O rosbife

Aí, na semana passada, uma leitora me pediu uma receita beeeem carnívora. Como já há algumas semanas só temos aqui histórias e necas de receitas, achei que era um pedido pra lá de justo. Assim, hoje vou contar uma história (e dar a receita) de rosbife.

A origem do rosbife tem pelo menos duas versões. A que eu mais gosto é de uma empregada mineira da minha tia, que achava que “rosbife” era um jeito preguiçoso de dizer “arroz e bife”. Depois da terceira tentativa frustrada de comer carne do jeito que queria, minha tia demitiu a pobre moça, que nunca deve ter entendido o sentido de tanta impaciência da patroa.

Agora, tempere sua carne com sal e pimenta-do-reino de todos os lados. Não precisa furar! Pense que aquele pedaço de boi que está ali, pacificamente inerte para o seu deleite, já cumpriu sua cota de sofrimento durante o abate

A segunda versão, mais divulgada, mas nem de longe tão divertida, afirma que “rosbife” vem do inglês, roast beef, ou carne assada.

Pronto. Já vou começar desvirtuando de cara a origem da palavra. Porque minha receita oficial de rosbife, que fica perfeitamente crocante e dourada por fora e divinamente rosada e macia por dentro não é assada, e sim frita.

Por ser frita, tem a desvantagem de deixar sua roupa, a roupa que está pendurada no varal, os seus panos de prato, os seus quadros, os seus sofás, os seus filhos e os seus cabelos cheirando a óleo. Eu tenho uns truquezinhos para ajudar a reduzir esses efeitos colaterais, mas, de qualquer modo, não recomendo fazer o rosbife meia hora antes daquele encontro que você está tentando viabilizar há três meses. Faça de manhã (ou na véspera), depois tome um banho, lave os cabelos, troque de roupa e borrife umas gotas de óleo de lavanda pela casa. Essa receita de rosbife está em algum canto dessa imensa Bolsa de Mulher. Provavelmente aqui.

Minha segunda receita também fica espetacular e tem vantagens adicionais: é ridiculamente fácil de fazer (mas de grande efeito moral) e não é frita e sim assada, como os rosbifes “de verdade” devem ser. Vamos a ela.

Escolha uma bela peça de carne. Pode ser contrafilé, maminha, fraldinha, picanha ou alcatra. Se você escolher contrafilé ou picanha, que têm mais gordura, tenha o cuidado de assar com a parte da gordura virada para cima. Parte dela derreterá durante o tempo de forno, não apenas protegendo a carne, mas deixando-a espetacularmente macia.

Escolheu a carne? Ótimo. Dependendo da peça, talvez você precise limpá-la um pouco, mas não se preocupe em limpá-la cirurgicamente. O bom dessa receita é que o maior trabalho que você vai ter é o de pesar a carne. Isso mesmo. Pesar. Não tem balança em casa? Sem problema. Na embalagem em que você comprou a dita cuja, certamente tem o peso escrito. Se limpou a carne, desconte uns graminhas a título da limpeza e pronto.

Comece esquentando o forno bem forte. No máximo. Um calor dos infernos por, ao menos, 15 minutos. Agora, tempere sua carne com sal e pimenta-do-reino de todos os lados. Não precisa furar! Pense que aquele pedaço de boi que está ali, pacificamente inerte para o seu deleite, já cumpriu sua cota de sofrimento durante o abate. É desnecessário torturar ainda mais o coitadinho. Para o tempero funcionar, é recomendável que você ponha a mão na massa. O melhor jeito de temperar é esfregando com a mão. Se você não gosta de tocar em carne, use luvas. Se tem unhas compridas, a idéia das luvas é mais do que justificável.

Temperada? Ótimo. Agora, derreta umas duas colheres de sopa de manteiga e pincele toda a carne com ela. Finalmente, polvilhe com orégano. Se você é daquelas poucas pessoas que não gostam de orégano, polvilhe com manjericão, com sálvia ou com algum tempero do seu agrado. Não gosta de tempero? Então, não use nada, sua enjoada! Fica bom do mesmo jeito.

Originalmente, me ensinaram a colocar a carne para assar em uma assadeira, suspensa por uma grade. Usei das primeiras vezes, mas aí a grade que eu tinha quebrou, eu nunca comprei outra e passei a fazer sem. Quer saber? Não notei diferença alguma. Assim, coloque sua carne em uma assadeira e – agora, sim, o pulo do gato, o segredo do sucesso – marque dois minutos para cada 100 gramas de carne. Sua peça pesa 900 g? 18 minutos; 1,2 Kg? 24 minutos; 1,3 Kg? 26 minutos. Deu pra entender, né? Esse tempo de forno tem que ser levado MUITO a sério porque se não for, sua carne vai virar uma sola de sapato e você vai vir aqui, dizer que a minha receita não presta. Assim, seja de uma precisão suíça com esse tempo. Use um cronômetro, se necessário. Terminado o tempo, apague o fogo e deixe a carne lá dentro, descansando por pelo menos uma hora. O ideal é que ela fique lá até o forno ficar quase frio.

O que mais? Mais nada. Acabou. Não falei que era ridiculamente fácil? Depois que a carne estiver descansada, relaxada e pronta para o consumo, abra o forno, verta o molho em uma molheira (ou deixe na assadeira mesmo e passe as fatias de carne nele), corte em fatias finas e sirva com o que quiser. Vale arroz, batatas cozidas ou uma salada caprichada. É satisfação garantida ou o seu dinheiro de volta.