Amber Amour foi vítima de violência sexual aos 12 anos. Mas, foi aos 24, ao ser estuprada pela segunda vez, que a ativista criou uma campanha que tomou proporções internacionais. A “#StopRapeEducate” (“pare com o estupro, eduque” em tradução livre) tem o intuito de conscientizar pessoas em todo o mundo sobre a importância de educar as pessoas para combater a cultura do estupro. Foi em uma viagem para propagar a campanha que Amber, novamente, teve que lidar com a infelicidade do abuso. Neste episódio, ao ser vítima pela terceira vez, a ativista contou tudo em sua conta do Instagram imediatamente após o ocorrido.

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Campanha “Stop Rape, Educate”

De acordo com entrevista concedida à revista Marie Claire do Reino Unido, o que motivou a criação da campanha não foi apenas o abuso ocorrido na infância. Aos 24 anos, Amber foi estuprada pela segunda vez por um companheiro de quarto.

Após a denúncia, a polícia, quando chegou em sua casa, além de não ter levado nenhuma mulher para o atendimento, ainda questionou a veracidade das informações, perguntando se ela, sem querer, talvez não tivesse dito ou dado algum sinal de consentimento do ato.

A abertura das investigações e do processo judicial foi negada. Com a resposta negativa, Amber começou, a partir de mensagens nas redes sociais e nas ruas, mobilizar pessoas em torno do seu caso, que infelizmente não é único e tampouco raro. Com o tempo, a campanha ganhou corpo e a ativista a levou para outros países.

Em uma dessas viagens de divulgação, Amber chegou na Cidade do Cabo, África do Sul e, durante uma breve passagem pelo hostel que havia ficado hospedada dias antes, doente há dias e pedindo por um banho quente, entrou no banheiro com um conhecido. Dentro do chuveiro a ativista foi estuprada.

Assim que o estupro terminou, ainda dentro do banheiro, Amber conta que, naquele momento, sabia que não podia manter a situação em segredo. Afinal, ela fazia campanhas intensas incentivando as vítimas de estupro a falarem sobre o caso .”Eu sabia que eu tinha que fazer o que eu pregava. Então, a primeira coisa que eu fiz foi tirar uma foto e escrever um post, descrevendo o que havia acontecido. Eu queria transmitir a mensagem de que não importa o que uma pessoa faça, ela não merece ser estuprada, ela não está pedindo por ele, ela não se colocou naquela situação”, disse.

O episódio aconteceu em novembro do ano passado e, quase dois meses depois, Amber ainda está na África do Sul tentando abrir o inquérito policial para dar continuidade à denúncia.

“Seria fácil desistir, mas se eu aprendi alguma coisa, é que esta causa é muito importante. Ela afeta muitas pessoas para que eu desista. Estou começando uma nova campanha chamada ‘Creating Consent Culture’ (criação da cultura do consentimento, em tradução livre), porque a solução para a violência de gênero e da cultura do estupro é a criação de uma cultura de consentimento, onde nos realmente tratemos uns aos outros como seres humanos, onde nos realmente perguntemos uns aos outros se eles querem um toque ou um beijo antes de dar”, explicou.

