Uma menina de 12 anos, depois de ser estuprada diversas vezes pelo pai, criou coragem para, através de uma carta, contar à mãe sobre os ocorridos. No relato, a menina pede desculpas e diz que não teve coragem de contar tudo o que acontecia antes. Existe uma forma de saber que uma criança está sendo abusada? Como agir caso existam suspeitas?
Pai estuprou própria filha: entenda o caso

O caso chegou a conhecimento das autoridades depois de a mãe receber a carta da menina e procurar uma delegacia de Manaus, cidade onde residem.
O exame do Instituo Médico Legal (IML) confirmou os abusos e o homem foi preso, acusado de estupro de vulnerável.
Na carta, a menina começa pedindo desculpas à mãe e diz que não conseguia impedir abusos do pai.
Trechos da carta

“Mãe, me perdoa. Faz um tempo que isso tá acontecendo […] Eu nunca reagi, eu deixava, eu fingia que tava dormindo ou que tava deitada. Hoje isso aconteceu. Isso é tão nojento. Mãe, eu nunca tive coragem de dizer para ele parar. Tudo começou quando ele veio com a história de que queria lutar. Eu queria tirar ele de cima, mas eu não conseguia. Depois eu deixei. Mas, eu, na minha mente, nunca quis. […] Isso sempre me doía muito, mas eu sempre deixava. […] Não queria olhar na cara dele mas eu tinha que fingir que tava tudo normal. Eu não queria mais escutar nos jornais coisa de abuso porque me dói muito. Eu já tinha escrito outra carta só que eu não tive coragem de entregar. Eu pedi a Deus coragem para entregar essa. Nem ele nem a senhora viam eu chorando, mas eu choro muito.”
Ao site de noticias G1, o tenente B. Chaves, da 4ª Companhia Interativa Comunitária (Cicom), disse que mãe e filha estavam abaladas e que a menina só decidiu contar porque, na tarde do dia da denuncia, tinha sido vitima duas vezes do estupro. “Ela sentia vergonha, tinha medo. Ela pedia perdão porque, na cabeça dela, estava traindo a própria mãe”, afirmou.
Abuso infantil

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Hospital das Clínicas (HC), da Universidade de São Paulo, de cada 10 crianças vítimas de violência sexual, quatro foram abusadas pelo próprio pai (38%). Outras 29% apontam o padrasto como agressor. Em 88% dos casos, o abusador vive com a criança no círculo familiar ou social próximos.
Para os pesquisadores, fica claro que a criança é vitima dentro de casa. Como grande parte delas não denuncia, por medo ou falta de consciência de que a situação é problemática, a mãe e outros familiares devem estar sempre atentos às reações comportamentais.
O que fazer nesses casos

Como identificar que uma criança está sendo vítima de abuso?
É comum que, nessas situações, a criança se sinta culpada. Isto porque, durante os abusos, geralmente o agressor faz ameaças não só de tom violento, mas também psicológico, dizendo que ninguém vai acreditar na história, que algo muito ruim vai acontecer com a família ou ainda que ela deixará de ser querida pelos familiares. Crianças mais velhas podem achar que estão traindo a mãe, como no caso da menina de Manaus, ou destruindo a relação dos pais.
Por isso, mesmo que a criança não conte o que está acontecendo, mães, pais e familiares devem sempre estar atentos ao comportamento infantil.
De acordo com a ONG Childhood, que trabalha pela proteção da infância, a criança sempre mostra que está sendo vitima de um abuso sexual, mesmo que isto não aconteça de forma explícita. Desenhos, linguajar sexualizado e impróprio para sua idade, pesadelos, medos incomuns, sintomas físicos ou forte resistência para ver determinadas pessoas estão entre os sinais mais comuns.
No entanto, introspecção, agressividade, isolamento, tristeza, apatia e alterações no sono, embora não sejam sintomas claros das agressões, podem ser fortes indicativos.
Por isso, além da essencial observação, é importante estabelecer um vínculo de confiança com a criança, para que ela se sinta à vontade e segura para relatar as situações, além de, é claro, acreditar no que ela disser.
Como denunciar?
A qualquer suspeita ou sinal de que a criança esteja sendo vítima de abuso sexual, é importante acolher e, de modo algum, fazer com que ela se sinta culpada ou responsável pelo ocorrido.
Depois, é essencial garantir a segurança da criança para que, enquanto a denúncia aconteça, ela não seja agredida mais vezes.
Onde denunciar?
As notificações oficiais podem ser feitas no Conselho Tutelar da cidade, na Vara da Infância e da Juventude, ao Ministério Público ou a uma delegacia da cidade.
O telefone 100, da Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal também recebe denúncias, que podem ser feitas anonimamente.
Como é a investigação?
Após a denúncia, um processo é aberto. A depender do caso, exames de corpo de delito são solicitados ao IML, e o delegado responsável pelo caso, em conjunto com outros profissionais, como conselheiros tutelares, assistentes sociais e psicólogas, segue com as investigações.
Como evitar que meu filho seja vítima de abuso

No entanto, mais importante do que acolher e denunciar as ocorrências é evitar que elas aconteçam – e algumas medidas podem ser tomadas nesse sentido. A partir dos cinco anos, a criança já pode ser orientada sobre é o que uma conduta inadequada por parte de um adulto, independente de quem seja.
Por isso, usando exemplos compreensíveis para cada idade (mais simples para as pequenas e com mais detalhes para as maiores), é essencial ressaltar que ninguém pode tocar em suas partes íntimas, nem dar abraços estranhos ou pedir para que ela coloque a mão ou a boca em determinadas regiões do corpo.
Abuso ou estupro na infância: Tem como denunciar depois de muito tempo?