Violência no trânsito: prevenida ou paranóica?

Bolsa do ladrão, boneco guarda-costas, rottweilers de brinquedo, vidros totalmente escuros. A violência urbana aterroriza os brasileiros de tal forma que no trânsito, um dos lugares prediletos dos criminosos, os motoristas desenvolvem seus próprios “recursos antirroubo”, considerados discutíveis pelos especialistas em segurança. Agora, como saber quando a preocupação se transforma em paranoia?

Em primeiro lugar, saber como se prevenir diminui, e muito, os riscos da abordagem do bandido. Segundo o especialista em segurança no trânsito Marcelo Galvão, ter atenção é fundamental. “Quando sofremos um assalto, ficamos muito mais prevenidos, mas isso não significa que nos tornamos mais prudentes”, observa ele, que recomenda não deixar objetos de valor à mostra: “O mais prudente é colocar bolsas em lugares de pouca visibilidade, como em cima dos pés”. Outra alternativa é escurecer os vidros do carro, mas até o limite em que a película não prejudique a visão.

Atitudes preventivas em excesso podem se voltar contra o próprio condutor e, o pior, contra os outros. O medo exagerado ou a mania de segurança pode acarretar muitos problemas psicológicos. Quem explica é a psicóloga Aline Cataldi: “Nossos medos podem nos dominar e, se não buscarmos racionalizá-los, podemos até criar outros perigos para a nossa vida. O medo na dose certa é sadio, pois é uma autoproteção“.

Existem motoristas que já deixam preparada uma espécie de kit, com objetos de pouco valor, para ser entregue ao ladrão e ludibriá-lo. Mestre em saúde mental, Cataldi afirma que, por mais que uma realidade social seja difícil, precisamos nos sentir capazes de lidar com ela e não nos deixarmos fragilizar. Atitudes como essa, de pensar apenas com o medo, impedem as pessoas de serem mais racionais e fazem com que se esqueçam de viver. O perigo existe, mas, como ratifica a especialista, é ainda mais arriscado pensar nele de forma neurótica.

Se de alguma maneira o assalto for inevitável, antes de tudo, tenha calma, já que, segundo a psicóloga, o bandido geralmente está mais nervoso do que a vítima. Galvão complementa com um alerta: “Não temos muitas opções. Devemos tentar manter a calma, não fazer movimentos bruscos e deixar as nossas mãos à vista do assaltante o tempo todo. Todos os nossos movimentos devem ser narrados para o assaltante não achar que vamos tomar uma atitude contra ele”.

Marcelo cita algumas jogadas comuns dos ladrões antes de anunciar o assalto. ” Uma pequena colisão na traseira e pronto. Você sai do carro para ver e percebe que é um assalto. Outra é quando você para o carro num estacionamento e a pessoa que vai guardá-lo se aproxima e abre um pouco a porta traseira. Você se afasta e aciona o alarme. Neste momento, o falso manobrista abre o seu carro, pega o que quer e, em seguida, fecha o veículo. Quando você chega não acredita que alguém pegou os seus pertences com o carro fechado. Tem também a situação em que alguém passa do seu lado e diz que o seu pneu não está legal ou há uma peça solta. Pronto, se você parar o carro, o assalto é anunciado.”

Mais complicada é a recuperação da vítima após sofrer a violência. As manias de segurança aumentam, o medo descontrolado ganha proporções enormes e o risco de um surto é grande. Cataldi afirma a importância de conversar com um profissional: “Somos seres humanos e não sairemos inertes a situações de violência por que passarmos”. Para a psicóloga, é necessário averiguar como a mente e o organismo vão digerir a situação. Muitas vezes, o efeito não é perceptível de imediato e, por isso, é importante que providências sejam tomadas logo após o ocorrido.

Aqui vão algumas dicas de segurança que podem dificultar a vida dos criminosos.

Evite ficar parado à espera da abertura do sinal de trânsito. Ao ver que o semáforo vai mudar, o condutor deve diminuir a velocidade do veículo e, desta forma, quando chegar próximo ao sinal, não perderá tempo parado.

Não perca muito tempo com o carro aberto ao desembarcar.

– Já foi constatado em pesquisas que, quando um motorista se aproxima de sua casa num raio de 5 a 10 km, a probabilidade de um acidente é maior, pois a sua atenção não é a mesma. Da mesma forma, é na saída de casa ou na chegada que os assaltantes se aproveitam da distração dos motoristas para tentar roubar o veículo.

Parar o carro no meio da rua diminui – mas não exclui – o risco, pois o assaltante não terá agilidade para fugir, ao contrário de quem para o carro na lateral.