Finanças em dia

O cartão de crédito estourou o limite no Carnaval. As compras de Natal já começam a ser descontadas da sua conta. Para piorar a situação, você descobre, pelos preços da lista de material do seu filho, que fazer livros didáticos é um negócio milionário. Pois é, o ano mal começou e você se dá conta, mais uma vez, que seu salário não banca seu estilo de vida. Será mesmo? Os especialistas em finanças pessoais afirmam que é possível viver sem dívidas. Eles garantem que o segredo para evitar rugas e fios brancos que vêm com as preocupações de dinheiro está na administração do orçamento doméstico e não na fonte de renda.

Não são poucas as pessoas que se endividam. Na maior parte das vezes, por uma simples questão de consumo. Segundo o último levantamento do Serasa, de janeiro a novembro de 2007, a inadimplência das pessoas físicas aumentou 1% em relação ao mesmo período de 2006. As dívidas com os bancos foram responsáveis por 39,9% da inadimplência dos consumidores ante os 32,2%, do mesmo período em 2006. Em termos percentuais, a participação dos bancos na inadimplência aumentou 23,9%.

Basta fazer uma reserva. É como se a pessoa pagasse um dízimo para si mesma, todo mês. No final, ela terá um dinheiro para investir e outra parte para uma reserva própria. Até a casa própria pode ser comprada assim

Em segundo lugar no ranking da inadimplência estão as dívidas com cartões de crédito e financeiras, que tiveram uma participação de 30,2%, de janeiro a novembro de 2007. As dívidas com cartões e financeiras haviam registrado 32,8% no mesmo período de 2006, o que representa uma queda de 7,9%.

Segundo o especialista em finanças pessoais, Luiz Carlos Ewald, autor do livro “Sobrou Dinheiro! – Lições de economia doméstica”, acompanhar de perto o que se gasta é fundamental. Ele ensina as pessoas a consumir sem dívidas, a cortar o que é verdadeiramente supérfluo e a esperar o momento certo de investir. Para os pais preocupados com os custos escolares dos filhos, Ewald mostra as maneiras mais baratas de conseguir materiais ou mesmo uma boa bolsa.

Fenômeno do consumo

O consumo é algo novo para o brasileiro. Não faz muito tempo, não havia tantos shoppings como nos dias atuais, tantas marcas e tantos produtos importados. Comprar uma filmadora, só viajando para o estrangeiro. Eletrodoméstico, então, era indicador de “classe A” do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Hoje, cerca de 90% dos brasileiros possuem uma TV dentro de casa.

Muito aconteceu para que o cenário mudasse, no Brasil e no mundo. Foi-se plano Cruzado, Cruzado II, Bresser e Verão. Houve quem gastou e se deu bem. Houve quem salvou e teve o dinheiro preso com o Plano Collor II. Veio Plano Real, em 1994, e a inflação “acabou” – entre muitas aspas -, para quem viu a moeda desvalorizar 933% ao longo de 1988. Na década de 90, o Brasil conheceu os produtos mundiais. Flexibilizou o câmbio, permitiu a importação de muitos bens e liberou os preços para o mercado se regular sozinho. Com as inovações econômicas, acompanhando as tendências no cenário internacional, veio o microcrédito, para permitir que qualquer brasileiro com algum tipo de renda pudesse ter acesso ao consumo.

Hoje, quase qualquer pessoa pode ter um cartão de crédito, conta em banco e fazer empréstimos. O sistema se “bancarizou” por completo e, com isso, quem desconhecia as armadilhas que se escondem atrás dos juros e encargos perdeu o sono tentando pagar dívidas intermináveis.

O conselho do economista e professor da Fundação Getúlio Vargas Luís Carlos Ewald é procurar comprar à vista. Segundo ele, até as situações de emergência que demandam dinheiro não precisam virar crises financeiras pela falta de previsibilidade. “Para isso, basta fazer uma reserva”, explica. “É como se a pessoa pagasse um dízimo para si mesma, todo mês. No final, ela terá um dinheiro para investir e outra parte para uma reserva própria. Até a casa própria pode ser comprada assim”.