O que estão dizendo sobre leite da mesma mãe de cor MUITO diferente pode ser um erro; entenda

A americana Mallory Smothers postou em seu Facebook uma foto que chamou atenção de seus amigos. Nela, existiam dois saquinhos com leite materno. Um deles de cor clara e o outro mais escuro e espesso. Para o estranho ocorrido, a mãe atribuiu o fato de a filha estar doente e o seu organismo ter produzir uma quantidade maior de agentes imunes em resposta às bactérias presentes na saliva da criança.Para a pediatra Luciana Herrero, especialista em amamentação com certificação internacional, o quadro pode ter outra explicação.

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Na  publicação, Mallory, que ainda amamenta e congela o leite excedente para oferecer em outros momentos à sua filha, mostrou, à esquerda, o leite que tirou na noite da quinta-feira e, à direta, o que ordenhou na sexta-feira de manhã. No primeiro saquinho é possível ver um líquido branco e mais fluído, enquanto no segundo, o leite está mais amarelado e espesso.

Explicação da mãe

Para explicar o estranho ocorrido, a mãe conta que há algum tempo leu um artigo científico e, nele, pesquisadores supostamente indicam que um bebê, ao ficar doente, passaria, através de sua saliva, os agentes causadores de doenças (vírus e bactérias) para o corpo da mãe, que imediatamente produziria anticorpos e os forneceria ao bebê nas mamadas seguintes.

Na noite de quinta para sexta, a americana conta que sua filha apresentou sintomas de resfriado, como congestão nasal e crises de espirro. Por isso, para ela, o fato de o leite estar mais grosso na manhã seguinte se deve à produção de agentes imunes que seu corpo realizou para combater a doença da bebê.

Estudo

De acordo com Luciana, no estudo citado pela mãe, pesquisadores, embora tenham detectado que há maior número de leucócitos no leite da lactante que amamenta um bebê doente, não indicaram a explicação exata para o fenômeno.

Explicação da especialista

Para a pediatra especialista em amamentação, a afirmação pode soar um pouco exagerada. Isto porque, além de os resultados dos estudos não serem claros em relação à forma como essa produção específica se dá, a aparência dos leites é semelhante ao leite anterior e posterior, respectivamente.

Tipos de leite que saem durante a amamentação

Istockphoto

O fornecimento do leite materno pode ser dividido em três fases. Nelas, as glândulas mamárias vão produzir tipos diferentes dos alimentos.

O primeiro tipo de leite produzido é o colostro. Seu fornecimento acontece durante, em média, os dois primeiros dias de vida do recém-nascido. Como explica Luciana, ele é mais espesso, tem uma cor mais amarelada e é riquíssimo em agentes imunológicos. “Esse é o tipo mais rico. Ele vai passar toda a imunidade para o bebê e vai servir como um forro para o intestino, como uma proteção mesmo”, explica.

Já o segundo tipo é o leite de transição, que começa a ser produzido a partir do 3º dia após o parto e é composto por uma mistura de colostro e do leite maduro.

O leite se torna maduro após o 15º dia de vida do bebê e acompanha a dupla mãe e filho até o fim da amamentação, independente da fase do desmame. Além de rico em água e nutrientes, esse tipo também carrega anticorpos e é dividido em dois tipos: o leite anterior e o leite posterior.

Leite anterior e posterior

“No começo da mamada, o bebê recebe o leite anterior, que é composto por maior quantidade de água e, por isso, é mais líquido, parecido com água de coco. Conforme a mama vai sendo estimulada, as glândulas passam a produzir gordura, característica que torna o leite mais gordo e com aspecto opaco, o que faz com que ele seja nomeado de leite posterior”, detalha a pediatra.

É por isso que, para Luciana, embora seja inegável a presença de anticorpos no alimento, a explicação para a diferença de cor e textura está muito possivelmente relacionada ao tipo de leite que foi ordenhando para o armazenamento – anterior e mais líquido na quinta à noite e posterior e mais grosso e gorduroso na sexta de manhã.

Anticorpos no leite materno                                                          

Ainda de acordo com a especialista, o leite materno, além de ter valor nutritivo e de proteção geral para todo e qualquer bebê, ainda tem poder único em cada relação mãe e filho. A explicação está nos diferentes ambientes em que as mães vivem e, portanto, nos diferentes agentes imunológicos que elas produzem e passam enquanto amamentam. “Desde que o bebê está no útero, a mulher tem contato com muitas bactérias. Então, o leite que ela vai produzir já tem substâncias específicas para combater agentes contaminantes daquele ambiente. Ou seja, é como se o leite que uma mãe oferece para seu bebê tivesse nutrientes específicos para o ambiente em que ele está inserido e, por isso, aumentasse sua proteção”, acrescenta.