Você já teve aquela sensação estranha de já ter estado em algum lugar, sem nunca ter colocado os pés por lá antes? Ou então de conhecer há séculos uma pessoa que você nunca tinha visto na vida? Dá um baita arrepio na espinha, mas a sensação é mais comum do que se imagina. Essa curiosa impressão de termos vivido determinada situação anteriormente tem um nome francês: dèja vu (pronuncia-se dêja-vi), que significa algo como “já visto”. Para explicar esse fenômeno, chovem teorias. No entanto, todas elas remetem ao mesmo ponto: os segredos da nossa memória.
Quem passa por situações de déja vu fica sempre com a pulga atrás da orelha, como a jornalista Fabiola Costa. “É muito esquisito, porque essas ocasiões acontecem com muita freqüência. Volta e meia eu tenho a impressão de já ter passado antes por uma situação que eu julgava inédita. No ano passado eu viajei para uma cidade para onde eu nunca tinha ido antes e, enquanto estive lá, tive a forte impressão de já conhecer tudinho. Tanto que não senti dificuldades em me virar durante a minha estada, em caminhar pelas ruas e encontrar as coisas. E é bastante comum eu ser apresentada a uma pessoa e sentir que aquele rosto me é familiar. Antes eu ficava assustada, hoje acho interessante”, revela.
Já a estudante Vanessa Lacerda teve a sensação uma só vez, mas a sentiu muito forte. “Foi em uma reunião na casa de uma nova amiga. Parecia que eu já conhecia tudo na casa dela, que eu tinha ido àquela reunião antes. Eu nunca tinha entrado lá, mas tinha absoluta certeza de que, em um dos quartos, eu ia encontrar um piano. E foi isso mesmo que aconteceu. O pior é que não me lembro, de maneira alguma de alguém ter me falado que havia um piano ali. Eu simplesmente sabia”, diz ela.
Se existe um culpado por momentos como esses, é o nosso cérebro. Sim, esse complexo órgão pode ser considerado o grande responsável pelas chamadas “sensações de familiaridade” causadas pelo dèja vu. Quer saber como? Pois bem, é no córtex que as coisas realmente se desenrolam: ele tem cerca de trinta áreas de processamento visual, regiões de substância cinzenta, do tamanho de uma unha, que analisam tudo o que os olhos vêem. E lá nos fundos dos hemisférios cerebrais há o hipocampo, que funciona como uma espécie de banco de dados de memórias visuais, auditivas, sentimentais, gustativas ou olfativas. “Ele retém memórias específicas, capturando determinadas imagens ou estados sensoriais. Depois, usa essas informações para reconstruir, horas ou até vários anos depois, um momento vivido. Qualquer informação que retemos passa por um complexo e segmentado processo. Tudo é arquivado de forma muito inteligente e eficiente pelo nosso cérebro”, explica a terapeuta em neurolingüística Marcelle Belluzzo Vecchi.
A especialista explica que nossa maquinaria mental é bem esperta e sabe tudo o que acontece ao nosso redor. Só que, antes de a consciência ser atingida, a maior parte do que vimos é jogada fora, por ser considerada sem importância. Então, muitas coisas que presenciamos durante toda a vida – e que, na época, não mereceram a devida atenção – são guardadinhas nas gavetas do hipocampo. De repente, se passamos por alguma situação que coincida de alguma forma com aquilo que vimos no passado, acontece o dèja vu. “Nosso consciente representa apenas 5% das informações globais que possuímos”, observa Marcelle. Ou seja: o resto está todinho escondido no inconsciente, pronto para aparecer em determinadas situações!
Ah, mas também existem outras manifestações de dèja vu, causadas por esse mecanismo do cérebro. Elas ocorrem quando a gente quase arranca os cabelos em busca da solução para algum problema e não encontra resposta alguma. Sabe quando a gente está doida para achar uma coisa no meio da bagunça do quarto e não consegue descobrir de jeito nenhum onde ela foi parar? Pois é. Aí você vai dormir e, de madrugada, acorda e tem um “estalo”, lembrando imediatamente onde fora parar o objeto. “Durante o sono nossa teia de acesso ao inconsciente se alarga, ficando mais fácil mandar as mensagens ao nosso consciente. Isso acontece, também, quando uma pessoa desiste de pensar em algo e se desliga do problema, indo tomar um banho, por exemplo. Nesse momento de relaxamento, encontram a solução”, aponta Marcelle Vecchi.
Tá, mas tem gente que não atribui a sensação de familiaridade apenas a uma explicação científica. É o caso de pessoas ligadas a crenças espiritualistas, que acreditam em reencarnação e vêem os episódios de dèja vu como “flashes” de lembranças de vidas passadas. Neste caso, eles seriam reflexos da nossa memória espiritual, que traz à tona recordações de vidas em outros lugares e classes sociais. Essa visão é a que mais atrai a jornalista Fabíola. “Acredito muito em vidas passadas, então não tenho dúvidas de que muitas coisas que reconheço por aqui podem ter feito parte de alguma existência anterior. É excitante pensar nisso”, afirma.
É, cada um interpreta o dèja vu de acordo com suas crenças, mas há de convir que, apesar de explicações científicas e espirituais, é realmente emocionante parar para pensar de onde vem esse misterioso sentimento.