Sabem de onde vem essa verdura maravilhosa, tão odiada pelas nossas crianças, chamada espinafre? Acreditem, se quiserem, mas a situação geográfica é de grande atualidade: o espinafre vem do Afeganistão! O seu nome de origem árabe é “esbanach” ou “sebanach”. Desconhecido das grandes civilizações da antigüidade Greco-romana, o espinafre foi introduzido na Andaluzia pelo árabes, pouco antes do ano 1000. Os médicos o utilizavam muito para fazer cataplasmas para curar dores de fígado e de estômago.
O pobre espinafre sempre foi visto com maus olhos, no ponto de vista culinário. Foi preciso a intervenção da italiana Catarina de Médicis (1519 – 1589), que aliás começou a civilizar os Franceses introduzindo o garfo e o uso de roupas íntimas para as mulheres, para que o espinafre ganhasse o seu lugar de honra no meio das outras verduras. Catarina, que era de uma riquíssima família de Florença, foi oferecida em casamento ao futuro rei da França, Henrique II, para salvar as finanças do reino. Ao chegar na Corte, foi rejeitada pela sua feiúra e pelo fato de ser estrangeira. Mulher de grande inteligência, refinamento e amante das artes, conseguiu que muitos de seus costumes fossem para sempre adotados pelos franceses, entre eles a valorização do espinafre. Tanto que até hoje, quando se lê num cardápio “acompanhamento à Florentina”, o que quer dizer com espinafre, estamos fazendo uma homenagem à Catarina de Médicis.
Mas, se o espinafre conseguiu penetrar no mundo dos adultos, no meio infantil ele é sempre considerado o grande vilão da alimentação. Pobres mães, que tentam de tudo para que seus pequenos rebentos comam um pouco dessa verdura tão rica em ferro e vitaminas. Confesso que eu mesma tento enganar minha filha fazendo cremes, panquecas, suflês, disfarçando o gosto de espinafre com bastante queijo. Às vezes saio vitoriosa na enrolação, mas na maioria dos casos sou rapidamente vencida.
Para convencer as crianças, podemos agradecer a muitos cartunistas que criaram personagens gulosos, como o corpulento Obelix, Magali, apaixonada por melancia, Garfield, o gato devorador de lasanhas, o bon vivant coelho Pernalonga, e as Tartarugas Ninja, fãs de carteirinha de uma boa pizza de mussarela. Habitado por heróis de todas as épocas e de todos os gêneros, o incrível mundo dos gibis tem uma deliciosa galeria de personagens bons de garfo, sem esquecer do marinheiro Popeye, personagem que nos interessa muito hoje.
Popeye foi criado em 1919 pelo cartunista E.C. Segar, que lançava uma série de tiras chamada “Timble Theatre”. Dez anos mais tarde, no dia 17 de janeiro de 1929, um personagem da tira contratava um marinheiro caolho e com um pito no canto da boca para lhe fazer um serviço. Assim surgia o Popeye. A série, que já era famosa antes do marinheiro, ganhou milhares de novos leitores com ele. Popeye estreou no cinema em 1933, em um desenho animado ao lado de Betty Boop. Desde então, mais de 600 desenhos animados foram produzidos.
No auge de sua fama, Popeye gerou um aumento de 30% no consumo de espinafre – a comida que o faz ficar forte – nos Estados Unidos, segundo pesquisas dos cultivadores do vegetal. As mães americanas, conta a pesquisa, convenciam os filhos a comerem espinafre alegando que assim eles ficariam fortes. Popeye apareceu em 1936 no Brasil com a linda alcunha de “Brocoió”, e é, até hoje, uma tábua de salvação para o enredo de apelação das mães.
Como cozinhar espinafre:
Coloque as folhas lavadas em uma grande panela. Se desejar, você pode colocar um pouco de manteiga. Não acrescente água, deixe cozinhar em fogo médio de 10 a 15 minutos, mexendo de vez em quando. As folhas também podem ser refogadas com um pouco de alho e cebola.
Para as mães insistentes, aconselho fazer um bom molho branco, com bastante queijo ralado e juntar com o espinafre bem batidinho. Para essas que fazem parte do famoso Clube das Mães Bananas, do qual minha amiga Cândida é presidente e eu tenho a honra de ser vice-presidente, dou o sábio conselho de parar na insistência e passar para outro legume, afinal o gosto muda com a idade.