Campanha do pontinho preto tenta ajudar vítimas de violência, mas as coloca em risco

No Brasil, de acordo com pesquisa feita pelo Instituto Avon em parceria com o Data Popular, 3 em cada 5 mulheres já sofreram agressões psicológicas ou físicas em seus relacionamentos. Para muitas delas, é difícil quebrar o silêncio e denunciar o agressor. Recentemente circulou pelas redes sociais a campanha “Ponto Preto” ou “Black Dot”, em inglês, que incentiva vítimas de  viol ê ncia dom é stic a a fazer um ponto preto na palma da mão caso queiram, de forma silenciosa, falar sobre o assunto ou denunciar os agressores. No entanto, semanas depois do lançamento, pessoas criticaram os riscos que ela trazia e a criadora suspendeu sua divulgação.

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Campanha do pontinho preto

Entenda a proposta

Criada por uma britânica que por anos sofreu com abusos físicos e sexuais que partiam do seu parceiro, a campanha inicialmente estimulava que mulheres vítimas de violência doméstica fizessem um  pont inho  preto na mão caso quisesse falar sobre o assunto ou pedir ajuda de forma discreta. Em pouco tempo, a página criada no Facebook recebeu mais de 40.000 curtidas.

O sucesso, no entanto, não trouxe apenas benefícios para a criadora e as vítimas que poderiam ser ajudadas. Com a divulgação em massa, muitas pessoas começaram a modificar o intuito. Uns diziam que ao ver uma mulher com  ponto preto n a  palma da mão era necessário ligar para a polícia. Enquanto outros divulgavam que as vítimas deveriam postar fotos de suas mãos nas redes sociais.

Aspectos positivos

Para muitos, a campanha é positiva porque, além de falar de um assunto que ainda é tratado de forma velada, ainda pode ajudar mulheres romperem com seus agressores.

De acordo com o site de notícias britânico The Independent, na página da campanha no Facebook uma mulher contou sua história. Agredida moral e fisicamente pelo seu parceiro mesmo grávida, durante um exame do pré-natal antal ela escreveu o pedido de ajuda na palma da mão e mostrou para a enfermeira que a atendia. Hoje, ela diz que está segura e longe do agressor.

Riscos

No entanto, para outros, a campanha pode trazer ainda mais riscos às vítimas. Isto porque como o código é amplamente divulgado, ao notá-lo, o agressor pode intensificar as agressões.

Em entrevista ao site britânico BBC Trending, a criadora da campanha disse que sua intenção nunca foi fazer com que as vítimas postassem suas fotos nas redes ou que acionassem a polícia imediatamente, mas sim que fosse uma forma das pessoas se aproximarem para falar sobre os abusos. “Um ponto é fácil de fazer e de apagar, você pode fechar a mão quando quiser e esconder. Não é uma solução para todas, mas uma vítima sabe o que desencadeia sua agressão. Então, aquelas que sabem que não é seguro, não devem fazer”, explicou.

Para ela, grande parte das mulheres não fala sobre a assunto pro medo de ter as situações relativizadas ou por serem culpabilizadas pelo ato. Por isso, ela enfatiza a necessidade de a vítima conversar com outras pessoas que possam acolher e ajudá-la.

Desfecho

Após a polêmica, a página foi retirada do ar pela fundadora. De acordo com o The Independent, a autora, quando foi suspender a divulgação afirmou que estava pensando na segurança das vítimas, e que ela deve vir em primeiro lugar e a abordagem sempre feita por um profissional. A campanha ainda segue sendo divulgada por outros veícuulos de comunicação.

Denúncia de violência doméstica no Brasil

Além da possibilidade da vítima procurar uma Delegacia da Mulher para fazer um boletim de ocorrência e, então, abrir um inquérito de investigação e solicitar medidas de segurança, terceiros ainda podem fazer denúncias ou pedir ajuda através do 180, número da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, que é atendido por pessoas treinadas a lidar com essas situações.