Terapia da escrita

Desde que somos alfabetizados, lá pelos 6 anos de idade, escrevemos bilhetes, cartas, cartões, redações, diários, agendas, já escrevemos palavras de amor e também de ódio em número suficiente para encher todo um dicionário e formar enciclopédias de 20 volumes. Além de passar de ano na escola e mandar uma cantada para o rapaz da mesa ao lado, escrever é e sempre será uma bela forma de desabafar, botar para fora os sentimentos que não cabem no peito e se transformam em palavrinhas – às vezes, em palavrões! Falamos com pessoas que, cada uma a seu modo, como eu e você, usam a escrita como porta-voz do coração.

Na infância e na pré-adolescência, muita gente faz do diário um grande amigo, capaz de guardar os maiores segredos – e não contar nunca pra ninguém! Foi assim com Adriana Ferraz, 28 anos, que escrevia diariamente tudo o que acontecia na sua vida. “Eu escrevia com riqueza de detalhes, falava das brigas com a minha irmã, com meus pais, escrevia o nome do garoto de quem eu gostava e desenhava um monte de corações em volta. E era tudo exagerado: eu acreditava que ia casar com ele, ter filhos, que iria morrer se não pudesse ficar com ele”, lembra Adriana, que guarda os cadernos até hoje e de vez em quando gosta de dar uma olhada. “É um registro, né? As memórias ficam preservadas, os bons e os maus momentos. E sempre dá pra tirar um aprendizado para não repetir os mesmo erros de antes”, diz ela, que hoje não tem mais diário, mas guarda seus desabafos em documentos do word, em uma pasta que já acumula textos que podem um dia resultar em uma autobiografia.

Depois do diário, vieram as agendas. Elas não tinham cadeado, mas também eram guardadas a sete chaves, como conta a arquiteta Diane Patrício. “Eu não escrevia todo dia na agenda, mas sempre que estava angustiada com algum problema, na maioria das vezes, sentimental”, entrega. Diane, aos 26, ainda tem uma caderneta onde anota os compromissos e não se priva de usá-la também para pequenos desabafos. “Escrevo frases mais poéticas, ou o trecho de uma música que exprima exatamente como anda o meu estado de espírito”, revela, garantindo se sentir mais calma depois de escrever.

Hoje em dia, a internet fez das agendas e diários um livro aberto. Milhões de blogs revelam o dia-a-dia de pessoas como a professora de inglês Aline Torres Homem, 30 anos, que tem o hábito de escrever desde garotinha e resolveu publicar seus escritos na rede. “Não me lembro de qualquer época na qual não tivesse uma agenda ou diário, ao menos desde os nove anos… Até hoje tenho minha agenda de compromissos, mas ainda uso pra desabafar também”, confessa ela, acrescentando que escrever é sempre um acalento. “É uma auto-análise, botar no papel ajuda a processar qualquer coisa pela qual eu esteja passando. Escrever faz com que eu me distancie um pouco e tenha outro ponto de vista, o que sempre ajuda”, garante Aline, dona do blog “Casa do Cacete”.