Você teve uma idéia brilhante que, além de ajudar a empresa em que trabalha, é a sua chance de ganhar uma promoção. Fez todo o planejamento estratégico, sabe tudo de cor e salteado. Mas na hora H, quando vai expor suas idéias, seu organismo dá um piripaque. A boca seca, as mãos suam e formigam, uma onda de calor invade seu corpo e o coração dispara – e você ainda está muito longe da menopausa. Trava tudo, como se fossem aqueles velhos conhecidos bugs do Windows. Justamente quando se precisa de calma e tranqüilidade para apresentar as sugestões. Tudo que estava na ponta da língua vai para o além no segundo seguinte, e só a sua cara de boba permanece. O pior é que isso não acontece uma vez ou outra, é sempre. Mas o caso tem solução, porque estamos falando de medo, esse sentimento natural do ser humano que garante a sua sobrevivência.
O medo de dar vexame, de ser considerado um tolo, de acharem sua idéia descabida, de se colocar e assumir posicionamentos pode travar sua história de sucesso e fazer de você apenas mais um bom funcionário. A gerente de marketing Célia Picollo correu atrás de ajuda quando percebeu seu problema. “Tinha grandes idéias que poderiam otimizar muito o trabalho na empresa, mas ficava mal quando decidia colocá-las para meu chefe. Tinha dores de estômago, suava frio e tremia inteira”, descreve. A decisão de procurar ajuda médica aconteceu quando uma idéia que tinha, e achava boba, foi apresentada por um colega que recebeu muitos elogios. “Aquilo me fez mal e percebi que poderia ter meu destaque também. Procurei um psiquiatra e comecei a me tratar. Não foi nada fácil. Mas hoje, falo tudo o que penso. Se tenho um projeto, me preparo, estudo todas as falhas e apresento para minha equipe. Além de me livrar da angustia de não conseguir falar, fui promovida e estou cada vez mais criativa, característica fundamental para crescer na minha área”, conta.
Um dos maiores bichos-papões da carreira é ter que falar em público. Essa é a causa do medo de muitas pessoas que, mesmo preparadas, ficam com as pernas bambas diante do desafio. “Já transferi para outra pessoa um trabalho em que precisava fazer uma apresentação por pura insegurança. Ajudei no desenvolvimento mas nem compareci no dia da apresentação”, lembra a supervisora Cristina Santos, que depois desse dia resolveu que mudaria essa situação que já atrapalhava sua vida profissional. “Comecei conversando com pessoas que estavam sempre apresentando trabalhos, lendo tudo que achava sobre esses medos e, recentemente, fiz um curso de ‘como falar em público’, que me ajudou muito”, conta Cristina, que garante não ter melhorado 100% a sua insegurança, mas progrediu visivelmente. “Acredito que o frio na barriga e o tremor das mãos, no início, continuarão. No entanto, não perderei mais o sono por causa das apresentações”, conclui.
Não há mal nenhum em sentir medo, muito pelo contrário. Esse sentimento desconfortável, de sentir e assumir, é o nosso maior protetor. Se não fosse o medo de altura, quantas pessoas poderiam morrer se jogando de prédios? Até no simples ato de atravessar a rua, você já estaria colocando sua vida em risco. Ele nos dá o cuidado e o sentido de preservação. Segundo a psicóloga Neuza Corassa do Centro de Psicologia Especializado em Medos, o problema está no exagero. “Quando esse sentimento é acentuado, causando sofrimento e prejudicando a carreira, ele precisa ser tratado, porque provavelmente está acompanhado de outros fatores como baixa auto-estima, timidez excessiva e depressão”, explica. Segundo Neuza, que também é autora do livro ‘Vença o Medo de Dirigir — Como Superar e se Conduzir no Volante da Própria Vida’ – Editora Gente, esses distúrbios no trabalho estão relacionados à fobia social, que se caracteriza por pessoas perfeccionistas, detalhistas, exigentes consigo, com resistência em expor idéias e grande dificuldade de se relacionar. “Como é complicado agradar a todo mundo, eles preferem não correr o risco de se expor. Precisam sempre de uma garantia de que vai dar certo, antes de agir. Só que isso é impossível”, afirma ela, que explica não ser o fóbico o único prejudicado, pois como ele não consegue tomar as iniciativas, muitas idéias ficam arquivadas e as empresas deixam de absorver as tão sonhadas soluções.
Não é preciso ter medo do medo, porque ele tem cura. É claro que vai depender, basicamente, da vontade de se superar. Além dos muitos medicamentos que ajudam aliviar os sintomas, o tratamento é baseado na exposição. “Pode parecer uma tortura, mas a melhor forma de curar é expor a pessoa às situações temidas. Isso é feito de uma forma sutil, sem traumatizar ninguém”, afirma o psiquiatra Tito Paes de Barros Neto, autor do livro “Sem Medo de Ter Medo”, da Ed. Casa do Psicólogo. De acordo com Tito, quando o problema é falar em público, por exemplo, o terapeuta faz simulações de apresentações com o paciente no consultório e depois estimula ele a fazer isso com os parentes e amigos e, cada vez mais, ir aumentando o número de pessoas. Assim, ele vai se acostumando, gradativamente, até enfrentar um auditório lotado. Já para a psicóloga Neuza Corassa, muitos casos podem ser resolvidos até mesmo sem a orientação de um profissional. “No mercado, já existe um número grande de livros sobre o tema que podem ajudar. O mais importante é a pessoa resgatar sua auto-estima e isso pode ser feito através de atividades físicas, de trabalhos manuais, ou de qualquer atividade que link corpo e mente, inclusive esportes radicais, onde o medo e a adrenalina ficam à flor da pele e geralmente as pessoas estão se superando”, ensina. Para ela, quando esse profissional descobre seu verdadeiro valor, vira uma estrela. São pessoas altamente capazes, dedicadas, organizadas, revisam tudo várias vezes, por isso a possibilidade de erro é mínima. Mas eles precisam acreditar nisso.
O medo é uma censura, uma trava, um bloqueio, um freio. Mas só vai ser ruim se você deixar. Controlá-lo é saudável e necessário para sua vida andar. Eliminá-lo é impossível e perigoso, porque ele serve para protegê-la. A melhor saída é fazer dele um aliado, assim você e sua carreira estarão em equilíbrio.