Estava lendo no fórum o dilema de algumas mães em assumirem o papel de ‘mulher’. Mulher esta que tem necessidade de sair e se divertir, de exercitar a sensualidade e a sexualidade, que divide tudo isso com a culpa de precisar ser mãe em tempo integral. Dilema compreendido e mais do que legitimado, vamos então discuti-lo!
Antes de ser mãe, a mulher costuma dedicar-se, sem crise, a cuidar do lado profissional, fazendo cursos, pós-graduações, viagens. Da mesma forma cuida de sua saúde física e mental: faz academia, caminhada, depilação, passa cremes, compra roupas, sai com os amigos, marido, namorado, ri, diverte-se, curte a vida do seu jeito. Após a maternidade, porém, descobre um sentimento novo: o amor incondicional por aquele pequeno ser que gerou e aí… muitas coisas mudam!
Além deste sentimento, a maternidade traz consigo o rótulo social da perfeição, a imagem de alguém com uma dedicação tamanha que é capaz de abrir mão de tudo pelo filho. É justamente este rótulo que muitas vezes aprisiona a mulher contida na mãe, que faz com que priorize as atribuições da maternidade, acarretando no esquecimento do eu, do ser mulher. Aí, então, começam as angústias e os dilemas.
Quem disse que, para ser boa mãe, é preciso deixar de lado os desejos inerentes à mulher? Quem disse que o papel de mãe não combina com ficar exausta após um final de semana com os filhos? Quem disse que mãe não pode ter momentos de prazer longe dos seus pimpolhos? Afinal, quem disse mesmo que ser mãe é padecer no paraíso? É momento de desconstruir estes paradigmas e deixar fluir de forma natural e sem culpa os vários papéis a serem exercidos: mulher, mãe, esposa, profissional. E permitir-se ser feliz.
Lembre-se que não é muito o que se diz, mas, principalmente, o que se faz que serve de modelo para formação das crianças.
Sem dúvida a maternidade requer responsabilidade, compromisso com a formação do filho, grande dose de paciência, energia física e mental e capacidade de dar amor e afeto. Não se pode pensar em abrir mão deste compromisso, que requer, em alguns momentos, a abdicação de algo pessoal em detrimento do filho – mas só em alguns momentos! Somente constituindo-se como uma pessoa que pensa, ri, chora, erra, acerta, tem prazer, desejos, cansaços, que ama e tem sentimentos, a mulher descobrirá em si uma forma harmônica e saudável de exercer sua função de mãe.
Um filho não precisa de uma mãe dedicada exclusivamente a ele. Não faz bem a ele, muito menos a você. Todas precisam de um espaço de liberdade para a conquista da felicidade. Porque é fundamental estar bem consigo mesma para exercer qualquer papel, inclusive e, principalmente, o de mãe. Mesmo sem perceber, a frustração sai pelos poros e você pode perder o equilíbrio para dizer o “não” e o “sim” nos momentos certos.
Lembre-se que não é muito o que se diz, mas, principalmente, o que se faz que serve de modelo para formação das crianças. Perceber que a mãe tem amigos, tem uma relação de amor com o marido ou namorado, se diverte, é feliz e realizada, enfim, que tem vida própria, favorecerá o desenvolvimento saudável do seu filho. Depois, quando ele começar a alçar novos voos e não precisar mais dos seus cuidados, pode ser que uma sensação de vazio tome conta de você, pois nada mais foi vivido ou construído além da maternidade. Este sentimento de vazio pode transformar-se em cobrança. Cobrança injusta, pois um filho não tem culpa nem responsabilidade sobre as escolhas da mãe.
Ser mãe não é viver isolada do mundo, pelo contrário, é estar inserida nele entendendo que você também é mulher. Assuma esta realidade e seja feliz!
Márcia Mattos é psicopedagoga e pedagoga do Apprendere Espaço Psicopedagógico.