Ninguém gosta de ouvir alguém falando mal de você. Além do desconforto, alguma mentira acaba sendo acrescentada, e sua reputação fica mais vulnerável do que você imaginaria. Ou, pelo menos, é o que se acredita.
As fofocas são maldosas: podem motivar brigas, separar casais e arruinar famílias e amizades. Estas são as consequências improváveis, já que tudo depende da ‘dimensão’ da fofoca.
Apesar disso, existe o ‘lado bom’ de falar do outro. Estudos dizem que o ato de fofocar “é uma parte essencial do que faz o mundo social girar”, de acordo com Frank McAndrew, professor e membro da Associação de Ciência Psicológica, nos Estados Unidos. “Na verdade, ela pode ser considerada não como falta de caráter, mas como uma habilidade social altamente evoluída”.
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McAndrew conduziu uma pesquisa que relaciona a fofoca à melhoria de status, afirmando que os homens são mais propensos a confiar em suas parceiras, e as mulheres, a compartilhar fofocas com amantes e amigos do mesmo sexo.
Mas o lado benéfico da fofoca está mais intrínseco à humanidade do que se imaginava. Desde a Antiguidade, falar sobre o outro tem uma “função social útil” em fazer com que membros de um grupo permaneçam unidos.
“Num passado distante, quando seres humanos viviam em bandos menores e raramente conheciam pessoas novas, as fofocas ajudaram-nos a sobreviver e progredir”, explica McAndrew.
Por conta disso, as primeiras ‘desconfianças’ surgiram. Identificar quem era o traidor, ou quem merecia ser visto como alguém confiável, segundo psicólogos evolucionários, ajudaram no desenvolvimento da ‘seleção natural’ de nossas habilidades sociais.
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Evolução da linguagem
O psicólogo Robin Dunbar, autor do livro “Grooming, Gossip and The Evolution of Language” (tradução livre: “Higiene, Fofocas e a Evolução da Linguagem”, livro sem edição brasileira), afirma que, ao contrário do que se pensava, as mulheres, e não os homens, são a chave para entender a evolução da forma com que comunicamos.
De acordo com Dunbar, homens e mulheres têm o hábito de fofocar em iguais proporções, mas eles “tendem a falar sobre eles mesmos, enquanto elas falam sobre outras pessoas”, conforme sentencia em seu livro.
Antropólogos analisam que, antes da obra de Dunbar, acreditava-se que a “linguagem desenvolvida nas relações homem-homem em atividades como caça” teriam sido preponderantes para a evolução da comunicação. A obra de Dunbar, por outro lado, atesta que a “linguagem foi aprimorada pelas mulheres”.
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Foco no lado bom
Quando se fala em ‘lado bom da fofoca’ tem que se ter ciência de suas intenções. Bons ‘fofoqueiros’ podem ser influentes, afinal, compartilhar segredos pode ser um ótimo gancho para fortalecer relações interpessoais.
Aprimorada, essa habilidade permite conquistar confiança alheia e, ao mesmo tempo, ser discretamente informado sobre o que realmente acontece no meio de um grupo de que se participa – seja num grupo de trabalho ou num círculo de amigos.
Quem se recusa a participar, por exemplo, de um grupo que conversa sobre outros, pode estar suscetível ao isolamento, principalmente no ambiente de trabalho.
As fofocas têm o poder de, segundo um estudo da Universidade de Groningen (Holanda), “construir a coesão de um grupo e fortalecer a moral”.
Neste caso, vale focar o ‘lado bom’. “Indivíduos com atividades desproporcionais de fofocas têm menos amigos no grupo, sugerindo que o ato desmesurado de fofocar tem um limite”, conclui o estudo.
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