Recebo todos os dias em meu consultório a visita de mães aflitas que me procuram com a seguinte pergunta: “Doutor, meu filho não come!”. Ao olhar para a maioria dos bebês, constato semblantes bonitos, cabelos sedosos e crianças por vezes tão ativas que interferem na condução da conversa.
Diante deste quadro, pergunto com ar despreocupado para a cuidadosa mãe: “Interessante essa falta de apetite, não é? Mas vamos avaliar o que ela come de fato…”.
Daí para frente a resposta é quase certa. Crianças não têm cartão de crédito, cheque especial e linha de crédito para ir ao supermercado e comprar comida. Então, como ela consegue obter alimentos “não tão ideais” para o seu cardápio diário? E a mãe responde com ar culpado: “É, doutor, somos nós, papai e mamãe, que damos isso para nosso filho…”.
Com altas doses de açúcar no sangue, o mecanismo da fome não funciona. Só quando o açúcar começa a cair no sistema sanguíneo é que o corpo emite um sinal vital de… Coma! Coma! Coma!
Com muito jeito e uma grande dose de humor,sempre respondo para as mães aflitas: “Sinto muito, mas esse quadro… não tem cura!”.
Definindo parâmetros para a alimentação
Não existe no mercado nenhuma vitamina nem medicação que faça com que uma criança adore comer, por exemplo, escarola refogada. O que é necessário é que a criança tenha fome. E, para se ter fome, é preciso conhecer dois parâmetros principais:
– O estômago tem necessariamente que estar vazio;
-Quanto menor a quantidade de açúcar no sangue, maior é o estímulo para a fome.
Na atualidade, bebês e crianças vivem comendo o tempo todo. Não há mais o jejum de quatro horas necessário para que ela efetivamente passe a ter fome. Por certo, não existem também horários pré-determinados para as refeições. O ideal são quatro refeições ao dia: manhã, almoço, merenda e jantar, todos com horários fixos e intervalos que respeitem às quatro horas necessárias de jejum.
O que acontece hoje é que os intervalos são recheados de quitutes, sucos e outras pedidas do mundo moderno, que interferem diretamente na alimentação. Na hora da correta refeição, a criança passa então a não ter fome, ou a tem de forma diminuída. Baixo estímulo alimentar.
Outra questão é que sucos, refrigerantes e algumas comidas prontas podem ter excesso de açúcar e isso manipula o organismo. Com altas doses de açúcar no sangue, o mecanismo da fome não funciona. Só quando o açúcar começa a cair no sistema sanguíneo é que o corpo emite um sinal vital de… Coma! Coma! Coma!
Como resolver de forma definitiva!
É simples. Os pais só precisam se conscientizar que rigor, neste caso, é essencial.
– A primeira coisa a fazer é definir um horário alimentar para a criança e mantê-lo ativo. A criança tem que acordar cedo para comer sua primeira refeição – por volta das 7h até 8h, almoçar após 4 horas em jejum (por volta do meio-dia), fazer um lanche lá pelas 16h e, finalmente, jantar à noite, não depois das 20h. E nada de comida nem guloseimas no intervalo!
– Outra dica é não substituir alimentos. Quem define o que comer é o adulto e nunca a criança. Não quer comer, não come. A ordem é pular para o horário seguinte de refeição. Pode ter a certeza que a fome vai bater forte…- Comidas saborosas, nutritivas, bonitas de se olhar e coloridas são infalíveis. Manipule a fome!
– A criança é muito esperta, apesar dos pais acharem que são muito mais. Não se engane. Se ela só come um tipo de alimento e deixa outro no prato, não caia no erro de repetir só aquele alimento. O segredo é fazer com que ela coma metade do prato oferecido para daí poder então repetir uma comida preferida.- E lembre-se: água é a bebida que deve acompanhar as refeições. Sucos nos lanches e refrigerantes, se adotado pela família, só nos finais de semana. Mas esta restrição também é válida para os “papais”, pois exemplo é tudo nesta vida de criança!
– No final de semana, relaxe um pouco. É bom ela conhecer por você que existem outros alimentos disponíveis. Caso contrário, mais tarde, ela invariavelmente irá experenciar novos hábitos na escola e no ambiente sócio/familiar e a vivência não antes controlada pelos pais pode ser daí mal conduzida. Ensine e desenvolva seu filho (a) para que ele tenha um hábito alimentar correto! Finalmente…
Lembre-se, sempre, que a criança não faz nenhum favor em comer. VOCÊ é quem o acarinha ao promover alimento a ela. Portanto, não desarme sua estratégia, nem desanime diante de inúmeros “shows” que ela possa dar. Bebês e crianças em geral são muito criativos nesta “arte” e você deve ser esperta o suficiente para perceber esta manipulação emocional.
Se a criança estiver matriculada em berçário, creche ou escola, fique tranqüila. Os horários nestes locais são bem respeitados. Só certifique-se que a instituição sirva alimentos adequados e de acordo com uma dieta balanceada para a saúde do seu filho(a).