Cabelos ao chão

Eles talvez sejam os campeões em receber nossos cuidados e atenção. Afinal, não há mulher nesse mundo que não se preocupe com os cabelos. É escova, balaiagem, hidratação; pinta daqui, descolore dali, faz massagem, testa um novo corte que promete fazer sucesso… Imagina, então, o tamanho do desespero se suas preciosas madeixas começam a cair! Em nós, mulheres, isso pode acontecer por inúmeras razões. A calvície, que aterroriza um enorme número de homens, é uma delas – sim, nós também podemos ficar carecas! Felizmente, o que neles é muito comum, na gente é raro. Se seus fios estão indo ao chão, é muito mais provável que isso seja sintoma de alguma outra disfunção do organismo. E aí, uma vez tratando da origem do problema, o cabelo volta a florescer.

Para início de conversa, vamos logo esclarecendo que todo cabelo que se preze cai. Ou seja, existe uma quantidade normal de queda, que varia de pessoa para pessoa, dependendo do número de fios que cada um possui. “A média é entre 50 a 100 fios por dia. A queda só é normal quando o fio que está caindo é substituído por outro que está nascendo”, explica a terapeuta capilar Sheila Bellotti. Normalmente, a pessoa quase não percebe que esses fios caem diariamente. Mas quando se começa a encontrar cabelos na roupa ou no travesseiro, é sinal de que a taxa média de queda foi ultrapassada. “Se a pessoa percebe que está caindo mais cabelo que o normal, ela deve procurar um médico. Não pode concluir que o que está acontecendo é temporário ou que cabelo cai mesmo, porque a queda pode ser uma representação de algo mais grave”, alerta o dermatologista Valcinir Bedin, presidente da Sociedade Brasileira para Estudo do Cabelo (SBEC).

Já deu para perceber que esse assunto é um pouco mais cabeludo, né? Quando um paciente chega no consultório se queixando de que seus cabelos estão sendo vencidos pela gravidade, o dermatologista precisa investigar uma série de fatores. Isso porque os motivos da queda de cabelo podem ser não só de caráter hereditário, como no caso da calvície, como também hormonal ou metabólico. “As alterações hormonais, seja envolvendo a hipófise, a tiróide, o ovário, a supra-renal ou os testículos, podem causar a queda de cabelo. E a deficiência de nutrientes, como o ferro, zinco, cobre e vitaminas também, porque altera o funcionamento metabólico. É comum isso acontecer com quem faz dietas drásticas”, explica o Dr. Valcinir. Além disso, não é lorota aquela história que diz que estresse faz cabelo cair, não. Sheila Bellotti lembra que fatores psicológicos também devem ser levados em consideração na hora de fazer o diagnóstico. “Outras possíveis causas são algumas doenças como câncer e anemia, drogas medicamentosas, uma grande oleosidade no couro cabeludo e o excesso de química, que, aliás, é uma grande vilã nessa história”, acrescenta.

Apesar de, esteticamente, eles serem indispensáveis, para o organismo humano, os folículos pilosos – como são chamados os cabelos na linguagem médica – não têm importância vital. “Na hora da distribuição dos nutrientes, o cabelo é o último a receber e o primeiro a devolver. Se você tem um tumor ou algo que está te consumindo, o cabelo cede substâncias. Por isso que ele cai quando a pessoa tem uma anemia forte, por exemplo”, esclarece Valcinir.

Mas tem vezes em que é a nossa própria maneira de cuidar dos cabelos que alteram a estrutura dos folículos pilosos. O costume de fazer rabos de cavalos fortes, por exemplo, pode causar a destruição da matriz capilar, podendo provocar uma falta de cabelo (alopecia) irreversível. “Isso acontece especialmente com pessoas afrodescendentes, que tem o costume de fazer aqueles penteados que puxam muito os cabelos. Isso pode causar a queda de toda a borda do couro cabeludo, porque o estiramento causa um processo inflamatório. E aí não nasce mais”, afirma Valcinir. Ficou chocada? Pois é. A esse fenômeno é dado o nome de alopecia de tração. “As pessoas cometidas pela alopecia de tração são aquelas que apresentam cabelos cada vez mais afastados da testa e das laterais”, define Sheila Bellotti.

