As aulas voltaram. Com elas, a rotina escolar dos pequenos. Primeiro tempo: Matemática. Segundo tempo: Português. Terceiro: Ciências. Piiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Toca o sinal: hora do recreio! Bom, chegou o momento mais aguardado pelas crianças. Durante o intervalo, elas brincam e repõem as energias com o cobiçado lanche. Mas será que seu filho está se alimentando direito no colégio? Então, preste atenção e faça a lição de casa direitinho: aprenda o que ele pode e deve levar na lancheira.
Salgadinhos, balas, sorvetes, hambúrgueres e refrigerante fazem parte do cardápio da cantina de muitas escolas. Delícias que tiram nota zero no quesito saúde, pois o consumo de guloseimas, aliado ao sedentarismo, vem contribuindo para a obesidade infantil em todo mundo. Aqui no Brasil, temos, inclusive, um dado curioso: há mais pessoas obesas do que subnutridas – um índice que só vem aumentando. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, nos anos 80, as crianças representavam apenas 3% dos obesos. Atualmente, elas são mais de 15%.
É na infância que a criança incorpora hábitos que poderão diminuir a incidência da obesidade, anorexia, ou qualquer outro distúrbio alimentar, além de doenças cardiovasculares e diabetes.
E não adianta culpar as crianças, não! Quase sempre o problema começa dentro de casa. A vida corrida de muitos pais faz com que seja mais simples rechear a carteira com um dinheirinho para comer na cantina do que colocar queijo no pão. A economista Kátia Junqueira sabe bem o que é isso. Durante anos, ela deixou sua filha, Bruna, de 11 anos, comprar o lanche na escola. “Ela quase não levava coisas de casa, quando muito um biscoito ou um bolo”, comenta.
A alimentação de Bruna acabou lhe trazendo conseqüências. Depois de fazer um exame de rotina na filha, Kátia descobriu que menina estava com o colesterol alto com menos de 10 anos. “Eu ainda reclamo quando vejo uma fruta dentro da mochila. Mas sei que é o melhor pra mim, e acabo comendo”, conta Bruna.
Depois do susto, Kátia botou não só a filha como toda a família na linha. Na lista do supermercado, alimentos mais saudáveis para todo mundo, e um acompanhamento mais rigoroso com o que Bruna leva na lancheira. No entanto, Kátia assume: “Vira e mexe eu deixo ela comer na escola, não dá para evitar”.
Mas se depender das autoridades de muitas cidades, Kátia pode ficar tranqüila com a hora do recreio da filha. O prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, proibiu, no início de abril de 2002, a venda de doces e frituras nas escolas da rede municipal – exemplo seguido por diversos colégios da rede particular de ensino. Hoje, várias cidades também adotaram essa medida e a lista dos alimentos suspensos nas escolas só aumentou. Sorvetes e picolés, refrescos artificiais e até mate estão reprovados.
O que lanchar?
Escolher o que a criança come na hora do lanche escolar não é tarefa fácil, mas pode fazer a diferença para a vida toda. De acordo com a nutricionista Anita Sachs, frituras, doces com alto teor de açúcar (como o brigadeiro), biscoitos e alimentos gordurosos devem ser evitados. Mas, como se trata de criança, não precisamos tirar todo o gostinho. “Uma vez por semana está de bom tamanho; mais que isso é excesso”, alerta Anita Sachs.
A nutricionista Luciana Bruno, da Unimed Paulistana, afirma que uma lancheira saudável deve ter um alimento de cada grupo alimentar. Ou seja, um que conceda energia (massas), um que forneça proteína (leite e derivados) e um que contenha vitaminas e minerais (frutas, legumes e verduras). Cabe aos pais conjugar os nutrientes na merendeira dos pequenos. “É na infância que a criança incorpora hábitos que poderão diminuir a incidência da obesidade, anorexia, ou qualquer outro distúrbio alimentar, além de doenças cardiovasculares e diabetes”, alerta Luciana.
Anita Sachs destaca que o tipo de alimentação adequada varia conforme a idade e o sexo da criança. “Há uma fase que elas comem quase que a mesma quantidade. Mas, conforme a adolescência avança, esse padrão tende a mudar e os meninos passam a ingerir mais comida”, revela Anita. É importante os pais saberem que o paladar da criança também muda e ela passa por diversas fases alimentares. Portanto, novos alimentos devem sempre ser oferecidos.
Outro lembrete que a nutricionista Luciana Bruno dá é que o lanche escolar não é a única refeição do dia, portanto, uma boa alimentação não depende só desse horário. “Isso tira um pouco da culpa dos pais ao terem uma banana devolvida na lancheira, por exemplo. Se ela fosse oferecida em outra hora, talvez fosse melhor aceita”, finaliza.