Mais uma vez o verão bate a porta fazendo com que aquele visual bege-escritório pareça totalmente fora de moda. Marquinhas de biquíni começam a se multiplicar pelas ruas, expostas por blusas regata e modelos tomara-que-caia. É preciso correr atrás do tempo perdido, entrar no ritmo e principalmente na cor da estação. Vamos lá: canga, cadeira de praia e óculos escuros a postos. Tudo pronto para não passar o verão em branco, literalmente. Mas, antes de buscar seu lugar – e seu bronzeado – ao sol, surge a dúvida: é possível escapar dos tão alarmados danos à pele causados pela radiação solar?
Em pleno verão, um banho de água fria até que cai bem. Mas, no caso, a ducha dada pela dermatologista Renata Wrobel não é lá muito agradável. Segundo ela, é importante saber que não existe processo de bronzeamento saudável. “Ficar bronzeada é o resultado de uma reação inflamatória da pele e, por isso, seria um paradoxo falar em alcançar um bronzeado com saúde”, explica. A incidência dos raios solares em demasia pode alterar a composição das células epiteliais. Para proteger o tecido desta ação nociva, a pele possui em seu sistema de defesa uma proteína fibrosa chamada queratina, que reflete boa parte dos raios ultravioleta B (UVB), os mais perigosos, e cerca de 20% dos raios UVA, responsáveis pelo fotoenvelhecimento da pele. Por outro lado, o corpo produz a melanina, processo fisiológico natural intensificado a partir da exposição à radiação solar. Esta substância, um pigmento escuro, se move e forma uma proteção ao núcleo da célula, originando o efeito de bronzeamento.
Sol na medida certa
Quando poderíamos imaginar que uma praia à toa fizesse toda essa revolução na nossa pele. Apesar de impressionante, ninguém precisa se esconder do sol e amargar a palidez. Alguns cuidados ajudam a adquirir um bronzeado sem se expor de forma perigosa. Um deles é: vá com calma. A melanina precisa de alguns dias para agir. Antes deste prazo, o máximo que você vai conseguir é ficar queimada. “A exposição solar deve ser gradual. Iniciar com poucos minutos e ir aumentando a cada dia. O tempo de exposição dependerá da cor da pele da pessoa. Os mais claros têm que ser mais cautelosos”, alerta Dra Luna Azulay, do Instituto de Dermatologia e Estética do Rio de Janeiro. Outra precaução importante é nunca estender sua canga entre 10h e 15h. Nesse horário, os raios UVB atingem a superfície da Terra com maior intensidade, e é esta radiação que causa grande vermelhidão na pele. Fora que o filtro solar deve ser companhia constante para os dias de verão.
Aliados do bronzeado
A tese de que somos o que comemos também influencia nosso bronzeado. Uma dieta rica em legumes e frutas que contenham vitamina A, como cenoura, beterraba, mamão e abóbora, é uma aliada e tanto da cor dourada. A ingestão desses alimentos provoca o acúmulo de pigmento na pele, deixando-a com o aspecto amarelado. Esse tom soma-se ao bronzeamento adquirido com a exposição ao sol, acentuando seus efeitos. No entanto, a nutricionista Mônica Cruz, da rede de restaurantes Delírio Tropical, no Rio de Janeiro, alerta para o fato de se exagerar na ingestão de alimentos ricos neste tipo de substância, que são lipossolúveis e de difícil eliminação pelo organismo. “É importante também incluir vegetais, que são ricos em vitaminas A, B e C, para se ter uma dieta equilibrada. O arroz integral é uma boa dica, é saudável e igualmente rico em vitaminas”, ensina.
As cápsulas de betacaroteno, que ultimamente ficaram tão populares, têm a mesma função. Na verdade, estas substâncias são pró-vitaminas, compostas basicamente por duas moléculas de vitamina A. Um exemplo destes medicamentos é o Imedeen Tan Optimizer, lançado pelo laboratório dinamarquês Ferrosan, que promete acelerar o processo de bronzeamento e proteger a pele da vermelhidão adquirida pela exposição inicial ao sol. É composto por licopeno, um carotenóide da mesma família do betacaroteno, e extrato de óleo de Palma, precursores das vitaminas A, C e E. Uma novidade prática e sedutora, mas que ainda apresenta um preço salgado: uma caixa com trinta cápsulas custa em média R$110,00.
Bronze indoor
Agora, se você é daquelas que não gosta de ficar esquentando a cabeça, não curte piscina e não é chegada a uma praia, mas nem por isso quer ficar branquela, a solução perfeita são os autobronzeadores. Na forma de creme, gel ou spray, as fórmulas destes produtos são à base de DHA (dihidroxiacetona). A substância reage na camada mais superficial da pele, produzindo um pigmento chamado melanoidina, responsável pela cor bronzeada. O efeito é o “Cinderela”, ou seja, dura cerca de três dias. Em compensação, é seguro. A melanoidina já é utilizada pela indústria de cosméticos há mais de três décadas com o aval da Vigilância Sanitária. A dermatologista Renata Wrobel garante que não há problemas quanto ao seu uso.
Outra opção que também conta com a aprovação dos especialistas é o bronzeamento artificial a jato, um método sem riscos de fotoenvelhecimento da pele. Cristina Baumgart, vice-presidente do Kyron Spa, em São Paulo, explica ainda que o tratamento não resseca a pele, ao contrário, hidrata, graças ao acréscimo do oligomineral silício, que também age estimulando a circulação periférica.
O procedimento utiliza o mesmo princípio ativo dos autobronzeadores, mas com uma vantagem: evita manchas no bronzeado, resultantes de possíveis erros na aplicação do produto. Utilizando um aerógrafo, instrumento a ar comprimido, o processo em clínicas especializadas demora em média 30 minutos, o preço fica em torno de R$ 90 por sessão e possui durabilidade, em geral, de sete a dez dias. Antes de se submeter ao tratamento, é recomendável uma esfoliação corporal para eliminar células mortas e deixar que o produto se fixe de forma mais homogênea na pele. Para prolongar o efeito do bronzeamento, é importante não se depilar num período de dez dias após a sessão e evitar o uso de buchas e óleos durante o banho.
Se praticidade é seu lema, você pode optar pelo bronzeamento a jato em casa. Já existem no mercado aparelhos que possibilitam fazer o processo no santo sossego de seu lar. Como é o caso do Self Tan Jet, um pequeno aerógrafo que vaporiza a solução bronzeadora na pele em forma de “névoa”. Ou seja, espalha por meio de gotas finíssimas o produto, sem esguichar ou molhar. O kit, contendo o aparelho, o recarregador de bateria e um pote com solução para bronzeamento, custa em torno de R$ 500,00.
Uma outra forma de se chegar ao tom do verão são as famosas e polêmicas câmeras de bronzeamento artificial. No entanto, essas máquinas se tornaram uma unanimidade negativa. São proibitivas. “Geralmente, elas aplicam raios UVA e UVB diretamente na pele. Esta radiação atinge as camadas epiteliais mais profundas, aumentando o risco de manchas e câncer de pele”, revela Renata Wrobel, alertando que os efeitos dos raios ultravioletas são cumulativos, não têm como zerar. “Até os 18 anos de idade, o sol que você pega determina grande parte da saúde da pele durante a vida inteira”, avisa Renata Wrobel.