até mesmo sem perceber. “A mãe tem medo de dizer não para os filhos, acredita que eles vão deixar de amá-la ou que podem não suportar a recusa dela diante do pedido”, diz Vera, enfatizando que a mãe tem que saber dizer ‘não’ e ensinar seu filho a escutá-lo. “Quando ela usa a chantagem para tentar dizer o que deve, está se igualando a ele, sendo infantil, e deixando de usar sua autoridade de mãe e responsável pela criança. Argumentar e mostrar as razões é o que deve ser feito por um adulto”, garante.
Os caminhos para a vítima sair desse mundo de trevas está dentro dela mesma e as pessoas que a cercam podem colaborar com um pouco de luz. Mas se ela realmente não abrir mão dos números de comoção, piedade e remorso que fazem parte de seu show, só restará aos atingidos pelos seus crimes emocionais julgar: vítima ou culpada?