” Eu posso ser uma rebelde, mas sempre antenada com o mundo.”
Vivienne Westwood
Uma das mais audaciosas, porém consistentes estilistas britânicas, Vivienne Westwood chama atenção de todos ainda nos dias de hoje. Há quatro anos, numa retrospectiva feita pelo Museu Victoria&Albert, em Londres, o público conferiu a controversa trajetória de uma das mais provocantes damas da moda inglesa. Numa sala extremamente escura, textos e projeções contavam um pouco da história de Vivienne e de seu encontro bem sucedido com a moda, além de nos reportar para uma época em que a palavra de ordem era chocar.
Nascida em oito de abril de 1941 perto de Manchester, na Inglaterra, conheceu seu primeiro marido em 1957, Derek John Westwood, com o qual dividiu a paixão pelo rock’n’roll. Vivienne era professora primária e freqüentava a igreja regularmente. Com o passar dos anos, essa jovem inglesa foi se angustiando com a rotina previsível e limitada que levava e, apesar de já ser mãe de um menino, lançou-se bravamente na busca por algo mais excitante.
Responsável pelo visual da banda punk rock Sex Pistols, gerenciada por Malcolm, Vivienne assegurou o título de rainha punk e ganhou reconhecimento mundial
Foi então apresentada a Malcom McLaren, que revolucionou literalmente a sua vida. De pacata dona de casa, Vivienne tornou-se uma das criadoras mais excêntricas da moda recente. Aos poucos, a convivência com Malcom foi direcionando e moldando sua carreira. Vivienne começou a esboçar seu talento costurando informalmente para o próprio companheiro. Com ele, teve o segundo filho, Joseph Corre, que hoje é dono de uma das grifes de lingerie mais famosas de Londres, a Agent Provocateur.
O último vestígio dessa provinciana inglesa foi eliminado em 1971 quando ela cortou radicalmente o seu cabelo, convencida de que ficaria mais sexy e moderna. Acredita-se até que David Bowie tenha copiado o estilo de Vivienne, pois este era definitivamente diferente, chamativo e único. Era punk!
Neste mesmo ano, Malcolm e Vivienne decidiram abrir a loja “Let it Rock” , dedicada à venda de objetos inspirados na década de 50. Encorajada pelo parceiro, Vivienne começou a copiar modelos de roupas com estilo jovem e colocá-los à venda em sua loja. Sucesso instantâneo e absoluto.
Movida pelo dinamismo incessante dos anos 70, Vivienne decidiu mudar o rumo do negócio e reabriu a loja desta vez com o nome de “Too Fast to Live, Too Young to Die”, uma homenagem a James Dean, que havia morrido tragicamente num acidente de automóvel.
No entanto, a aproximação com a banda novaiorquina The New York Dolls e a gradativa liberação sexual da sociedade direcionaram mais uma vez a vida profissional e pessoal do casal. Vivienne pôs então em prática o seu lado mais subversivo, mais indecente, mais extremo. Os produtos da nova loja batizada “SEX” (mais tarde “Seditionaries”) eram definitivamente chocantes: artigos explicitamente eróticos, sadomasoquistas inclusive, além de uma extensa coleção de camisetas com slogans que atraíam a juventude na mesma proporção que escandalizavam a opinião pública.
Tudo era magistralmente desconstruído pelas mãos de Vivienne Westwood e o efeito final era surpreendente: camisetas recortadas, rasgadas, pregueadas, estampadas com imagens e textos irreverentes, irônicos e, aos olhos de muitos, politicamente incorretos. Couro e borracha eram usados em abundância, além de alfinetes, lâminas, correntes e tachinhas, inspirações vindas das próprias ruas de Londres.
Responsável pelo visual da banda punk rock Sex Pistols, gerenciada por Malcolm, Vivienne assegurou o título de rainha punk e ganhou reconhecimento mundial.
Já no final da década de 70, uma outra tendência emergiu: os Novos Românticos. Liderados pelo lendário cantor Boy George, os jovens seguidores desse estilo abusavam de referências históricas e teatrais. Faziam suas próprias roupas e complementavam o visual com peças de brechós.
Respondendo a essa onda romântica, Vivienne desenvolveu o que seria sua primeira coleção oficial, “Piratas”, que a colocaria no mesmo patamar de estilistas britânicos já consagrados. Sua loja passou então a se chamar “World’s End” e tinha um relógio de 13 horas com os ponteiros girando em sentido contrário na porta de entrada.
O mundo da moda rendeu-se à irreverência de Vivienne Westwood, primeira estilista a manter-se fiel ao corte e ao processo de construção das vestimentas de séculos passados. Nenhum outro criador o fez com tanta perfeição. Ela passou a incorporar crinolinas, espartilhos e sapatos plataforma a seus desfiles, que se tornaram marcas registradas de sua grife.
Vivienne havia abandonado de vez a anarquia punk para se dedicar à pesquisa histórica. E, sem dúvida, escreveu a sua própria história no mundo da moda.