Gostoso e nutritivo

Para desespero de mães e nutricionistas preocupadas em despertar uma alimentação saudável nas crianças, elas adoram balas, biscoitos, salgadinhos e refrigerantes e, mesmo com toda vigilância dos pais, encontram na escola a possibilidade de comer besteiras no recreio. A solução para isso está na consciência dos donos das cantinas e na disposição das mães de preparar o lanche dos filhos.

Há 33 anos Renato e Alminha são donos e gerenciam uma cantina escolar, em Niterói. A escola exige qualidade e higiene e eles estão sempre atentos a isso. ” Tomamos os cuidados necessários para que a criança receba o alimento mais fresco e limpo possível”, diz Renato. Essa busca pela eficiência os fez evoluir e renovar as máquinas com as quais trabalham desde que iniciaram o negócio. A preocupação não se restringe apenas as máquinas, os alimentos vendidos na cantina também sofreram uma série de transformações. No início eram balas, biscoitos, chocolates e refrigerantes. Hoje em dia a criançada já procura sanduíches, achocolatados e todo tipo de biscoito e eles passaram a fornecer bolos, doces e salgadinhos para festas de aniversário que são realizadas na própria escola. Só não conseguem ainda vender vitaminas e sucos porque o tempo do recreio é curto e não dá tempo para prepará-los. Os cuidados com a higiene começam com os fornecedores que Renato e Alminha fazem questão de visitar regularmente para conferir a confecção dos produtos. O sanduíches naturais foram banidos do cardápio da cantina por falta de um bom fornecedor.

A pediatra e endocrinologista, Evelyn Eisenstein compartilha de outras idéias. Ela não acredita na qualidade dos lanches feitos nas escolas particulares como as públicas e acha que são todos feitos de maneira desequilibrada . “Esquecem que as crianças estão em uma idade de crescimento importante e os alimentos não são adequados. Portanto o lanche da escola, seja ele vendido na cantina ou vindo de casa, tem que ser visto como uma necessidade básica nutricional da criança ou do adolescente, não é aquele algo mais.”, reclama a pediatra. Evelyn chama a atenção, inclusive, para o horário dos lanches. “Ele não é feito de uma maneira adequada. É escalado, geralmente, de acordo com os problemas administrativos da escola, em vez de ser dentro de um horário, que respeitasse um mínimo de duas ou três horas, depois da última refeição dada a criança ou adolescente. Outro exemplo disto é o lanche antes das aulas de educação física, quando deveria ser depois.”, acrescenta.

Evelyn Eisenstein indica aos pais que chequem alguns detalhes no funcionamento das cantinas de escola. O primeiro é a origem da água utilizada, pois, muitas vezes, não é filtrada. O segundo é quanto ao armazenamento dos alimentos perecíveis em locais adequado. “Temos um problema gravíssimo, pois as cantinas deveriam ter um teor de qualidade e de higiene muita maior do que se percebe hoje em dia. Elas deveriam ser mini-cozinhas industriais garantindo assim toda qualidade do alimento que é oferecido e as condições de higiene.” E o terceiro é a falta de oferta de alimentos mais simples e baratos como frutas, sucos, leite e cereais nas cantinas ou lanchonetes.

Toda mãe se esmera ao máximo para oferecer a melhor alimentação para seu filho e não é diferente na hora do preparo da merenda escolar, mas cada uma segue uma filosofia. A psicóloga Heloísa Zen tem três filhos – 20, 18 e 12 anos – e quando eles eram pequenos, ela mandava frutas e bolo feito em casa de lanche para seus filhos. A bebida era a água do bebedouro ou um suco feito na cantina da escola. Os filhos não gostavam nem um pouco. Se sentiam diferentes dos colegas que levavam biscoitos e chocolates e ainda eram ridicularizados, pois os colegas de escola tachavam de pobre as crianças que levavam fruta de merenda, achando que os pais não tinham dinheiro para comprar biscoitos, chocolates e refrigerantes. Para amenizar esses sentimentos nos filhos, Heloísa conversava com eles explicando que comer frutas é um hábito saudável que ajudava no crescimento e no desenvolvimento intelectual deles. Hoje em dia, crescidos, eles têm plena consciência do quanto foi bom terem sido criados com bons hábitos alimentares. Heloísa comenta que o fato de ela mesmo preparar o s lanches passava algo mais: “Acho que os sabores da infância e os cheiros da comida de casa ficam marcados na memória de cada um. É um toque de amor e carinho que a mãe passa através do preparo do lanche”. Sua filha mais velha, já na faculdade, ainda pede para ela preparar o sanduíche.

A empresária Cristina Sampaio, mãe de gêmeas de 11 anos e de uma menina de três anos, que acaba de entrar para a escola, pensa o mesmo que Heloísa. Para ela a maioria das mães, para facilitar a vida, escolhe um pacote de biscoito, um leite achocolatado de caixinha ou até refrigerante como lanche. Ela não. Determinada a desenvolver hábitos alimentares saudáveis nas filhas, faz questão de preparar os lanches pessoalmente. Acorda todo dia bem cedo, vai para a cozinha e escolhe o lanche, evitando alimentos sem valor nutritivo e engordativos. Normalmente, procura fazer sanduíches de pão integral sem casca com queijo de minas, peito de peru ou chester, e como bebida, manda água de coco e leite achocolatado, sempre variando nas escolhas para não se tornar repetitivo e não deixar as crianças mal alimentadas. Uma delas já foi até em uma nutricionista por estar com excesso de peso, então é preciso regular a alimentação e isto inclui cuidados com o que levar de merenda para a escola. Diferente dos filhos de Heloísa, as meninas não se sentem excluídas em nenhum momento, muito pelo contrário. As colegas de escola adoram os lanches e sem a menor cerimônia atacam a comida de suas filhas, obrigando Cristina a preparar sanduíches fartos para deixar as filhas e as agregadas sem fome. Para ela, um lanche saudável é muito, mas não é tudo. Importante é ser um lanche preparado com todo carinho, “com isso elas carregam para a escola a lembrança dos carinhos da mãe”.

A dona de casa Maria Claudia Drummond, mãe de três crianças – um com seis anos, um com três e um de apenas 20 dias – acha que o lanche dos filhos têm que acompanhar o dos colegas. Ela acha que se seus filhos não levarem os biscoitos recheados, os chocolates e as batatas-fritas tão desejados, se sentirão diferentes e ficaram chateados. Então ela não radicaliza, até porque não gosta de ouvir a queixa dos filhos de que não levam a garrafinha do guaraná Pokemon. “Acho que se deve mandar um lanche saudável, mas também algo parecido com que os outros comem de merenda. Também não condeno os baleiros, acho que faz parte da infância um baleiro na porta da escola, não é saudável, mas não acho ruim. Faz parte da vida de toda criança.”, garante Maria Claudia.