Os casos de assédio na Rússia durante a Copa do Mundo 2018 têm atingido mulheres de países diferentes e tomado proporções internacionais. O alvo da vez é a repórter brasileira Júlia Guimarães, que foi mais uma das vítimas: ela quase foi beijada à força enquanto se preparava para uma transmissão ao vivo. E o mais triste é que a jornalista, dias antes da cena, já havia feito um relato forte sobre o tratamento que as mulheres estão recebendo no Mundial da Rússia.
Assédio contra repórter na Copa
Antes da partida entre Japão e Senegal, em Ecaterimburgo, Júlia estava prestes a entrar ao vivo, para a TV Globo, quando um torcedor tentou beijá-la.
A primeira reação da repórter foi esquivar-se da atitude do homem e, em seguida, ainda sob o choque do ocorrido, o enfrentou com duras palavras que deveriam ser ouvidas por todos os agressores.
“Eu não te autorizei a fazer isso. Nunca! Ok? Isso não é educado, isso não é certo. Nunca faça isso! Nunca faça isso com uma mulher. Respeito!”, exclamou a repórter no vídeo que flagrou o momento.
Em entrevista ao Globo Esporte, a jornalista falou sobre o que vive e sente no país que está sediando a Copa do Mundo.
“Estou vivendo isso muito aqui na Rússia, desde olhares agressivos até cantadas em russo, que obviamente eu não entendo, mas sinto. É horrível. Eu me sinto indefesa, vulnerável”, diz.
Texto dias antes reclamava de machismo
Infelizmente, não foi a primeira vez que Júlia sofreu uma agressão durante a cobertura na Rússia. Um outro torcedor também tentou beijá-la antes do jogo entre Egito e Uruguai. Após esse e outros atos, em parceria com sua colega de trabalho Amanda Kestelman, a repórter publicou um texto dias antes da cena que viralizou na web. No relato, feito também para o site do Globo Esporte, as jornalistas contam o que vivem durante a Copa do Mundo.
Júlia diz que ter conquistado a oportunidade de trabalhar durante o Mundial foi uma grande vitória sobre o machismo no futebol, mas afirma que, em um ambiente dominado por homens, ainda sente na pele a inferiorização da mulher.
“Encaramos zonas mistas espremidas entre dezenas de homens – algumas vezes desrespeitosos e brutos. Ouvimos gracinhas (algumas sequer entendemos) desconfortáveis de torcedores. É como se fôssemos um corpo estranho nas salas de imprensa, de coletiva, zonas mistas. Nosso reflexo quase espontâneo de olhar para o chão diante desses olhares diz muito. Olhar para baixo para não chamar ainda mais atenção”, diz.
Casos de assédio durante a Copa do Mundo
Outros casos de assédio contra jornalistas e torcedoras durante a Copa do Mundo na Rússia também ganharam destaque no mundo todo. Dentre os de maior repercussão está o de uma mulher russa que foi cercada por torcedores brasileiros e persuadida a repetir frases que remetiam ao órgão sexual feminino, sem que ela entendesse o que estava dizendo.
https://www.instagram.com/p/BkMG_aoDZuP/
Em outra situação, também envolvendo brasileiros e mulheres russas, os agressores as ridicularizaram ao pedir que repetissem palavras de baixo calão sem que compreendessem o idioma.
Já em outro episódio que teve uma repórter como vítima, assim como Júlia Guimarães, a colombiana Julieth Gonzalez Theran foi beijada durante uma transmissão para a TV e teve ainda um de seus seios apalpados por um torcedor.
“RESPEITO! Não merecemos este tratamento. Somos igualmente profissionais e valiosas. Eu compartilho a alegria do futebol, mas temos que identificar os limites de afeto e assédio”, afirmou a profissional colombiana sobre o ocorrido.
https://www.instagram.com/p/BkDMyupDFqv/
Copa do Mundo 2018
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