Ser demitido é sempre um golpe muito grande na vida de qualquer um. Afinal, as contas não esperam o melhor momento para chegar e, no final do mês, estão lá como de costume. Medo, insegurança e frustração são sentimentos freqüentes e naturais e que muitas vezes motivam reações inesperadas. Lidar com todas essas emoções requer muito jogo de cintura e não deixa de ser mais um desafio do mercado de trabalho atual, já que a rotatividade de funcionários no ambiente empresarial continua sendo uma dura realidade.
Se a estabilidade no emprego não pode ser garantida, o negócio é investir na própria estabilidade emocional. Seguir a etiqueta certa no momento da demissão pode ser um grande trunfo para quem vai precisar buscar novas oportunidades no mercado. Não que existam regras ou frases feitas para se decorar. A melhor estratégia pode estar mesmo na velha política da “boa vizinhança”, como explica o psicólogo e consultor empresarial Ricardo Estevam. “O que a gente recomenda é que o funcionário não tenha grandes explosões de raiva, não se coloque no papel de vítima. Se você demonstra equilíbrio, uma postura profissional e ética no momento da demissão, há chances de conseguir uma recolocação futura. Não crie assunto ou diga que o chefe te perseguia. Há uma tendência atual de as empresas darem preferência em recontratar funcionários que tiveram de dispensar em momentos de pressão”, alerta.
Tem de conversar para entender o porquê do desligamento e buscar no mercado os elementos necessários para requalificar
Conversar com seu superior é o caminho para entender as razões do afastamento, o que aumenta as chances de encontrar alternativas para a situação de desemprego. Por meio do diálogo, é possível conhecer os próprios erros, compreender as razões de não ter remediado as dificuldades e detectar outros pontos fracos. “Tem de conversar para entender o porquê do desligamento e buscar no mercado os elementos necessários para requalificar”, orienta Ricardo. “É bom para o crescimento profissional. Mesmo que, ao fechar a porta, você corra para um amigo ou chore falando no telefone com a família”, completa Christina Marques, gerente de recursos humanos da Manager Online.
Optar por uma conversa amigável, em tom conciliador, pode ser extremamente difícil, mas um sacrifício necessário. A estratégia não é assumir um papel de submissão. Segundo o consultor Ricardo Estevam, é importante se posicionar e opinar sobre o período em que trabalhou na companhia: “Durante a entrevista de desligamento, é importante falar sem rancores, falar o positivo e o negativo de sua experiência na empresa”, ressalta.
Como a palavra chave é equilíbrio, optar por desabafar com o chefe na hora da demissão não é uma boa escolha. A tentação costuma ser grande, já que a frustrante notícia traz a tona possíveis descontentamentos e a vontade de soltar tudo o que estava “engasgado na garganta”. “O primeiro sentimento é o de injustiça, porque passa um filme na cabeça: sempre cheguei na hora certa, vesti a camisa da empresa, usei fins de semana no escritório”, comenta Christina. Mas, em vez de se deixar levar por esses sentimentos, a dica é tentar enxergar algumas vantagens: “Tem de se tirar proveito da situação, por mais entranho que isso pareça. É um momento de tomada de consciência, de fazer uma auto-análise para corrigir erros. É um choque, um trauma, um momento difícil, com certeza. Recebo no consultório, pessoas que surtaram, que saíram quebrando tudo depois de receber a notícia. O equilíbrio é essencial”, afirma o consultor.
O que não fazer
A gerente Christina Marques conta que atualmente a maioria dos casos de demissão não tem relação com a falta de capacidade técnica do funcionário. “Somente 15% das demissões são causadas por problemas técnicos, do profissional não conseguir cumprir metas em sua área. Os 85% restantes são referentes a dificuldades de comunicação ou de relacionamento, por exemplo”, enumera ela. Isso ressalta a importância e a utilidade da conversa no ato da demissão: o problema que a causou pode ser, na maioria das vezes, perfeitamente entendido e contornado para a próxima jornada.