O choro do bebê pode desencadear na mãe certa angústia por não saber, muitas vezes, o que ele pode significar. Ainda por não suportá-lo e achar que o choro pode ser prejudicial à saúde emocional do bebê, sente-se muitas vezes perdida, sofrendo com a impossibilidade de compreender o filho.
Os bebês costumam chorar com freqüência, colocando a mãe em dúvida no que deve fazer: acalmá-lo, alimentá-lo, deixá-lo chorar ou ainda se deve pedir ajuda a um terceiro. O choro pode exprimir várias possibilidades e entre elas temos o choro do bebê que sugere a manifestação de satisfação, dor, raiva e tristeza.
Um bebê é sempre direto e intenso na sua forma de se expressar. Diante de uma perda, ainda que temporária, como por exemplo a viagem da mãe, é capaz de vivenciar esse momento ficando triste e de fato entregar-se a essa tristeza
É importante antes de tudo pensar que não é porque alguns bebês não choram, que estão desenvolvendo-se em melhores condições que aqueles que choram. Ao contrário, o choro é um exercício, a expressão dos sentimentos e é uma forma interessante encontrada para “falar” de algo que está marcado no seu corpo, como a fome, o frio, a tristeza… Ele representa ainda a ansiedade ou a insegurança, estando o seu valor, portanto, no ato de comunicar. Mais tarde poderá ser substituído por outras formas de linguagem como, por exemplo, a fala. Para o bebê, o choro que o leva a ser atendido e compreendido nas suas necessidades e insatisfações é um choro estruturante.
Passemos agora a alguns tipos de choro que inscrevem o bebê no mundo e o marcam, na medida em que é uma forma encontrada para estabelecer relações. O grito de fome, por exemplo, é um grito de dor. Podemos pensar no quanto o grito de dor do bebê é excessivo e soa como desagradável aos ouvidos, produzindo em quem dele cuida a iniciativa de algo fazer para tirá-lo daquela situação.
Da mesma forma, o bebê quando se suja é tirado da sua zona de conforto, isto é, é pego pela mãe que vai tirá-lo de uma determinada posição, abre sua roupa oferecendo a essa criança a higiene. Para o bebê, é como se algo estivesse sendo perdido, a segurança momentânea e o corpo aquecido são substituídos por algo novo que vai acontecer e ele não sabe exatamente o que é e, por isso, tem medo. A criança com essa experiência passa a chorar cada vez que se suja, não propriamente por esse motivo, mas porque sabe que logo será tirada da sua tranqüilidade e do seu conforto. É claro que em um determinado momento a criança também não quer estar suja, porque a falta de higiene poderá lhe causar outras dores como, por exemplo, as provocadas pelas assaduras, mas o choro maior é resultado do medo que sente pelo que estará por vir e ela já conhece.
O bebê também chora de raiva. Podemos ver certo movimento ativo para com a mãe ou outra pessoa que lhe oferece cuidados quando através do choro marca a sua insatisfação. Ele sabe bem como demonstrar que não gostou do que foi feito a ele ou do que está acontecendo, pois junto ao choro é capaz também de espernear, vomitar, se sacudir. As atitudes vão mudando na medida em que vai crescendo, pois mais à frente é capaz até mesmo de morder e de bater quando não atendido nas suas prioridades.
A grande questão é: como você se comporta diante do ataque de fúria do seu bebê? Reage da mesma forma ficando mais ansiosa, “descabelando-se”, fazendo notar que você não consegue lidar com aquela situação ou mantém a calma esperando até que, em alguns minutos, o bebê possa retomar a tranqüilidade ou possa experimentar um outro modelo de atuação para se fazer entender? Quais fantasias passam por você ao longo de uma situação como essa, onde o bebê se mostra enfurecido?
É preciso pensar no quanto as mães se sentem ameaçadas diante do seu bebê. Mas um bebê zangado definitivamente não é um bebê perigoso, é sim, antes de tudo, um ser que busca a partir dos seus atos a satisfação, que nem sempre poderá ser atendida. Um bebê é sempre direto e intenso na sua forma de se expressar. Diante de uma perda, ainda que temporária, como por exemplo a viagem da mãe, é capaz de vivenciar esse momento ficando triste e de fato entregar-se a essa tristeza.
O adulto tenta a todo custo livrar-se do mal-estar que, muitas vezes, impõe-se à sua vida pondo-se a fazer renúncias e evitações, ainda que pague um preço por isso, como perder algo importante como o amor de uma pessoa. Não que o bebê não desenvolva defesas contra a tristeza, mas é preciso cuidar para não “ensiná-los” que não se pode ou não se deve ficar triste. Distrair o bebê ou a criança pequena desviando o seu sentimento para outra coisa é dizer a ela que não há lugar e nem espaço para esses sentimentos ou ainda que senti-los é errado.
Por outro lado, é preciso entender que não se pode e nem se deve acreditar que é possível evitar que o bebê e a criança fiquem tristes ou com raiva na medida em que esses sentimentos estarão atrelados às experiências de frustração e dos acontecimentos da vida, que nem sempre passam pela escolha da mãe ou de seu substituto.
Ao contrário, é preciso suportar o choro representante da satisfação, da dor, da raiva e da tristeza que o bebê ora sente. É preciso suportar a angústia que muitas vezes sentimos ao ver o bebê sofrendo. É importante pensar que o mal-estar é parte constituinte da vida, portanto, não é possível pensar em retirá-lo de cena. O que o bebê precisa é do amparo da mãe e cabe a ela estar ali, pronta a oferecer o colo e o seu amor.
Mônica Donetto Guedes é psicanalista, psicopedagoga e pedagoga do Apprendere Espaço Psicopedagógico.