As mentiras do casal > Medo: um gerador de mentiras

Em muitos outros casos, a omissão surge do medo, o mais poderoso alavancador de mentiras e omissões. Bons exemplos são: o medo de perder o parceiro, o medo de confessar pequenos deslizes, de ter se mostrado vulnerável à propaganda ou de ter cedido à pressão de amigos. Outro fator importante é o hábito crescente dos casais de manterem contas-correntes e cartões de crédito separados, o que sem dúvida facilita a omissão.

Essa é uma tendência natural e inevitável, uma vez que as mulheres, hoje, já possuem seu próprio dinheiro. Mas ainda que certa independência mereça ser preservada, a falta de comunicação entre os dois nem sempre se justifica. Sempre é possível manter a liberdade, a identidade e o estilo próprio sem criar conflitos. Basta não ignorar as coisas que precisam ser construídas conjuntamente. Grandes gastos, por exemplo, devem sempre discutidos e decididos pelo casal, e não apenas por uma das pessoas.

Os brasileiros, apavorados com assaltos e seqüestros, evitam falar sobre a sua real condição financeira

No caso brasileiro, existe, ainda, um fator que é nitidamente agravado pela violência. Os brasileiros, apavorados com assaltos e seqüestros, evitam falar sobre a sua real condição financeira. Diferentemente dos americanos, que prezam aqueles que são bem-sucedidos, aqui, escondemos o sucesso, achando que estaremos protegidos contra a violência e os abusos. Tratar as questões financeiras com excessiva reserva é um hábito bem enraizado na cultura brasileira e essa forma de agir acaba – inevitavelmente – infiltrando-se nas famílias e nos relacionamentos.

É bom lembrar que a “infidelidade financeira” pode ser desastrosa para o seu futuro. E não apenas sob o aspecto da acumulação, mas também – e principalmente – nas complicações legais que podem se originar na co-responsabilidade das dívidas contraídas durante a vida a dois.


Eliana Bussinger é a autora do livro “As leis do dinheiro para mulheres”, da Editora Alegro/Elsevier