Calvície

Apesar de ter gente que diz que é dos carecas que elas gostam mais, a calvície, definitivamente, ainda não entrou na moda. Não é que a mulherada dê preferência a uma cabeça lustrosa. O problema é que aproximadamente metade (!) dos homens sexualmente maduros apresentam calvície em algum estágio. Apesar do cabelo delas, mulheres, também cair, somente 5% das vezes que isso acontece é devido a calvície, tendo maior chance de solucionar o problema. Aliás, é bom esclarecer: calvície não é aquela careca que começa na testa e ocupa somente a parte central da cabeça, dando colher de chá para as laterais, como alguns pensam. “Calvo é o indivíduo que tem desde a entradinha até o totalmente careca”, define Valcinir Bedin.

Não é de hoje que a escassez de fios aterroriza a vida da porção masculina da humanidade. Sabe-se que, há mais de 3.500 anos, os egípcios preparavam uma receita com ingredientes um tanto bizarros, como banha de leão e de crocodilo, na tentativa de fazer o cabelo crescer. Não deu certo, assim como o sem número de pesquisas científicas realizadas com o intuito de solucionar o problema. A maior conquista nesse campo foi o desenvolvimento do finasterida, medicamento que retarda e reduz a queda dos fios. “Até hoje estamos procurando o remédio milagroso. Já se conseguiu, recentemente, criar pêlo em rato, mas em nós, humanos…”, diz Dr. Valcinir, acrescentando que o finasterida dá bons resultados. “Ele é tomado por via oral, diariamente, e quanto antes iniciado o tratamento, melhor o resultado. Se um adolescente tem pai calvo e avô calvo, por exemplo, a partir dos quatorze anos ele pode começar a tomar, mas não antes”, informa o dermatologista. O que o finasterida, cujo nome comercial é Propecia, faz é bloquear a produção do hormônio diidrotestosterona (DHT), que não tem função prática no organismo, mas faz cair cabelo. Para preservar os resultados, a pessoa precisa usá-lo para o resto da vida.

Nas pessoas com tendência genética de calvície, o hormônio testosterona, presente no organismo, se junta com a enzima chamada 5 alfa-redutaze, formando o hormônio diidrotestosterona. “A diidrotestosterona é responsável pelo afinamento, rarefação e queda dos fios. Como a taxa de testosterona nas mulheres é bem menor, a probabilidade de pessoas do sexo masculino ficarem carecas é muito maior”, esclarece Sheila Bellotti. Segundo Dr. Valcinir, tratar a queda de cabelo em pessoas do sexo feminino é muito mais fácil. “Normalmente, nas mulheres, a queda tem um motivo. Você vai atrás dele e pimba!”, assegura.

É pelo fato de ter efeito preventivo que o tratamento com o finasterida precisa ser iniciado o quanto antes. Nos casos em que ele não surte tanto efeito, resta a alternativa dos transplantes capilares. “Temos usado o termo transplante e não implante. Nós tiramos couro cabeludo de qualquer parte do corpo do paciente que tiver pêlo e transplantamos para a cabeça”, explica Valcinir, garantindo que a cirurgia é tranqüila, sem risco, porém demorada. “Hoje o transplante capilar está muito evoluído. Pegamos o pedaço de pele com cabelo que foi retirado de algum local e separamos fio por fio, para plantar também fio por fio. Demora, porque temos que colocar cerca de três mil fios, um por um”, esclarece ele. A anestesia é local e a cirurgia pode fazer doer o bolso: custa em torno de cinco mil reais.

Como nós, mulheres, somos adeptas dos mais variados produtos para garantir a beleza de cada dia, é provável que você esteja se perguntando se existem cremes ou xampus especiais para prevenir a queda dos cabelos. Olha, existir, existem, mas o verdadeiro efeito desses produtos é controverso. Na opinião do Dr. Valcinir, por exemplo, xampus como o de jaborandi (e companhia) de nada resolvem. “É claro que eles não são todos iguais. Mas a função é somente a limpeza. A queda de cabelo acontece por motivos internos do organismo”, esclarece ele. Já Sheila Bellotti acredita que algumas substâncias auxiliam no tratamento. “Princípios ativos como o jaborandi, a cisteína, a piridoxina, o D-pantenol, algumas vitaminas, aminoácidos e substâncias fitoterápicas ajudam, reconhecidamente, no tratamento para queda de cabelos”, garante ela, acrescentando que costuma receitar xampus que diminuem a oleosidade e substâncias tópicas que estimulam e nutrem os fios.