Ele quer filhos, eu não!

Parece que as coisas estão mesmo mudando… Até aproximadamente a década de 1960, era raro encontrar uma mulher que não quisesse casar e ter filhos. Uma família feliz e bem estruturada eram os principais objetivos delas. Hoje, casamento e filhos não são mais prioridades para o sexo feminino. No entanto, muitas mulheres vão mais além e, mesmo encontrando um par com quem queiram partilhar a vida, herdeiros definitivamente não estão nos planos. Mas o que fazer quando ele quer ser pai?

Questões como a violência, o custo de vida que aumenta cada vez mais e principalmente o ritmo de trabalho das mulheres são as causas mais apontadas por aquelas que preferem não ter filhos, ou deixar o assunto para mais tarde.

Além de me achar um pouco velha para isso, não tenho mais pique para cuidar de um bebê. Quero curtir a vida, sair, viajar, pois trabalho muito e no pouco tempo que me sobra, quero fazer apenas o que gosto

Raquel Machado, de 25 anos, acaba de se casar. Está superfeliz, vivendo uma lua-de-mel prolongada. O maridão, por outro lado, não vê a hora de ter um pimpolho correndo pela casa, fazendo bagunça e ganhando muito carinho. O que ela acha disso? “Deus me livre ter filho agora!” É o que se escuta ao fazer a pergunta a ela. “Eu amo meu marido e estou curtindo muito a fase de recém-casada. Além disso, planejo progredir dentro da minha empresa, fazer cursos, talvez até um no exterior, ganhar uma promoção, e melhorar de vida. Como vou poder fazer isso tendo que amamentar, trocar fraldas, ir ao pediatra quase toda semana? Ele que me desculpe, mas ter filhos, nem tão cedo!”, diz Raquel, quase em tom de indignação.

O que elas dizem

De acordo com a psicóloga Maria Tereza Pacheco, é cada vez mais comum esse tipo de comportamento entre a mulher moderna, que trabalha, cuida da casa e ainda está antenada com os problemas no mundo. Ela diz que, para ser mãe hoje em dia, a mulher precisa ser, antes de tudo, uma guerreira, ou pelo menos ter uma condição financeira muito confortável, que lhe permita, ao menos, contar com a ajuda de uma babá.

“Muitas pacientes minhas dizem que discutem com o marido porque batem o pé e dizem que só terão filhos quando tiverem condições de contratar uma babá. E isso é só um dos pontos. A mulher atual trabalha, e muito, o dia todo. Muitas vezes se envolve em outras atividades fora do trabalho, como cursos, faculdade, trabalho voluntário, enfim, está com o tempo todo tomado. Quando chega em casa, ainda tem que cuidar dos afazeres domésticos. Mesmo que tenha a ajuda do marido, é bastante sacrificante cuidar de um filho nessas condições. Certamente, ela teria que abrir mão de alguma coisa para se dedicar à maternidade. Isso sem falar na violência crescente e no medo que muitas mulheres têm de não conseguir dar ao filho tudo o que gostariam”, explica.

Assim como acontece com muitos homens, a nova estrutura familiar – na qual pessoas divorciadas se casam novamente e “carregam” os filhos de casamentos anteriores – também tem feito com que muitas mulheres não desejem ter mais filhos. É o caso de Matilde Helena, de 37 anos. “Tenho um casal de filhos do primeiro casamento. Depois de me divorciar, evitei me relacionar com outro homem, por medo do que ele poderia fazer com meus filhos. Sei lá, a gente escuta tanta história por aí…. Hoje em dia, como eles já estão maiores, me abri para um novo relacionamento, e meu namorado, que também tem dois filhos, já fala em constituir uma nova família. Além de me achar um pouco velha para isso, não tenho mais pique para cuidar de um bebê. Quero curtir a vida, sair, viajar, pois trabalho muito e no pouco tempo que me sobra, quero fazer apenas o que gosto”, desabafa.

Para Dra. Maria Tereza, ao contrário do que muitas pessoas podem pensar ao ouvir uma opinião como essa, as mulheres que pensam como Matilde não são frias ou malvadas, são apenas práticas e bem resolvidas. “Ainda faz parte do imaginário coletivo a idéia de que, para ser feliz, a pessoa precisa ser casada e ter filhos. Isso é bobagem. Muitos casais aproveitam a vida a sós para viajar ao redor do mundo, se dedicar mais à carreira, curtir programas a dois ou com os amigos, sem as preocupações inerentes à maternidade e paternidade. A mulher não precisa ter vergonha nem medo de dizer que não quer ter filhos. Os tempos de submissão já se foram há muito e o bem-estar próprio deve ficar sempre em primeiro lugar”, desmistifica.