Sopa Vichyssoise

Perdoem essa colunista de São Paulo que, ignorando o clima no resto do Brasil (e no mundo), acaba contando suas histórias e dando suas receitas sempre em função do clima desta cidade poluída e congestionada. É mais forte que eu. Bem que tentei, mas é difícil dormir com dois cobertores, acordar com as orelhas frias, abrir a janela e dar de cara com um dia lindo e um ar gelado, vir aqui para a frente do computador e falar em salada e vegetais crus. Assim, a receita de hoje é uma sopa. Uma sopa importada do lado francês da família, que já aqueceu muitas carcaças em noites até mais frias do que as que temos tido.

Hoje, posso revelar que apesar dos esforços dos meus avós, só aprendi a pronunciar o nome da sopa décadas depois, quando tive aulas formais de francês. Graças à paciência de monsieur Jean Pierre, le professeur e à transcrição fonética

A boa notícia é que tanto quanto aquecer, essa sopa também refresca. Isso mesmo. Trata-se de uma sopa reversível! Assim, para quem mora em cidades onde os termômetros não baixam dos vinte e cinco graus nem por decreto, a dica é servir a sopa fria. Gelada. Fica divina, charmosa e alimenta.

Por incrível que pareça, o mais difícil é aprender a falar o nome da danada. O resto é moleza. Lembro do meu avô (que era alemão e não francês) pronunciando cada sílaba len-ta-men-te e morrendo de rir com a minha confusão. Na época, eu tinha três anos e toda vontade do mundo de agradar. Vovô me sentava em cima do balcão da cozinha de onde, além de ter uma visão privilegiada, eu ficava fora do alcance dos dois dobermans da casa, que também disputavam ferozmente – muito mais ferozmente que eu, por sinal – as atenções. De vez em quando, minha avó aparecia para conferir nosso progresso e aproveitava para beliscar um talo de salsão.

Hoje, posso revelar que apesar dos esforços dos meus avós, só aprendi a pronunciar o nome da sopa décadas depois, quando tive aulas formais de francês. Graças à paciência de monsieur Jean Pierre, le professeur e à transcrição fonética, estufo e peito e digo:

– Vamos tomar uma Sopa Vichyssoise?

– Virgem, Ana! ‘Vixi’ quem? Eu é que não vou tomar isso! Sei lá o que vai num troço com esse nome! Deusmelivreeguarde!

– É uma sopa de batata, criatura. Quanto preconceito, credo!

– Sopa de batata, Ana? E pra que enrolar a língua desse jeito por causa de uma batata? Só você mesmo, viu? Affff!…

Sopa Vichyssoise

250 g de batatas, cortadas em cubos

200 g de alho-poró, cortado em rodelas finas

1 colher (sopa) de manteiga

4 xícaras de água (eu uso caldo de galinha sem gordura. Fica melhor ainda)

1 colher (chá) de farinha de trigo

500 ml de creme de leite fresco, gelado

100 g de talos de salsão bem verdes

Sal, pimenta-do-reino e pimenta-da-jamaica a gosto