Relatos

Depoimento escrito logo após o estupro

https://www.instagram.com/p/-Wv1aZCykc

Foi apenas há alguns minutos, mas às vezes essas coisas acontecem tão rápido que é difícil lembrar de todos os detalhes …. Estive doente durante os últimos 2 dias e hoje foi o meu primeiro dia. Voltei para o meu velho hostel para deixar uma nota para um amigo, Nick. Havia um outro cara lá, Shakir, que estava tentando desesperadamente ficar comigo. Eu o beijei uma vez, mas ele parecia bêbado, então eu disse a ele que era o momento errado, eu já tinha conhecido alguém. Antes de sair, eu subi para dizer oi para mais um amigo. Shakir me seguiu lá cima e disse que estava indo tomar um banho. Ele me convidou para participar. Eu disse que sim, porque a água em meu atual hostel é bastante fria e após 2 dias doente, eu só queria um banho quente. Assim que eu entrei no banheiro, ele me obrigou a ficar de joelhos. Eu disse ‘pare!’, mas, ele ficou mais violento. Ele me levantou e colocou seu pênis na minha vagina. Pedi para ele parar mais uma vez. Comecei a chorar. Quando ele colocou [o pênis] na minha bunda, eu desmaiei. Acordei alguns minutos mais tarde e vi ele tentando se rastejar para fora da porta. Quando ele viu que eu estava acordada, ele voltou para acabar comigo no chuveiro. Eu tenho todas essas sensações depois do estupro … vergonha, nojo, sofrimento. Eu estou aqui, sozinha, e qualquer DNA foi apagado no chuveiro. Estou me sentindo mais doente do que nunca agora. Eu vou desaparecer por um tempo. Sinto apenas a necessidade de aproveitar o sol maldito e chamar meus amigos e familiares nos Estados Unidos. Adoro vocês, pessoal. Obrigada por sempre estar lá para mim. Mais uma razão para continuar [a campanha] #StopRapeEducate, mas não hoje. Hoje, eu preciso descansar.

Relato feito no dia do estupro

https://www.instagram.com/p/-YiDfNCyjd

Estes são as cartas de anjo que eu tirei ontem à noite e que vão para o hospital agora. Continue orando por mim, todo mundo. Lidar com policiais é difícil e o kit de estupro é a última coisa que eu quero – instrumentos de metal em minhas partes íntimas …. Mas isso é o que eu represento. Eu digo a vocês para falar todos os dias e eu sei que eu preciso praticar o que prego. É tão incrivelmente difícil. Mas ter todos vocês aqui para mim faz toda a diferença. Eu sei que isso não pode ir a qualquer lugar e eu sei que eu posso enfrentar o ridículo pela polícia, mas eu vou tomar um tiro em ‘justiça’ de qualquer maneira. O que eu digo aos sobreviventes que chegam a mim é que a justiça, a verdadeira justiça, só pode vir de dentro. A justiça é a paz interior. Eu ainda estou chegando lá, mas se demora muito tempo ou não, eu sei o que eu preciso fazer para curar. Hoje é apenas o dia 1. Graças ao meu novo amigo por ter vindo comigo para o hospital. E muitas graças às dezenas de mensagens que tenho recebido. Vocês todos são incríveis. Eu vou tentar responder a cada um assim que eu puder. ⭐️ #StopRapeEducate

Depoimento escrito enquanto Amber passava por exames clínicos

https://www.instagram.com/p/-Zf2fQCyv7

Minha visão do kit de estupro. Obrigado a todos por serem tão amorosos e me apoiarem durante este tempo. Suas mensagens me empurraram para agir – para mim e para todos os sobreviventes de estupro. Para aqueles que desejam me culpar ou qualquer outro sobrevivente lá fora, eu quero que você saiba que você é a razão de eu ser tão brutalmente honesta. Eu poderia ter escondido detalhes. Eu poderia ter mantido algumas informações para mim mesmo, mas não. Você precisa saber a verdade e ver a realidade da situação. Não importa o que uma pessoa faz, não é um convite para o estupro. Não importa se eu o beijei. Não importa se ele estava bêbado. Não importa se eu disse sim a um chuveiro. Eu nunca disse que ele poderia ficar violento comigo. Eu nunca disse que ele poderia me fazer sangrar. Eu nunca disse que ele poderia me estuprar. Mas, ainda assim, é assim que a cena aconteceu. Eu não preciso me explicar, mas se você está se perguntando por que eu tomei um banho com ele, foi escrito no texto, eu estava doente, com intoxicação alimentar por 2 dias, e precisava suar. Meu lugar de residência atual tem apenas água fria (problemas do terceiro mundo são reais!) E parecia um milagre alguém ter me oferecido um chuveiro quente. Mas, assim que ele teve a chance, ele me jogou no chão e fez suas escolhas. Lidar com o estupro é bastante difícil, mas o resultado é muitas vezes ainda mais traumático, mas eu fiz isso por você e eu fiz isso por mim. A Embaixada dos EUA e a polícia sul-Africana são super solidárias e ele pode ser preso ainda essa semana. Obrigada pelo amor. E para os que me culpam ou me chamam de vitimista, eu mando o amor, paz e iluminação.