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Jéssica Beatriz Costa, filha do cantor Leonardo, se tornou mãe há dois meses. O nascimento de Noah, no entanto, não foi tranquilo. A mãe tem uma doença congênita chamada Tetralogia de Fallot e, por isso, uma cirurgia cesariana foi realizada na 37º semana de gravidez, fator que levou o pequeno à UTI (Unidade de Tratamento Intensivo). Ao programa do Gugu, na TV Record, Jéssica diz ter se sentido muito culpada. Entenda o caso.
Nascimento do neto de Leonardo
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Noah nasceu no dia 2 de fevereiro de 2016. Mas, logo após a cirurgia, o pequeno foi levado à UTI neonatal com desconforto respiratório e ficou em observação por três dias.
De acordo com publicações do Instagram de Jéssica e entrevista à Rede Record, embora ela tivesse certeza de que o filho se recuperaria, nesse período sentiu muita dor e, especialmente, culpa por ter feito uma cirurgia e não esperado o tempo do bebê.
Como conta, a cirurgia foi marcada porque uma semana antes, depois de sentir muito cansaço e dores na barriga, ela foi levada ao pronto-socorro e sua médica disse que esse era um sinal de que o bebê deveria nascer. Embora não seja possível analisar este caso, especialistas afirmam que de maneira geral é melhor esperar que o corpo da mãe e do bebê deem indícios de que estão prontos para o parto.
Três dias depois de seu nascimento, Noah recebeu alta da UTI e foi para o quarto. No dia 7 de fevereiro, com cinco dias de vida, já foi para casa em perfeito estado de saúde, junto com sua mãe.
O que aconteceu com a filha e com o neto de Leonardo?
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Para entender o que aconteceu com mãe e bebê, o Bolsa de Mulher conversou com cardiologistas e obstetras.
Jéssica tem Tetralogia de Fallot, uma doença crônica no coração que pode interferir na distribuição de oxigênio para o corpo. A cirurgia de reparação, no entanto, geralmente é feita ainda na infância e o paciente segue com uma qualidade de vida normal. A filha de Leonardo foi submetida ao procedimento aos 2 anos de idade.
Embora não seja possível diagnosticar o caso de Noah, geralmente a insuficiência respiratória está relacionada ao nascimento prematuro. Isto porque, ao tirar o bebê antes do momento em que ele mostra, através do trabalho de parto, que está pronto para nascer, embora seu corpinho já esteja formado, alguns de seus órgãos ainda não estão preparados para a vida externa – o pulmão é um deles.
A gravidez de Jéssica foi interrompida na 37º semana. De acordo com a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), a partir de estudos apresentados em reunião internacional de importantes entidades que criam diretrizes seguras para a gestação e o nascimento, bebês nascidos entre a 39º e a 40º semana e 6 dias mostram melhores índices vitais, e portanto, atualmente, este é o intervalo considerado para uma gestação a termo, ou seja, no tempo “certo”. No entanto, com indicação médica, que leva em consideração todos os riscos envolvidos no caso, esse prazo pode ser adiantado ou postergado.
Tetralogia de Fallot

O que é
Dentre as mais graves cardiopatias congênitas (defeito no coração existente desde a formação do órgão), a Tetralogia de Fallot é a mais comum e reúne quatro más-formações: um buraquinho que faz com que os sangues com e sem oxigênio se misturem; um estreitamente da válvula que leva o sangue para o pulmão; a hipertrofia (músculo mais grosso) do ventrículo direito; e o deslocamento para a direita da aorta, fator que dificulta a circulação sanguínea e, consequentemente, as trocas gasosas.
O que acontece com uma pessoa que tem Tretralogia de Fallot?
O bebê que nasce com a patologia recebe menos oxigênio do que deveria. Por isso, uma das principais características da doença é a cianose (roxidão devido à falta de oxigenação). Para explicar, Hélio Castello, cardiologista e diretor da clínica Angiocardio, em São Paulo, compara: “O sangue arterial normalmente tem de 96% a 100% de oxigênio. Com a Tetralogia, a concentração baixa para 80% ou menos”.
Os impactos da doença dependem necessariamente do grau das alterações cardíacas. Mas, de forma geral, o especialista diz que as principais características são o cansaço para mamar e as mãozinhas e pezinhos roxos. Quando cresce, antes da cirurgia corretiva, a criança pode ter dificuldade para ganhar peso e, eventualmente, sofrer com desmaios.
Tratamento
Atualmente, o tratamento acontece ainda na infância e é único: cirurgia. Com os avanços da medicina, bebês que têm chance de se desenvolverem com a patologia são examinados ainda durante a gestação e, ao nascer, o diagnóstico certeiro é feito e a cirurgia, estudada. “O momento varia de acordo com cada caso. Podemos fazer no primeiro mês ou nos meses seguintes, com a criança maior”, comenta o cardiologista, que ainda explica que o caminho é único, mas, o procedimento pode se dar de várias maneiras a depender da gravidade do caso. “Pode ser uma cirurgia definitiva ou paliativa, para diminuir as alterações e, talvez, ser refeita na vida adulta”, complementa.
Depois da cirurgia, o desenvolvimento do paciente segue normalmente e, de acordo com o especialista, sua qualidade de vida é igual à de qualquer outra criança e adulto.
Adulto com Tretalogia de Fallot sem tratamento
Nana Miura Ikari, cardiologista do Hospital Sírio-Libanês e especialista na patologia, diz que atualmente é difícil encontrar um paciente adulto que tenha a doença e não tenha sido submetido a uma cirurgia corretiva, independente do grau. Isto porque o procedimento é adotado por médicos há muitos anos como única saída.
Mulher com Tetralogia de Fallot pode engravidar?

