Reza a lenda que Deus criou o homem primeiro e talvez seja exatamente por isso que a mulher já tenha vindo ao mundo numa versão mais atualizada e com direito a alguns upgrades. Prova disso é que você provavelmente já ouviu falar em intuição e ela quase sempre vem acompanhada da palavra ‘feminina’. Não é à toa. Vira e mexe nós, mulheres, somos surpreendidas por aquela vozinha dentro da gente dizendo ‘faz isso’, ‘não faz aquilo’ e que, apesar da semelhança, não são ecos dos conselhos de nossas mães. E se não damos ouvidos, quase sempre terminamos nos lamentando pelos cantos: ‘alguma coisa me dizia que eu não devia… porque eu não ouvi minha intuição?’.
Atenta aos recadinhos dessa poderosa voz, a artista plástica Cristina Lamar bem que tentou aconselhar sua melhor amiga. “Ela estava prestes a sair com um cara, marcou um almoço e quis me levar junto. Engraçado que eu sempre dou um jeito de não ir para essas coisas… só que acabei indo. O cara era super legal, gente boa toda vida, mas eu achei algo estranho nele e algo me dizia para ela pular fora. Pois bem, conversei com ela e disse que achava melhor ela ficar com um pé atrás, etc. Ela ficou meio assustada, mesmo assim eles começaram a sair. Não deu outra. Um tempo depois ele veio com aquele papo de eu-sou-casado-mas-meu-casamento-está-arruinado e blá, blá, blá”, ironiza.
O que dizer de pessoas que na última hora desistem de determinadas viagens e como conseqüência escapam de desastrosos acidentes? Há quem garanta que é em momentos como esses que a intuição fala mais alto. Gabriela Coutinho, 24 anos, já passou por uma situação parecida, mas sem fins drásticos. “Minha melhor amiga estava louca para viajar para Cancun. Ela falou tanto, mas tanto, que acabou me convencendo de ir junto. Fui na agência, paguei tudo direitinho e quando faltavam cinco dias para a viagem me deu uma coisa, uma sensação estranha de que algo ia dar errado… cancelei tudo. Ninguém entendeu nada, eu tive que inventar uma história para a mulher da agência me devolver pelo menos uma parte do dinheiro, mas consegui. Eu fiquei e ela foi. É inacreditável, mas quando a Deborah chegou contando que o avião tinha dado problema, feito um pouso de emergência e que ela teve que passar quase que uma noite no aeroporto… eu fiquei impressionada. Como se não bastasse, ao chegar lá ela descobriu que nenhuma reserva havia sido feita no hotel e o passeio de transformou numa grande presepada”, conta.
Nem o amor escapa. A nutricionista Fabiane Guedes afirma que sua intuição nunca falha no campo sentimental. “Quando eu tinha 16 anos, fui passar o carnaval com meus pais e uma amiga em Saquarema. Assim que nós pisamos lá, eu virei para minha amiga e disse: ‘Flávia, tenho certeza que eu vou conhecer uma pessoa muito especial aqui’. O pior é que descrevi traços físicos desse cara que estava na minha imaginação. Na mesma noite nós saímos para dar uma volta e eu tropecei no Júlio. Gelei. Me apaixonei por ele no primeiro dia. A gente passou a noite inteira juntos e nós dois tivemos a sensação de que já nos conhecíamos há muito tempo. Começamos a namorar naquele dia mesmo. Não foi meu namoro mais duradouro, mas ele foi, sem dúvida, o cara por quem eu fui mais apaixonada. A Flávia diz que até hoje se arrepia quando lembra dessa história”, revela. Já a estudante Bárbara Acácio era apaixonada por um amigo da época de colégio e esperou pacientemente até a sua intuição dar o sinal verde para o ataque. “No ano passado, o Renato me ligou para dizer que estava organizando uma viagem para a casa de Cabo Frio e eu pressenti que aquela seria a oportunidade! Minha certeza de que iria rolar era tamanha que prometi a minha amiga que mandaria um telegrama com a letra S, caso ficasse com ele, ou com a letra N, caso não rolasse, e minha amiga recebeu o tal telegrama… só com um S… lindo!”, lembra, rindo.
Esse dom é aguçado ainda mais com a maternidade, quando a mulher desenvolve o enigmático poder de compreender o que o bebê deseja com um simples olhar, além de criar uma intensa ligação com a criança. “No dia da comunhão da minha filha mais nova, o Felipe, meu caçula, comprou um skate e resolveu que ia levá-lo para a festinha que ia acontecer logo depois da cerimônia. Alguma coisa me dizia que aquilo ia acabar mal e eu repeti umas vinte vezes que era pra ele não levar porque ia acabar quebrando um braço ou uma perna. Não adiantou nada. Teimoso, foi ele com o skate embaixo do braço. Depois de passar a tarde inteira andando pra lá e pra cá naquele troço, ele ainda me desafiou: ‘tá vendo como eu sei andar! Não aconteceu nada, viu?’. Bastaram cinco minutos. Foi ele subir novamente no skate para cair e quebrar o braço”, recorda a promotora Ana Lima.
Tamanho foi o susto da designer Fernanda Mendonça quando, ao chegar na casa de seus pais, descobriu que uma prateleira de vidro havia quebrado logo acima da cama. “Eles não estavam em casa e eu fiquei desesperada, procurando sangue pelo chão, achando que minha mãe tinha se machucado”, diz. Mas o incrível da história é que sua mãe, que estava sã e salva numa festa, começou a pressentir que Fernanda não estava bem e voltou correndo para casa. “Minha mãe chegou lá e ficou horas repetindo para o meu pai: viu, eu não disse que ela estava preocupada com alguma coisa!”. Santa intuição feminina.
Esse ‘sexto sentido’ não tem hora e nem local para se manifestar, mas será que dá pra usá-lo como argumento no trabalho, por exemplo? É complicado. Principalmente por ser um dom tipicamente feminino e difícil de explicar. A assistente financeira Andressa Moreira resolveu o processo de retirada de alvará da empresa em que trabalhava – e que já se arrastava por mais de dois anos – graças a sua intuição. “O rapaz me informou que o documento para dar entrada novamente na retirada já havia sido expedido e que não tinha outro jeito de resolver o problema. Ninguém na empresa sabia onde estava o tal papel e muito menos o contador e o despachante. Quando eu estava indo embora, exatamente na porta, tive aquele estalo. Me deu uma luz e eu resolvi dar uma olhada no processo. Adivinha onde estava o tal documento? Lá dentro”, destaca. Agora, vai explicar isso para o chefe… não que os homens não sejam intuitivos, mas talvez eles não confiem tanto em seus próprios sentimentos.
Que as mulheres possuem habilidades sensoriais muito aguçadas já deu para notar. Então, se você andou dando férias para a sua intuição, é melhor ligar as anteninhas, voltar a tirar proveito desse precioso dom e não ter medo de segui-la.