Marianna Feiteiro
Do Bolsa de Bebê
Ir mal na escola nem sempre significa falta de interesse ou compromisso. Se seu filho vem apresentando baixo rendimento escolar, notas muito ruins e reclamações dos professores, ele pode estar com algum distúrbio de saúde ou emocional.
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Segundo a Dra. Clarissa Bueno, neuropediatra do Hospital São Luiz, o problema pode ser originado alguns fatores. Um deles diz respeito aos conflitos psicológicos e sociais. Isso envolve questões como maturidade atrasada da criança, que faz com que ela “perca o bonde” e é visto com bastante frequência nos consultórios, situações familiares, que são capazes de exercer grande influência no rendimento escolar e, se foram ignoradas, podem gerar um déficit permanente para o aluno, e problemas com autoestima, que geram uma insegurança tal no paciente acaba nem tentando desenvolver as atividades por medo de falhar. Muitas vezes, o problema vira uma bola de neve, uma vez que o aluno percebe que está indo pior que os colegas na escola e fica com a autoestima mais afetada ainda.
Outro fator de grande influência é o neurológico. A especialista explica os distúrbios que se encaixam nesta categoria:
Déficit de atenção
O que é: dificuldade para focar a atenção em uma determinada tarefa por um período de tempo longo. Para que a criança consiga manter o foco, é necessário que a atividade seja muito estimulante, ou que possa ser feita rapidamente. O problema não se manifesta apenas na escola, mas também nas atividades do dia a dia. Pode ou não vir associado ao quadro de hiperatividade.
Como tratar: a orientação é que o aluno sente-se na primeira ou segunda fileira, porque, se ficar no fundo da sala, vai acabar se distraindo facilmente. As ordens devem ser dadas diretamente para ele, e não apenas como um aviso geral para a classe inteira. O tempo estipulado para cada tarefa deve ser mais curto, e é preciso que haja intervalos para que o aluno se recupere. No caso das provas, o tempo cedido deve ser maior. O tratamento também pode ser feito por meio de medicamentos.
Hiperatividade
O que é: dificuldade de controlar impulsos e, entre eles, o de se manter quieto e concentrado em uma atividade. Essas crianças são mais agitadas do que o habitual, por isso acabam preferindo atividades dinâmicas. No entanto, no momento em que precisam se organizar e desenvolver estratégia, não conseguem. Os alunos hiperativos geralmente são os que dão trabalho na escola, mas nem sempre é o caso. Muitas vezes, não têm paciência de ouvir a questão inteira ou de analisar a situação e acabam dando respostas equivocadas durante as avaliações.
Como tratar: as técnicas são as mesmas utilizadas para o déficit de atenção. São feitas tentativas de diminuir as situações ao redor da criança que possam distraí-la e procura-se manter o tempo das atividades reduzido. A recomendação é que não ultrapasse 20 minutos. É possível também revezar diferentes atividades para manter o interesse do aluno. A condição pode ser tratada com medicamento.
Dislexia
O que é: um distúrbio específico no aprendizado da leitura e escrita. O aluno tem dificuldade em perceber a relação entre os fonemas (aquilo que ouvimos) e os morfemas (aquilo que escrevemos). Normalmente, são crianças que vão bem nas matérias exatas, como matemática, mas é possível que a dislexia reflita também nessas matérias a partir do momento que o aluno não consegue ler corretamente os enunciados das perguntas.
Como tratar: o método pedagógico precisa ser adaptado. Muitas vezes, adota-se o modelo de provas orais. Como a criança não consegue enxergar a relação entre palavra e som, o acompanhamento com um profissional da Fonoaudiologia é fundamental, bem como sessões de terapia.
Dificuldades de memória
O que é: a causa pode ser múltipla e, em alguns casos, está ligada a uma lesão estrutural no sistema nervoso. Na maioria das vezes, a criança apresenta apenas uma dificuldade maior em fixar a matéria, o que deve ser tratado do ponto de vista pedagógico.
Como tratar: para detectar o problema, é preciso fazer uma avaliação neuropsicológica do aluno. A recomendação é aplicar atividades repetitivas e mais longas na escola, uma vez que é preciso repetir as informações um número maior de vezes para que o aluno consiga memorizar.
Existem, ainda, os quadros de deficiência mental leve, que, por algum motivo, passaram despercebidos pelos exames e podem comprometer o rendimento escolar da criança. O que deve ser feito neste caso é um programa de inclusão adequado na escola.
Em todos os casos, a adequação do método pedagógico é essencial, bem como o acompanhamento psicológico, que previne que a criança desenvolva um quadro de baixa autoestima que irá piorar ainda mais o seu quadro. “Além disso, é indicado o uso de terapias que auxiliam no aprendizado através do ensino de técnicas de como se portar, como driblar determinadas situações e como organizar as tarefas que vai fazer no dia. É algo muito simples, mas que alguém precisa orientar”, defende Dra. Clarissa.
Como identificar
“A primeira pessoa que vai perceber é a professora. Ela irá analisar a média da turma e, com sua experiência profissional, conseguirá identificar se aquela criança tem mais dificuldade do que o esperado”, explica a especialista. “A partir daí, devem ser feitas avaliações pedagógica, para avaliar o desempenho da criança, psicológica e, muitas vezes, neuropsicológicas e, então, começa-se a delinear se realmente há algum problema”, completa.
Os pais também desempenham um papel importante no diagnóstico e tratamento. Eles devem acompanhar de perto as atividades escolares da criança e ajudá-la com o dever de casa, sempre observando se há dificuldade maior do que o normal. “Eles devem ficar atentos às atividades do dia a dia e verificar se a criança tem dificuldade em realizar outras tarefas fora da escola. Além disso, os pais precisam ser parceiros dos pedagogos neste processo, organizando a rotina de casa e proporcionando um ambiente organizado para que a criança consiga ter calma para aprender e se concentrar”, alerta Dra. Clarissa. “A criança precisa aprender a se organizar, e é a família quem tem de ensinar isso. Um ambiente propício é extremamente importante”, completa.
Vale destacar que nenhum destes distúrbios tem cura: eles são uma característica intrínseca da pessoa que deve ser adaptada ao cotidiano.