Embora mulheres diagnosticadas com a doença e que já tenham se submetido à cirurgia não recebam a recomendação de não engravidar, Nana e Hélio explicam que o pré-natal deve ser mais cuidadoso, com exames frequentes, acompanhamento direto do cardiologista para o controle de possíveis arritmias e dilatação do ventrículo direito e monitoramento da pressão pulmonar no fim da gestação. Mas, ainda assim tranquilizam dizendo que não há motivo para grandes preocupações.
Como é o parto da mulher com Tretalogia de Fallot?

Na hora do nascimento, Hélio diz que não existe regra. Ele, no entanto, tem preferência pela cesárea. “Acredito que as alterações de pressão decorrentes do esforço e do estresse que ocorrem no trabalho de parto com a mulher fiquem mais controladas na cesárea, mais na mão dos médicos”, justifica.
Já Nana discorda e diz que, seguindo diretrizes internacionais – europeias e americanas – recomenda o parto vaginal. Isto porque, segundo ela, não existe indicação para antecipar o nascimento do bebê. “No Brasil, é enraizada a ideia de que pacientes cardiopatas devem fazer cesárea. Mas, seguindo as recomendações de estudos internacionais, os colegas [médicos obstetras que atendem no hospital] sempre optam pelo parto vaginal”, comenta.
Mulher cardiopata pode ter parto normal?

A cardiopatia é uma definição geral para pessoas que têm algum tipo de doença no coração. Muitas delas, no entanto, não são impeditivos para engravidar e tampouco para buscar um parto normal.
Para Domingos Mantelli, ginecologista e obstetra, o mais importante nesses casos é o acompanhamento do cardiologista. “O obstetra orienta, mas quem analisa se a paciente pode ser submetida a um tipo de parto ou outro é o especialista que cuida da doença, que vai avaliar todos os riscos”, diz.
Outros médicos, no entanto, afirmam que, à priori, o parto normal é mais indicado para mulheres cardiopatas por apresentarem menos riscos no quadro geral. Bráulio Zorzella, obstetra e ginecologista, diz que independentemente de uma mulher ter problema no coração ou outra patologia, em regras gerais esperar o desfecho da gestação e tentar um parto normal é sempre melhor do que optar direto pela cesárea. Isto porque, como explica, toda e qualquer cirurgia apresenta mais riscos ao organismo do que um processo natural e fisiológico como o parto. Entre os maiores riscos, o médico cita as alterações de pressão decorrentes da anestesia e seus efeitos adversos e a perda de sangue, que é duas vezes maior no procedimento cirúrgico, além do aumento em até 120 vezes do risco de problemas respiratórios no bebê.
O obstetra explica que há uma ideia equivocada de que a cirurgia é mais segura para gestantes com alguma doença, sejam cardiopatias, hipertensão ou diabetes, quando, na verdade, embora ela seja muitas vezes essencial para salvar vidas, o processo fisiológico deve ser priorizado por ser mais seguro. Para facilitar, ele faz uma analogia do parto normal com indução e da cesárea com outra função do corpo: “O ideal é uma pessoa ir ao banheiro com frequência. Mas, e se ela tem uma cardiopatia e fica com intestino preso? É melhor ela tomar um laxante e fazer cocô ou é melhor fazer uma cirurgia: abrir tudo, tirar as fezes e costurar de novo? Uma cesárea sempre adiciona mais riscos independente do caso”, finaliza.
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