Muda a posição, a companhia, a faixa etária e o problema é sempre o mesmo. Alguns têm pressa, não têm jeito ou simplesmente não gostam. Há também os que se empolgam demais e permanecem ali, concentrados no pequeno detalhe do clitóris, esquecendo tudo o que ainda poderia ser explorado. O pior é que eles juram que estão arrasando, proporcionando múltiplos orgasmos clitorianos, enquanto a sensação de dormência do pobre coitado vai rapidamente se espalhando pelo resto do nosso corpo. O tesão vai embora, a angústia aumenta e a pergunta ecoa na nossa já dolorida cabeça: “Afinal qual é o grande mistério do sexo oral feminino?”.
Uma coisa é certa: a língua é uma varinha de condão em potencial, capaz de maravilhas, e o sexo oral, se bem feito, é prazer garantido. “O clitóris é similar à glande masculina. Grosseiramente falando, é um pênis atrofiado totalmente enervado. Por isso a mulher chega ao clímax com mais facilidade com esse tipo de estimulação”, explica a ginecologista Teresa de Andrade. Mas para que toda essa sensação venha à tona, uma ferramenta é fundamental: um parceiro competente, artigo que, ao que parece, anda escasso no mercado. “A impressão que dá é de que os homens não sabem como a coisa funciona. Sexo oral malfeito me dá o mesmo prazer de uma cerveja quente ou de uma ultrasonografia endovaginal”, ironiza a jornalista Sabrina Marconi.
Ter sensibilidade e perceber as reações corporais da mulher é um bom começo. “Dá pra ver quando a gente está gostando e onde. Nesta hora, nada de mudar de lugar, tem que permanecer ali. Existe um ponto certo no clitóris que, se estimulado, leva ao orgasmo. Portanto, na hora em que o cara acerta, é um delírio”, comenta a esteticista Eduarda Pudo. Para ela, o grande desafio do sexo oral é simplesmente fazer com que os homens encontrem o tal ponto e saibam o que fazer com ele. “O que não pode é morder, isso está terminantemente proibido. Alguns sujeitos acham que clitóris é igual a língua ou pescoço e saem dando mordidinhas estúpidas que doem na alma. Atenção, rapazes, esqueçam os dentes nessa hora! Vocês gostam de ser mordidos lá? Não, né? Nem nós. Então, façam-se de banguelas!”, avisa. O segredo, segundo ela, é passar a língua, ora bem rápido, ora desacelerando, mas sempre em torno do mesmo lugar. “Nada de tentar sugar ou engolir o clitóris. Tudo bem que ele é o alvo principal, mas uma passeada por toda a vagina também é legal”, orienta.
Um passeio completo, com escalas, pode ser ainda melhor. Para a advogada Ana Maria Guedes o ideal é não se limitar à linha de frente. “Eles têm que conhecer cada cantinho, inclusive a virilha. O ânus é essencial, é altamente gostoso e uma excelente preliminar para o sexo anal depois”, garante ela, que diz não imaginar uma transa sem sexo oral e dá, sem pudor, o mapa da mina para seus parceiros. “Gosto que dêem uma boa lambida nela toda e acho que penetrações com a língua são muito bem-vindas. Aí sim vem a melhor parte, o clitóris. E eu só gosto que toquem em cima da parte mais exposta, que é prazerosa e menos sensível. Esse é o problema, é só um milímetro acima. Quando eles cismam com o óbvio, que é estimular a tal campainha que todo manual ensina, eu não agüento, me dá aflição”, explica. Criatividade também é indispensável. “Lamber rápido, devagar, em círculos. Para temperar, uma dedadinha em ambas as vias, durante o processo, cai muito bem”, sugere.
Como sempre, a pressa é inimiga da perfeição. Ainda mais quando o assunto é sexo oral. “Tem que ter calma e não ficar afobado para não perder o sininho da mira”, diz a empresária Cristina Guerra. Para ela, o pior é quando os homens insistem em pontos neutros, se achando os reis da performance. “Outra coisa importante é não ter pudor, tem que chupar tudo, de cabo a rabo. E parar exatamente quando estiver para gozar. Aí é só começar tudo de novo, quem sabe até amarrada ou com a participação de outros instrumentos. Gelo no sininho, por exemplo, é uma looouuucura”, exalta.
Além da língua e dos lábios, existem algumas ferramentas que podem dar uma boa incrementada nessa brincadeira. Visitar uma sexshop, de preferência bem acompanhada, pode render novos estímulos para a relação e excelentes idéias. Um brinquedo esquisito, mas muito interessante é o The Accommodator (R$ 115,30), um pênis de látex, em forma de máscara, que encaixa no queixo. Muito útil: enquanto o homem concentra toda sua atenção no clitóris, o acessório faz o resto. Outra opção é Mimi-Mite Massager (R$ 67,50), um massageador do ‘sininho’, com várias placas de texturas diferentes, que também têm uma versão mais simples, o Mini Dual Massager (R$ 57,90). Para temperar, géis nos sabores uva, morango, chocolate, canela, pina colada e menta (R$ 15,50, o de 110ml e R$ 9,90, 30ml). Mas nada de excessos. A ginecologista Teresa de Andrade avisa que o uso de géis com sabor ou o de qualquer outra substância só deve ser feito eventualmente. “Esses produtos podem modificar o PH vaginal e causar alergias e coceiras. É essencial lavar após o uso”, orienta.
E o cuidado não se limita a isso. Segundo a ginecologista, a limpeza da região genital, incluindo o ânus, também é fundamental para evitar contaminações de verminoses, cada vez mais comuns nessa prática. “Durante o sexo oral, é comum que alguns microorganismos sejam levados do ânus para a região genital. Por isso é tão importante que o sexo oral, especificamente na vagina, seja realmente uma preliminar. Voltar à ela depois da penetração ou depois de ter explorado outras áreas aumenta o risco de contaminações”, alerta. Se controlar os instintos for difícil, a camisinha de língua pode ser uma alternativa. Outro problema comum é o da secretária Viviane Teixeira, que confessa se sentir desconfortável depois do sexo oral. “Sempre que faço, aparece um corrimento desagradável” conta. De acordo com a médica, na maioria das vezes tudo não passa de uma grande confusão. “Essa excitação mais profunda, provocada pelo sexo oral, produz muita secreção vaginal e algumas pessoas acabam confundindo o muco com corrimento”, esclarece.
Apesar da apologia feminina à prática, há situações em que até ele – o imbatível sexo oral – seja rejeitado. “Quando estou menstruada, não faço por nada. Sei que algumas mulheres não vêem o menor problema nisso, mas não me sinto à vontade”, opina a desenhista Cintia Almeida. Para a gerente financeira Lucia Simões, o mais desagradável são algumas saias-justas que a modalidade proporciona. “Não gosto de ver o parceiro tirando aquele indiscreto pelinho preso nos dentes. É muito constrangedor”, diz. Já a veterinária Denise Nunes encara tudo com muito prazer: “Sexo oral é sempre bem vindo. Para mim, não fazer ainda é o pior defeito”, finaliza.