O Centro Paula Souza, em São Paulo, que estava ocupado por estudantes que manifestavam contra a precariedade das merendas oferecidas nas escolas técnicas, foi reintegrado pela força da Polícia Militar com apoio da Tropa de Choque na manhã desta sexta-feira (6). Nós estávamos lá com os estudantes: a ideia do jornalista Tiago Ferreira era passar a noite com eles, saber quem são e contar a história desses jovens por trás de “lentes mais humanas”.
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Nossa pauta, no entanto, deu de cara com a ocupação e agora contamos o que vimos. Essa matéria faz parte de uma série de reportagens que o Batanga irá publicar trazendo perfis desses jovens e o relato do que sentiu nosso jornalista ao jantar com eles e passar a noite lá. Começamos contando o que sentiram e como agiram os manifestantes com a chegada da polícia.
Reintegração: a visão de um repórter no meio dos jovens
Na manhã de hoje, 6 de maio, a polícia havia cercado o prédio do Centro Paula Souza. “Nós vamos resistir”, disse J.P., de 18 anos, um dos estudantes que passaram a noite no local. “Eles vão vir pra cima com força, mas nós vamos ficar até o fim”, disse L., uma das manifestantes.

A concentração dos policiais teve início por volta das 5h da manhã. Alguns estudantes rondaram o local previamente e disseram ter visto viaturas da Rota e carros blindados em torno do prédio. Clima de tensão. Para se preparar, eles colocaram cadeiras no meio da avenida em frente ao Paula Souza, para mostrar resistência. Sim, cadeiras.
Enquanto isso, os policiais fecharam os quarteirões. Tropas se posicionaram, como se estivessem em marcha. “Tudo isso aí é pra nos intimidar. É isso que eles querem”, exclamou Vicky, que deixou uma bandana presa ao pescoço, como se estivesse preparada para bombas de efeito moral. A média de idade desses jovens, que lutavam por condições melhores na merenda e o fim da corrupção, era de 16 a 19 anos.
No entanto, a permanência dos policiais fez com que alguns estudantes abandonassem o prédio para ficar na área restrita, atrás das tropas da PM. “Eu arreguei”, disse Vicky depois, com medo de sofrer algum tipo de violência das tropas.
Além dela, outros manifestantes decidiram “arregar”. “Não adianta lutar contra a força bruta deles. Eles têm cassetetes, bombas de efeito moral, e nós só temos cartazes”, disse G., estudante do Ensino Médio que também fez parte do movimento de ocupação.

Por volta das 6h40 os policiais avançaram em direção ao prédio. Manifestantes que ficaram no caminho disseram que eles usaram gás de pimenta e outros métodos violentos durante a reintegração de posse. Há relatos de alunos arrastados por policiais.
Após a reintegração, os estudantes se dirigiram para a avenida Tiradentes, no centro da cidade, com o objetivo de chegar à Etec de São Paulo. O prédio é um entre os 11 também ocupados por manifestantes.
Por que reintegrar com a polícia?
Segundo a administração do Centro Paula Souza, “os manifestantes impediram representantes da instituição de retirar documentos necessários para o pagamento de fornecedores”. Os próprios manifestantes responsáveis pela segurança confirmaram: eles impediram a entrada de funcionários.
Em nota oficial à imprensa, o Paula Souza disse que “espera que seus funcionários possam retornar o quanto antes à sua sede. Em várias Etecs, alunos estão resistindo às ocupações”.
Justiça proibiu uso de armas contra estudantes

Os cerca de 50 estudantes ocupavam a cúpula do Paula Souza pelo menos desde o dia 28 de abril e foram pressionados pelo Governo do Estado a saírem. No dia 2 de maio, o secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, ordenou a entrada da PM sem mandado judicial. A ação, no entanto, foi considerada ilegal pela Justiça, que proibiu o uso de armas contra estudantes na reintegração e exigiu a presença do secretário na ação. Mas o Governo recorreu e conseguiu um mandado do Tribunal de Justiça na noite de ontem, 5 de maio, deixando o comandante policial “responsável pelo cumprimento da medida”, dando carta branca para que ele analisasse a “conveniência ou não do uso da força e dos recursos necessários, na proporção adequada”.
* Para proteger a identidade dos alunos, utilizamos apenas o primeiro nome ou a letra inicial, já que muitos deles são menores de idade
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