O conceito de violência obstétrica é amplo e abrange situações que ocorrem durante os procedimentos físicos ou não pelos quais as mulheres passam na gestação, trabalho de parto, pós-parto e abortamento. Alguns exemplos são agressões verbais, recusa de atendimento, jejum, episiotomia, separação de mãe e filho após o nascimento, entre outros.
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Os casos de violência obstétrica são mais comuns do que parecem. Segundo dados divulgados pela revista Época, 75% das mulheres em todo o Brasil não receberam alimentação durante o trabalho de parto; 73% não tiveram acesso a procedimentos não medicamentosos para o alívio da dor, como banho quente; 71% não tiveram direito a acompanhante, o que é previsto por lei desde 2005; e 25% afirmam ter sido desrespeitadas na gestação ou parto.
Alguns órgãos voltados para o direito da mulher já lançaram campanhas visando aumentar a informação para que situações como as citadas acima deixem de acontecer com tanta frequência. Outros projetos também surgiram para aumentar a visibilidade sobre o assunto.
Vale lembrar que algumas práticas, apesar de não serem comprovadamente benéficas à mãe ou facilitadoras do parto, ainda são habitualmente adotadas na maior parte das maternidades. Impedir que a mãe se alimente ou beba água é uma delas, bem como obrigá-la a ficar em posição ginecológica, apesar da recomendação de que a mulher adote a posição mais confortável.
Leia abaixo trechos de algumas histórias chocantes que mostram o que algumas mulheres passaram antes, durante ou depois de terem seus bebês:
Relatos de violência obstétrica
“Uma enfermeira teve conduta totalmente inapropriada, forçando o parto de forma violenta e impedindo que eu me posicionasse como quisesse ou mesmo tivesse liberdade de expressar minha dor. Ela quase subiu em cima de mim para ‘facilitar’ a saída. Pedi para ficar de cócoras e não deixaram, mandavam eu parar de gritar. Já no nascimento do segundo filho, consegui que tudo fosse da forma como sonhava. Tive o Theo em casa, com a ajuda de uma doula. A decisão sobre o parto, seja natural ou cesárea, é um direito de cada mulher e precisa ser respeitado”. – Carolinie Figuieredo, atriz, em entrevista à revista Marie Claire.

“Eu morria de sede. Às nove ou dez da noite, tudo que eu pedia, aos berros, era um copo d’água. Mas a doutora negou. Ríspida, grosseira e com a cara enfiada no meio das minhas pernas. Disse que podia fazer mal depois, na hora de nascer.” – depoimento anônimo ao projeto “1:4 retratos da violência obstétrica”.
“Ela empurrou a cabeça da bebê de volta pra dentro. Eu dizia pra ela parar, porque a cabeça já havia coroado; ela me disse que eram normas do hospital, e eu não entendia o que ela queria dizer com aquilo.” – depoimento anônimo ao projeto “1:4 retratos da violência obstétrica”.
“O bebê estava para nascer, por parto normal. A equipe optou pela cesárea e se recusou a chamar a médica que me atendia. Não me deram explicações. Avisei que a anestesia não pegou. Mesmo assim, fizeram a cesárea. O anestesista puxava meu cabelo para eu não desmaiar de dor”. Joyce Guerra, deficiente visual, em depoimento à revista Época.
“Não permitiram a entrada do meu marido na sala de parto. Quando as dores e contrações começaram ouvi ‘na hora de fazer, não gostou?’ e ‘não grita, vai assustar as outras mães’.” – Kelly de Oliveira Mafra, em depoimento à revista Época.
“Aos sete meses de gestação a bolsa estourou. Na primeira ida à maternidade, fui internada por dois dias e depois mandada para casa. Ao voltar ao hospital, três dias depois, conforme orientação que havia recebido, fui atendida com críticas e reclamações. Ouvi ‘por que não veio mais cedo?’, ‘queria forçar um parto normal?’, e ‘quem manda no procedimento sou eu’. Sem explicar nada, uma enfermeira deitou sobre minha barriga. Reagi e amarraram minhas mãos. O bebê não sobreviveu. Assumi a culpa pela morte do meu filho. Meu casamento quase acabou. Parei de trabalhar e abandonei o mestrado. Tem gente que acha que venci por ter outros filhos. Quem disse? Nunca fui ao cemitério onde meu filho está enterrado. Tenho medo de não sair viva de lá.” – Eva Maria Cordeiro, em depoimento à revista Época.
“Eu e meu bebê estávamos bem de saúde. Eu havia me preparado para ter meu filho em casa, mas aconteceram alguns imprevistos e meu ‘plano B’ era ir para uma maternidade pública. Já na triagem fui super mal tratada pelas enfermeiras que não sabem lidar com mulheres em trabalho de parto. A primeira coisa que o médico fez foi perguntar ‘o que eu estava fazendo alí’, argumentando que ‘mulher que tem mais de 30 anos não pode ter parto normal’. Me deixaram em uma maca desconfortável, sem comida e sem água. A dor era muita e lembro que eu chorava bastante. Ninguém respeitava o que eu queria e eu comecei a passar mal. Me deram soro com remédio para dor. As enfermeiras falavam que eu tinha que fazer a cesárea. Na sala de cirurgia não permitiram que meu marido entrasse e ainda me mandaram calar a boca várias vezes”. – Marcela Aureliano, em depoimento ao jornal A Crítica, de Manaus.
“Me programei para ter o filho em casa. Porém, quando comecei a sentir dores, a família me levou a uma maternidade pública. Optei pelo parto normal. Mas a doula que estava comigo não pôde entrar na maternidade. Tive que ficar deitada na maca do hospital com outras gestantes ao meu lado. Duas médicas passaram por mim para fazer o ‘toque’ enquanto meu marido massageava minhas costas. A bolsa foi estourada pela cirurgiã obstetra com um palito. E passei pelo que mais temia, a episiotomia. eitei, coloquei os pés no apoio e quando vi que a médica ia me cortar, questionei. Mas ela afirmou que como era meu primeiro filho o procedimento era necessário. Mesmo anestesiada, notei a força que ela fazia para fazer o corte. Foram 20 pontos, tive uma hemorragia”. – Tayana Guimarães, em depoimento ao jornal A Crítica, de Manaus.