Networking, a alma do negócio

Ninguém vive sozinho. Seja no meio social, amoroso, ou em qualquer outro campo, aquela velha máxima de que o ser humano não pode ficar isolado já está mais do que provada. Com o profissional não podia ser diferente. Em tempos de globalização, com a informação chegando antes de nós, fica ainda mais difícil estar atualizada. Hoje em dia, com a concorrência no mercado de trabalho cada vez mais acirrada, não adianta só ser capacitada. Quase tudo funciona na base do QI. Quociente de Inteligência? Antes fosse! O obscuro universo corporativo se move pela regra do “Quem Indica”. Por isso mesmo é que, mais do que nunca, deve-se estar bem relacionada. Então, nada melhor do que fazer um networking ou, como é chamado aqui no Brasil, rede de trabalho, contatos ou relacionamentos. Conhecer gente, trocar experiências profissionais, ajudar um hoje e, claro, ser lembrada amanhã é, literalmente, a alma do negócio.

A gente está sempre conhecendo pessoas. Só que, com a correria diária, fica impossível administrar tantos contatos. E, com o passar dos anos, acabamos esquecendo de pessoas que encontramos ontem e poderiam ser de grande serventia em algum momento. A partir dessa dificuldade, surgiu a seguinte indagação: “Se a gente recolhe tantos frutos todos os dias, sem fazer disso uma prática sistemática, porque não fazer de forma atenta e organizada?”. Embora retórica, a pergunta, feita por Julia Santos, gerente de projetos da Networker, uma empresa que presta consultoria sobre o assunto, impulsionou a idéia de instituir o networking, que permite qualquer profissional gerenciar contatos e mantê-los sempre por perto – mesmo que à distância.

Em qualquer mercado, quando a oferta supera a procura, a necessidade de se tornar competitiva é ainda maior. E para ficar no páreo, quem almeja uma vaga em alguma empresa precisa se mostrar mais apto do que seus concorrentes. Mas não basta apenas ser superdiplomada. No mundo corporativo, é quase que obrigatório ser super-relacionada. A consultora de Recursos Humanos da Catho Patrícia de Mônica afirma que a indicação é o principal caminho para conseguir um emprego. “Cerca de 22% a 24% dos executivos são contratados por indicações de pessoas de dentro ou de fora da empresa”, explica Patrícia. Isso quer dizer que, quanto mais pessoas você conhece, maiores serão as chances de alguém lembrar do seu nome na hora de uma boa oportunidade. Até porque nem todas são abertas oficialmente. “Excelentes vagas se viabilizam a partir do conhecimento da disponibilidade ou interesse de alguém com um background específico”, indica a diretora de Recursos Humanos do Grupo VR, Ana Maria Melhem Consentino.

Não é só na hora de arrumar um emprego que o networking pode ser útil. Na verdade, a rede de relacionamentos pode contribuir, e muito, para o dia-a-dia de qualquer profissional. “A pessoa pode recorrer aos seus contatos para trocar informações para desenvolvimento de políticas e projetos, buscar profissionais em relações comerciais”, diz Ana Maria. Quem quer fazer um networking precisa ter em mente que sua função vai muito além do ganho pessoal. Pelo contrário, se o intuito por esse, é melhor nem começar. A rede deve ter sempre duas vias. “Muitas vezes, a rede apenas é lembrada quando o executivo precisa. Porém, se isso acontece, os contatos já se distanciaram, e não são passíveis de serem recuperados”, alerta Ana Maria. Tem que estar disposta a contribuir. Se você não estender a mão para alguém, dificilmente ajudarão você.

Contanto que os contatos sejam bons, a quantidade de pessoas não importa. Diversificar as áreas também conta. “Diferenças em uma rede são sempre interessantes para acrescentar idéias e difundir culturas organizacionais”, alega Julia Santos. A diretora de Recursos Humanos do Grupo VR dá alguns conselhos essenciais para quem deseja ampliar sua rede: “Procure diversificar a partir dos seus próprios contatos, especificando para essas pessoas com que tipo de profissional/indústria você gostaria de se relacionar, e pedindo recomendações que possam ser úteis”, recomenda Ana Maria. No entanto, o networking não se resume a um grande número de contatos. “Significa criar e manter conexões interpessoais que facilitem trocas de informações, contatos, e conhecimento, trazendo ganhos para todas as partes envolvidas”, esclarece Julia Santos.

Para ajudar profissionais e organizações na construção de redes de relacionamentos, a empresa Networker criou uma ferramenta interativa chamada Connexis. “Trata-se de um software com fóruns e bancos de conhecimento, que permite que seus membros estejam conectados virtualmente, sem que precisem organizar eventos para se encontrarem”, diz Julia. Apesar de não se restringir exclusivamente aos profissionais da mesma área, a rede de trabalho também ajuda na comunicação entre membros do próprio ambiente corporativo. “Muitas empresas usam softwares de networking para formar grupos de prática entre profissionais de áreas diferentes ou da mesma, caso seja uma empresa grande”, acrescenta a gerente de projetos da Networker.

A rede de contatos pode ser iniciada em qualquer ambiente, seja ele profissional ou mesmo social. Procurar ex-empregadores, ex-colegas de trabalho, ex-formandos de turma, clientes, fornecedores, concorrentes, membros de associações de classe, amigos e parentes pode ser de grande valia.  A consultora de Recursos Humanos da Catho Patrícia de Mônica explica que os contatos estabelecidos ao longo da vida representam uma ótima maneira de começar a rede de relacionamentos. Se apresentar e pedir informações também não ofende. “Solicite o nome de profissionais e manifeste o interesse em marcar uma reunião para conversar melhor e ouvir sugestões. Não esqueça, nunca diga que seu intuito é arrumar um emprego ou pedir ajuda”, avisa Patrícia. Freqüentar lugares como eventos profissionais, congressos, palestras e participar de listas de discussão de gente de todo país também ajudam a abrir portas.

Relações estabelecidas, não adianta largá-las de mão, é preciso investir na manutenção dos contatos, seja por e-mail, telefonemas ou qualquer outra alternativa que avise às pessoas que você se lembra delas. E para não esquecer de ninguém, Julia Santos dá a dica: “É bom sistematizar a agenda fazendo um banco de dados no próprio programa de e-mail. Toda vez que receber um cartão de visitas, anote quem é a pessoa, onde conheceu, os assuntos discutidos”, diz ela. Rede tecida, é só fazer a manutenção enquanto a sua oportunidade não chega.