Todo domingo, na Rede TV!, o pessoal do “Pânico” arranca gargalhadas no quadro “Sandálias da Humildade”. Se você mora em outro planeta e nunca ouviu falar nisso, a gente explica: os humoristas do grupo Pânico criaram as sandálias da humildade para calçar os pés de gente que está se achando mais do que é, artistas metidos, esnobes mesmo, que acham que são melhores que os outros. Segundo Emílio Surita, idealizador do programa, a idéia veio da época do rádio, quando o grupo tinha vontade de dar um baixa-bola nos entrevistados que chegavam lá com o nariz muito pra cima. Desde que foi ao ar, a brincadeira virou quadro fixo no programa e faz muito sucesso. A primeira vítima foi Luana Piovani, seguida por Clodovil e depois Daniela Cicarelli – os caras souberam escolher a quem presentear.
A galera do Bolsa não tem programa de televisão, mas conhece uma lista de pessoas que estão precisando ser um pouquinho mais humildes. Pode ser aquela amiga que está se achando a cereja do sundae, ou aquele sujeito que pensa que é a última Coca-Cola no deserto. Falamos com algumas meninas que, como nós, têm vontade de bater no ombro daquela pessoa metida e mandar um “Te enxerga, minha filha” ou sussurrar um “Menos, bem menos” no ouvido daquele carinha arrogante. Perguntamos também aos profissionais como fazer para entregar as sandálias da humildade com todo jeitinho para quem está abusando do salto alto.
Do jeito que a coisa anda, a sandálias da humildade, de tão procuradas, vão entrar em falta no mercado. A dentista Isabela Paixão quer calçar o apresentador Jô Soares. “Ele se acha o máximo. Chama os convidados e fica tirando onda com a cara deles. Dá muita raiva”, diz ela. O engenheiro de produção Marcos Bueno quer exportar as sandálias e calçar os irmãos Gallagher, do Oasis . “Eles dizem que são a melhor banda que surgiu desde os Beatles”, reclama o inconformado engenheiro. “A Suzana Vieira que se auto-entitulou uma grande atriz depois de ‘Senhora do Destino’”, denuncia a estudante Paula Maia. “O Romário, que fala, fala e não faz mais nada em campo”, detona a flamenguista Carolina Rocha. Tem gente querendo sandália pra Malu Mader também. “Ela tá muito metida, não aceita ser fotografada. Se ela não quer dar papo pra jornalista, devia ter escolhido outra profissão, bancária, por exemplo”, diz a secretária Paula Toledo, ao ler sobre a performance da atriz na recente festa de aniversário da Globo.
Enquanto isso, fora do mundo das celebridades, tem gente fazendo fila por um par das famosas sandálias, como a estudante Tânia R. “Se tiver uma aí, quero muito colocar no guarda-roupa da minha melhor amiga. Tem vezes que nem eu agüento. Sabe essas pessoas que se acham o centro do mundo? Que começam todas as frases com eu isso, eu aquilo? Que roubam as idéias dos outros e falam que são suas?”, pergunta ela. Sim, sim, nós sabemos. Sandálias nelas!
Tem sandália modelo feminino e masculino, para a sorte da gerente de loja Márcia G. e azar do seu último paquera, Fernando. “Tudo bem que ele era um gato, mas daí a se achar o máximo são outros mil e quinhentos. Não adianta nada ser bonito, se a pessoa não tem um pingo de humildade e olha todo mundo de cima. Saímos só uma vez e, ao invés de sentir orgulho por estar acompanhada por um homem bonito, senti foi vergonha pelo jeito como ele se comportou, crente que estava abafando”, esbraveja Márcia, para quem uma dose de humildade não faz mal a ninguém.
Entre esnobes e metidos, nem tudo está perdido. Não dizem que o primeiro passo é reconhecer o erro? Se é assim, a designer Olívia P. já tem meio caminho andado. Quando perguntamos a ela pra quem ela gostaria de entregar as sandálias, ela não titubeou. “Pra mim mesma”, disse, às gargalhadas, antes de assumir que estava se sentindo a rainha da cocada preta. Isso porque, na noite anterior, nossa entrevistada tinha falado mais do que devia para uma conhecida. “Bebi demais e parecia que eu tava possuída. Disparei a falar sem parar ao ponto de fazer uma garota até chorar. Joguei um monte de coisa na cara dela, dos caras derrotados que ela colecionou, inclusive o pai do filho dela… Falei que eu estava bem melhor que ela, uma vez que financeira e emocionalmente não preciso de nada que é dos outros”, contou Olívia, que , sem dúvida, desceu das tamancas. No dia seguinte, tratou de calçar as sandálias. “Liguei e pedi desculpas”, diz.
Segundo a psicóloga Patrícia Madruga, antes de sair distribuindo as sandálias da humildade por aí, devemos nós mesmos calçá-las. “É preciso ter cuidado ao julgar o outro, pois todos temos defeitos. No dia de amanhã, podemos passar por metidos e arrogantes também”, alerta a psicóloga. Já devidamente calçados, se estivermos diante de um amigo que está se achando o rei do bobó de camarão, o jeito é chamá-lo para uma conversa franca. “Quando há intimidade, vale a pena expor seus sentimentos em relação ao outro com toda delicadeza, procurando ressaltar as qualidades dele também”, a psicóloga dá a dica para o clima não pesar. Mas, Patrícia, e se a gente for surpreendida pela sandália e tiver a má fama de metidos e convencidos? “Nesse caso, sugiro
que a pessoa reflita sobre suas atitudes e mude seu comportamento, antes de perder amizades, negócios ou até que os familiares se afastem. Saber lidar com o outro é muito importante”, conclui. Quer colocar o tal calçado em alguém? Aproveite os nossos comentários e dê a sandália virtualmente então.