Procura-se voluntários

por | jun 30, 2016 | Gravidez e bebês

Há pouco tempo, vi num jornal um pedido para trabalho voluntário com crianças especiais. Certamente, a instituição deveria estar precisando de voluntários. Esse tipo de anúncio tem sido uma constante. Porém, sempre que os vejo em páginas de empregos, cogito se realmente “procura-se voluntários” ou trabalhadores não-remunerados. Como assuntos que envolvem o atendimento às pessoas com necessidades especiais são de meu interesse, resolvi repartir meus devaneios.

De uma forma geral, as instituições que prestam serviço gratuito à comunidade dispõem de poucos recursos financeiros. Por isso, contam com doações públicas, individuais ou empresariais. Penso mesmo que cada um de nós pode (e deve) doar-se de alguma forma à sociedade. Podemos doar tempo, conhecimento, afeto, serviços ou bens materiais. Qualquer ajuda é bem-vinda e fundamental para a manutenção das organizações que lutam para serem sustentáveis e para que todos tenham um futuro digno.

Ainda vivemos num mundo no qual muitos, infelizmente, tratam os profissionais da área social como sub-profissionais. Lidam com sub-gente, por acaso? Então, por isso, conforme a lógica, devem receber pouco ou quase nada?

A experiência de, ao participar como voluntário, perceber que o seu trabalho imprime dignidade e esperança no sorriso de uma criança é inesquecível. Lembram do que tenho dito: fazer o bem faz bem? O trabalho voluntário não enriquece apenas a quem o recebe. Sobretudo, enobrece a quem o doa. Nossos problemas íntimos se abrandam na mesma medida em que nossa alma se engrandece. O sentimento de fazer o bem justifica o nosso ser, humano.

Dar sem receber nada em troca? O trabalho voluntário é conceituado como um serviço prestado sem qualquer remuneração. Mas isso não quer dizer sem reconhecimento. Serviço voluntário não é trabalho escravo. Os dirigentes das instituições que os acolhem devem distinguir um indivíduo que, por vontade própria, escolhe doar seu tempo para um determinado bem coletivo, de um profissional que deve ser contratado para exercer funções estruturais, sem as quais a organização não existiria.

O voluntário colore, ilumina e enriquece sem qualquer remuneração o serviço de uma instituição. Porém, o que dizer de pessoas que escolhem como profissão o serviço ao próximo? Professores, religiosos, assistentes sociais, fisioterapeutas, médicos e assim por diante. Alguns, em seu tempo livre, podem até optar por prestar algum serviço voluntário. Mas esse tempo não pode comprometer o seu sustento pessoal, a menos que ele, por prescindir de algum salário, assim o deseje.

Ainda vivemos num mundo no qual muitos, infelizmente, tratam os profissionais da área social como sub-profissionais. Lidam com sub-gente, por acaso? Então, por isso, conforme a lógica, devem receber pouco ou quase nada? Já conversamos sobre isso no artigo “Investindo em Gente”, mas sinto-me instigada a voltar ao assunto quando percebo a quantidade de anúncios, os mais variados possíveis, nas páginas de empregos dos jornais.

Ora, quem lê anúncios de emprego ou está à procura de algum ou deseja se informar sobre o mercado de trabalho em sua área. Seja lá como for, não está procurando trabalho voluntário.

Segundo a definição das Nações Unidas, “o voluntário é o jovem ou adulto que, devido a seu interesse pessoal e seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividade, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos…”

Voluntário é uma pessoa merecedora de toda a nossa admiração, respeito e reconhecimento. A qualidade de muitos serviços depende dessa força, desse engajamento responsável que cumpre a sua face solidária e não suprime o Estado de seus deveres. Sua força e disposição emergem, pelos motivos mais variados, acima da lógica capitalista de reificação do trabalhador. O respeito e bem-estar coletivo são seus vencimentos . Ganham os alijados da sociedade de consumo, os excluídos. Todos, nós!

Mas, não se esqueça, da mesma forma que o voluntário, o profissional da área social merece também o nosso respeito, admiração e reconhecimento. Isso se traduz em salários dignos e na valorização de sua formação educacional. A todos esses funcionários e voluntários do bem, o nosso aplauso!

Seja um voluntário

Lei 9.608/98 – conceitua o trabalho voluntário como “a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade”.

Saiba mais:

http://www.portaldovoluntario.org.br

http://www.rits.org.br/idac.rits.org.br/idac_voluntariado.html