Terapia da escrita > Desabafando

Para a professora de Inglês, o blog é como um psicólogo particular. “É meu confidente, um lugar onde posso dizer o que penso e o que sinto”, diz Aline, que não sente sua intimidade devassada. “Quando falo de alguma coisa mais secreta, às vezes uso metáforas, símbolos, analogias… E as pessoas das quais escondíamos os nossos diários (pais, principalmente) continuam “não os lendo”, ou seja: quando o fazem, fazem sem que a gente saiba, como naquela época…”, diz.

A pessoa pode escrever sob forte emoção, em dado momento e, posteriormente, ler o que escreveu sob um novo olhar, de forma mais racional e lógica

A publicitária Rosana F., 30 anos, tem um hábito curioso para desabafar. “Quando estou muito brava com alguém, para não ser grosseira, abro um email e solto os cachorros. Xingo, reclamo, pego pesado. Em seguida, em vez de mandar pra pessoa em quem pensei, mando pra minha melhor amiga”, conta Rosana, garantindo que, dessa forma, consegue desabafar sem sair do salto. “Escrever esses desaforos tem o mesmo resultado de contar até 10, dá um alívio, acalma. Depois eu consigo ser educada e falar com a pessoa sem ofender”, explica ela. Sua melhor amiga já está acostumada. “Ela ri, toma as minhas dores, me ajuda a xingar também”, diz a publicitária.

Segundo a psicanalista e terapeuta de casais Priscila de Faria Gaspar, muitas pessoas gostam de escrever e sentem-se bem com isso. “Não há uma idade ‘certa’ ou ‘errada’. O que se observa na prática é que, em geral, adolescentes têm mais tempo livre que adultos, além de muitas vezes sentirem que fatos corriqueiros são problemas enormes para eles”, afirma a psicanalista, para quem escrever é uma espécie de auto-ajuda, pois auxilia na elaboração de um conteúdo que, muitas vezes, está confuso. “A pessoa pode escrever sob forte emoção, em dado momento e, posteriormente, ler o que escreveu sob um novo olhar, de forma mais racional e lógica”, afirma ela, acrescentando que há casos em que somente escrever não é suficiente e torna-se interessante a procura de um profissional que possa oferecer ajuda.

Sobre os blogs, Priscila salienta um ponto importante. “Pode ocorrer de a pessoa que escreve não ser tão sincera consigo o quanto seria, apenas por estar ciente de que o conteúdo de seu blog pode ser lido por qualquer pessoa”, ressalta, frisando as diferenças entre guardar os escritos na gaveta e estampá-los na internet, quando se pode usar recursos ficcionais e poéticos como forma de proteção das intimidades.

Por fim, a psicanalista explica que o ato de escrever permite que se organize melhor as idéias, além de se ter a grande vantagem de não ser interrompido em seu discurso. “Escrever uma carta ou um e-mail pode ser uma forma de retomar o diálogo após uma briga e abrir a possibilidade de uma conversa e nunca para substituí-la”, ensina Priscila, que aconselha mulheres a escreverem para seus parceiros. “Mas essas cartas e e-mails devem ser mostradas aos companheiros, sim! De preferência, elas mesmas lendo, com a devida entonação. Para isso, além de um pouco de coragem, é necessário pedir ao companheiro que a ouça, sem interromper, por alguns minutos apenas. Trata-se de um exercício para melhorar a comunicação do casal”, finaliza.